JOVENS, GUARDEM DINHEIRO
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JOVENS, GUARDEM DINHEIRO


Gosto muito de um exemplo que o Mauro Halfeld dá em seu livro Investimentos: Como Administrar Melhor seu Dinheiro. Ele fala de duas irmãs de 25 anos, Marcia e Patricia, que trabalham na mesma empresa. Ambas planejam se aposentar aos 60 anos, ou seja, dentro de 35 anos. Márcia vai começar a poupar agora, já: 2 mil por ano durante dez anos, dos 25 anos 35. Depois vai deixar o dinheiro aplicado, a uma rentabilidade de 8% ao ano, e só vai mexer nele quando se aposentar. Em outras palavras, Márcia poupará 20 mil reais (dez vezes dois mil por ano), e, aos 60, terá R$ 198.422,00.
Já Patricia está com muitas despesas no momento: compra da casa própria, carro, viagens, casamento, filhos... Ela vai começar a poupar apenas daqui a dez anos, quando estiver com 35. E aí aplicará 2 mil reais todo ano, durante 25 anos, até se aposentar aos 60. Ela guardará mais dinheiro que sua irmã, 50 mil (dois mil por ano durante 25 anos). Sabe quanto ela terá aos 60? R$ 146.212,00.
Marcia terá mais dinheiro que sua irmã, mesmo tendo poupado muito menos e por menos tempo. Isso por causa dos juros compostos, que não são difíceis de entender. Se a gente tem mil reais e consegue um rendimento de 10% ao ano (o que está cada vez mais duro de conseguir), no final de um ano terá 1,100. Mas, no ano seguinte, os 10% serão em cima dos juros também, ou seja, 1,210. A longo prazo, juros sobre juros significam um dinheirão. Juros compostos são um pesadelo quando a gente tem uma dívida (logo, não façam dívidas. Nunca, de jeito nenhum. Eu nunca tive uma dívida na vida. Só compro se tenho dinheiro pra pagar à vista. Se não tenho, guardo antes, depois compro), mas ótimos quando guardamos dinheiro. E quanto antes você começar a guardar dinheiro, menos precisará guardar.
Sei que esse discurso raramente funciona com os jovens. Afinal, no começo da nossa vida profissional a gente ganha mal, tá cheia de despesas (comprar casa própria, carro, viagens, casar, ter filhos), e nem gosta de pensar em como estará vivendo daqui a trinta anos. Além do mais, os jovens sabem que todo mundo morre um dia, mas não acham que isso vai acontecer com eles. E não confiam em guardar dinheiro. Primeiro é o medo que o governo dê calote (ué, vocês estavam vivos pra lembrar do confisco da poupança do Collor?), ou que o banco quebre. Dificilmente algo como o confisco vai acontecer novamente por aqui, não sem uma guerra civil. E os bancos vêm sendo protegidos pelo sistema. O risco é baixo. Ok, então é o medo de fazer tanto sacrifício, não gastar dinheiro, e tudo se acabar na terça-feira, quer dizer, e vocês não viverem o bastante pra chegar à aposentadoria. Claro, pode acontecer. Mas digamos que, estatisticamente, as maiores chances são, sim, que você viva até os 80, 100 anos. E há chances reais da previdência falir (ela é frágil em todo o mundo), das regras se modificarem, e de você não poder depender dela na aposentadoria.
Na última década, a classe média tem apostado bastante na aposentadoria privada. Paga-se um pouquinho por mês pra ter uma renda vitalícia após uma certa idade. Eu tentei isso quando tinha trinta anos, e não funcionou. Minha intenção era aplicar bem pouquinho, cem reais por mês, e foi o que comecei a fazer. Só que, se você quiser que a quantia seja reversível pro seu cônjuge, tem que se contentar com muuuuito menos. E fica uma coisa meio ridícula: se você morrer um dia antes de começar a receber a sua aposentadoria privada, o dinheiro vai todo pro cônjuge. Mas, se você morrer um dia depois de começar a receber, o banco fica com tudo. E o meu banco, Real, fez confusão, cobrou meus cem reais duas vezes e tal. E o maridão disse pra mim: “Se eles já estão fazendo coisa errada agora, imagine daqui a trinta anos”. Então a gente desisitiu, e passou a aplicar esses cem reais diretamente numa conta nossa no banco. Aposentadoria privada parece ser pra quem não tem disciplina, pra quem precisa ser cobrado.
Uma das regras mais básicas de todos os livros de finanças pessoais, tanto os nacionais quanto os internacionais, é o “pay yourself first”, “pague-se primeiro”. Ou seja, separe uma quantia todo mês do seu salário e a aplique. Assim você talvez fique livre das tentações de gastar esse dinheiro. Mas, pra saber quanto pode poupar, tem que saber quanto ganha e, principalmente, quanto gasta. Recomenda-se guardar no mínimo 10% todo mês.
10% não é o fim do mundo. Ninguém está falando em sacrifícios extremos, em parar de viver, em não poder curtir a vida. Basta se organizar. Mas não use esses 10% pra outras atividades. Se você quer viajar, planeje. Abra uma aplicação só pra esse propósito. E tenha um fundo de emergência, algo que vai suprir os gastos mensais se você perder o emprego (os especialistas indicam um fundo que dê pra você se virar por seis meses).
Uma coisa é simples: você precisa saber quanto gasta. Não dá pra economizar sem saber. Há autores que sugerem fazer tabelas com as despesas obrigatórias fixas (as que não mudam a cada mês e nem dá pra escapar, por exemplo, aluguel, iptu), as obrigatórias variáveis (você tem que consumir, mas o valor muda, como alimentação, telefone), as não-obrigatórias fixas (você pode viver sem, mas, se tiver, o valor é mais ou menos fixo, como TV a cabo, plano de saúde), e as não-obrigatórias variáveis (celular, viagens, cinema). Acho que isso é desnecessário e tende a afugentar quem tá começando a anotar. Só anote, ué. Mas anote tudo. Comprou um picolé? Chegue em casa e ponha lá no caderno, em lanchinho ou algo assim, o valor. Some no final do mês pra souber quanto gastou em picolé, em cafezinho, em sapatos. Porque uma coisa é torrar 80 reais por mês em chocolate conscientemente, como fiz numa época; outra é não saber que está gastando tanto com chocolate.
O esforço compensa, eu juro! Dá uma certa liberdade gastar um pouquinho menos todo mês para, em troca, nunca entrar no vermelho ou não perder o sono com contas pra pagar ou mês no fim do salário.
E, por mais que eu não aprove o tom reaça do José Pio Martins em Educação Financeira ao Alcance de Todos, numa coisa tenho que concordar com ele: devia haver aulas de educação financeira nas escolas. Pros pais é tabu falar de dinheiro, e dessa forma a pessoa no futuro nunca aprende a anotar gastos, gastar menos do que ganha, entender o sistema bancário, poupar e aplicar. Pelo contrário: aprende apenas a consumir. Opa, talvez seja essa a intenção? Pense bem: manter você escravo do sistema interessa a quem?




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