"DEIXEI MINHA VIRGINDADE EM BERLIM"
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"DEIXEI MINHA VIRGINDADE EM BERLIM"


Perdi minha virgindade, mas ainda tenho a caixa em que ela veio 

A T. me enviou este relato.

Sei que vc é muito ocupada e não sei se terá tempo de ler este e-mail, mas mesmo assim resolvi mandá-lo, pois preciso desabafar com alguém. É sobre como deixei a virgindade com um estranho (digo "deixei" pois não gosto muito do termo "perder"). Enfim.
Tenho 19 anos. No momento estou fazendo um intercâmbio na Alemanha. 
Mês passado eu estava em Berlim e em meu penúltimo dia lá resolvi sair com uns amigos.
Eu e mais dois amigos, homens pelo menos dez anos mais velhos que eu, fomos a um bar, bebemos algumas cervejas e resolvemos ir a um outro bar. Nesse outro conhecemos alguns alemães, dessa vez acho que uns cinco anos mais velhos que eu. Me diverti bastante. Um desses alemães chegou junto, e começamos a nos beijar. Nisso, meus dois amigos foram embora e me deixaram com ele apenas. Então fiquei sem ter como voltar pra casa, pois não sabia direito os horários do metrô. Ele perguntou se eu queria ir pra casa dele.
Fomos pra casa dele, não me lembro direito como tudo aconteceu, eu tinha bebido bastante, e eu estava a fim. Mas lembro que ele foi super gentil comigo, sempre me perguntando se eu estava confortável, se estava tudo bem. Eu não falei que era minha primeira vez, não sei se ele percebeu... Não precisei falar nada em relação à camisinha, ele logo arrumou uma. Doeu um pouco. Não me senti culpada por ter tido minha primeira vez com um estranho, alguém que provavelmente nunca mais verei. Passei o resto da noite na casa dele, e pela manhã nos despedimos. 
Eu não era assim tão apegada ao meu hímen, sentia que já estava na hora. No momento foi bom. O cara era experiente, me passou segurança. 
Apesar de ele ter usado camisinha, fiquei quase louca em relação à gravidez. Não tomo pílula, na verdade nunca fui ao ginecologista. Não me sinto muito confortável falando disso com minha mãe, pois temos uma relação meio complicada. Mas quando voltar ao Brasil, procurarei um. Uma semana depois veio minha menstruação, alguns dias antes do ciclo normal. Nunca antes fiquei tão feliz com meu período. 
E agora sinto que não há ninguém com quem eu possa compartilhar minha experiência. Sinto que todos irão me julgar. Ainda existe todo esse negócio de que tem que ser com alguém especial, alguém com quem você tem um relacionamento. Ainda há todo esse simbolismo envolvendo a virgindade, ainda mais de uma garota. Isso me incomoda demais. Pra minha mãe não há como contar. Não sou uma pessoa de muitos amigos, grande parte dos que tenho são homens. Há uma amiga para quem eu poderia contar, mas ultimamente não temos nos falado muito.
E no Brasil tenho um "pseudo-relacionamento", e não sei se devo ou não contar pro cara. Pseudo pois não sei direito como chamar o tal relacionamento. Já tem alguns anos, gosto dele, ele gosta de mim, conversamos sobre um futuro juntos, e nesses anos de convivência apenas nos encontramos em três ocasiões. Entretanto, conversando com ele nos últimos dias, parece-me que a coisa vai engatar em algo mais sério. 
Então Lola, agora faz um mês que aconteceu e eu precisava mesmo contar pra alguém. Queria agradecê-la pelo seu blog. Leio-o há uns dois anos, quando conheci o feminismo, e me ajudou bastante a entender e a crescer como pessoa.  

Minha resposta: Fico feliz que vc "desabafou" comigo, que sua primeira vez foi boa, que vc vai procurar um ginecologista assim que voltar pro Brasil.
E ninguém tem nada que te julgar mesmo! O corpo é seu, vc esperou até achar que estava pronta, vc ficou a fim de um cara, ele ficou a fim de vc, vocês transaram, foram responsáveis, usaram camisinha. Certo, foi a primeira vez, e existe todo esse simbolismo em torno da primeira vez -- só pra meninas! Pros meninos, eles já crescem aprendendo a dizer que não lembram quando nem com quem foi, já que foram tantas...
A única coisa que eu acho que vc deve pensar é sobre esse seu "pseudo-relacionamento". Apesar de vcs só terem se encontrado três vezes, pelo jeito você não cogitou ter sua primeira vez com ele. Creio que a reação dele, se vc contar, não será das melhores. Tem certeza que quer esse relacionamento?
Se tem uma coisa que realmente mudou da minha adolescência nos anos 80 pra cá é a queda do tabu da virgindade. Na minha época ainda havia muita pressão pra casar virgem. Hoje só pessoas muito conservadoras e/ou religiosas dão tanta importância a um hímen. Pra mim é uma regra boa: se um cara invocar com a sua experiência sexual, com o número de parceiros que vc teve, este não é um cara pra ficar, muito menos pra namorar. É um jeito fácil de reconhecer -- e despachar rapidinho -- um machista.
Não estou falando desse seu "pseudo-relacionamento", que pode vir a fazer a pergunta "Mas por que não eu?", tadinho. Tô falando de todos os homens que vc tiver daqui pra frente. Se já é um bom sinal de alerta não se relacionar com cara ciumento e possessivo, o que dizer de cara que tem ciúmes do seu passado? Pior é que tem muito homem que tem ciúme retroativo, que acha que a mulher deveria ter uma bola de cristal pra ter se "guardado" (olha que termo ridículo) pra quando o bambambam aparecesse.
Quero muito acreditar que hoje esses sujeitos que ainda exigem virgindade sejam a minoria. E que a maior parte dos rapazes quer mais é aproveitar uma maior liberdade sexual. 
Parabéns pela sua primeira vez, T. E é muito chique ter a primeira vez num outro país!




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