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HIP HOP, PRECONCEITO E IDENTIDADE
Vi um documentário muito interessante sobre hip hop ano passado. Foi num auditório da universidade, e infelizmente depois não houve espaco pra trocar impressoes. Outra infelicidade é que não anotei o nome deste documentário independente, de distribuição pra lá de limitada, então não posso compartilhar o título com você. Bom, sei quase nada sobre hip hop, mas ando acompanhando as críticas feitas à linguagem usada nesse tipo de música. Boa parte da comunidade negra daqui quer banir termos ofensivos como “nigger” e “bitch” – termos usados abundantemente por rappers, e também pela maioria da juventude negra. Claro que é diferente um negro chamar seu amigo de “nigger” (que é um palavrão hiper ofensivo, que eu nem deveria estar escrevendo) de um branco tratar um negro com esse termo. Assim como uma mulher se dirigir a sua amiga como “ei, sua vadia!” é diferente dos “vadias e vacas” usados por homens que odeiam mulheres. Existe até uma publicação feminista (branca) chamada Bitch. E os gays pegaram um termo ofensivo como “queer” e o transformaram numa expressão de orgulho usada academicamente (queer theory etc). Mas talvez, se uma mulher negra não aprove que um homem branco a chame de “bitch” ou “the n-word”, ela tampouco deveria divulgar esses termos. O documentário discute conceitos de masculinidade. Parece que 70% dos consumidores de hip hop nos EUA são homens brancos. Posso entender por que homens são atraídos para uma música que fala tanto de violência, confronto e poder. E imagino que rappers negros gostem que homens brancos paguem por sua música, ainda que eles jamais serão considerados parte do mesmo grupo. É tudo uma questão de se enturmar. Como aqui nos EUA a segregação é imensa, claro que jovens negros encontram uma identidade em comum. Os pais desses jovens, suponho, ja não seriam aceitos na mesma comunidade. Nem as mulheres. Se bem que há várias bundas e peitos nos videoclips. Mulheres são tratadas como objetos, mercadorias. Um clip mostra um rapper passando um cartão de crédito entre as nádegas de uma moça. Taí algo que tem muito a ver com o Brasil, né? É de se pensar por que tantas mulheres topam ser cidadãs de terceira classe nessa comunidade. Tem o dinheiro, mas será só isso? No fundo, é também uma construção social. Assim como os meninos são ensinados que homem não chora, que armas são objetos de desejo, e que a pior coisa que você pode ser no universo é ser gay, as meninas são avaliadas apenas pela sua beleza exterior. Desde a infância se espera que uma menina seja bonita. O sucesso que a menina vai conseguir dependerá dessa avaliação. Então imagino que elas aceitem ser objetos sexuais porque podem. É também uma maneira de se enturmar. Elas seguem um roteiro que foi programado pra elas desde o nascimento. Parecido com nossas dançarinas do Tchan, mas essas pelo menos não são chamadas de vadias. Já outras são chamadas de cadelas, e gostam. Tem algo errado nesse mundo. Aqui apenas 12% da população é negra, mas entre os presidiários, 50% são negros. Armas de fogo são a principal causa de morte entre jovens negros (como no Brasil). E uma mulher negra corre risco muito maior de ser violentada ou espancada que uma mulher branca. Portanto, promover uma cultura (o hip hop) que glorifica as armas de fogo e promove a violência contra mulheres e gays não parece algo inteligente pra sobrevivência da própria comunidade. Pessoalmente sou contra qualquer tipo de censura. E não consigo compreender como um grupo historicamente discriminado como os negros passe a discriminar outras minorias pra fortalecer sua própria identidade. As minorias deveriam se unir contra os preconceitos, nunca fortalecê-los. Não parece lógico?
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