QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?
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QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?


Ser rico ou ser financeiramente independente? A maior parte das pessoas sonha em enriquecer. Como, hoje em dia, isso só é possível ganhando na loteria, apostam todas as suas fichas na sorte. Já falei que, pelas probabilidades, há mais chances de um avião cair em cima da nossa casa (mesmo que não seja rota de aviões!) que de ganhar na loteria? Pois é. Ficamos perseguindo um sonho que nunca se concretizará, igual a tantas mulheres que passam a vida fazendo dieta pra ter um corpo como o das top models - mesmo que não tenha nada a ver com o seu biotipo.
Mas ser fincanceiramente independente é possível. Na realidade não é só possível, é também necessário, porque a gente se aposenta um dia. Ou não. Talvez a gente não queira se aposentar, mas nos aposentam de qualquer forma. Tem uma estatística que eu li faz muito tempo, mas parece que os valores não mudaram. Pra você ser rico e viver sem trabalhar pro resto da sua vida, em qualquer lugar do mundo, você precisaria ter 2 milhões de dólares guardados. Isso é muito dinheiro, lógico. Uma fortuna. Tanto que um americano médio não ganha isso de salário em toda a sua vida (note que eu escrevi “americano”. Sabe, o povo mais rico do mundo? Não vou nem falar de brasileiros). Mas não é uma quantia infinita como os bilhões do Bill Gates. É uma soma que dá pra contar. Eu sempre me lembro de um diálogo divertido entre dois cowboys no clássico Era uma Vez no Oeste. Eles começam a fazer os cálculos, bem por cima, de quanto uma estação de trem vai ganhar agora que uma locomotiva resolveu passar por aquelas bandas. É algo tão fora da realidade deles que o Jason Robards diz: “Milhares de milhares de dólares!”. Ao que o Charles Bronson o ajuda: “They call them millions” (“Chamam isso de milhões”). Adoro esse diálogo porque, na nossa vida de classe média, é quase certo que nunca veremos um milhão. Deveria ser tanto dinheiro que foge a nossa vã filosofia. No entanto, a gente sonha em ganhar 30 milhões na Megasena (como se um milhão já não bastasse pra resolver a nossa vida financeira pra sempre), e nem vê nada de imoral no fato de haver cerca de mil bilionários no mundo, e que esse grupinho tenha mais dinheiro que toda a população de centenas de países juntos. Quando eu falo em limite de riqueza e aumento de impostos para os mais ricos as pessoas me olham como se eu fosse uma comuna que deveria ter sido enterrada junto com os escombros do muro de Berlim. Que a gente não se choque mais com a fortuna dos bilionários é sinal que o capitalismo venceu mesmo.
Mas, voltando. Ser financeiramente independente é poder viver sem trabalhar, sem se preocupar com as contas que virão, podendo trabalhar se quiser, não se precisar (prazer vs. necessidade). E, como o nosso salário não vai nos levar até esse Éden, só tem um jeito: gastar menos. Se eu precisasse de 4 mil reais por mês pra viver, bom, eu teria sérios problemas, pois nunca ganhei nem perto disso. Mas descobri que posso viver, neste momento da minha vida, com até 1,500 reais por mês, entre eu e o maridão. Digamos assim, gastando 17 mil por ano pra despesas (em Fortaleza nossas despesas serão mais altas, não tem jeito: lá, talvez precisaremos de 24 mil por ano). Como descobri isso? Anotando tudinho que a gente gasta, mês a mês, e tirando a média. Não tem outro jeito, ué.
Eu já usei tabelas do Excel pra anotar. Mas prefiro um bom e velho caderno. Eu compro um caderno com umas cem, duzentas folhas, e coloco o calendário pra um ano, como se fosse uma agenda. Dedico duas páginas pra cada mês: uma pras despesas, outra pras entradas. Nas despesas, primeiro escrevo os gastos fixos de todo mês, como as contas de luz, água, telefone, internet e carnê do INSS (não faça mestrado e doutorado sem continuar contribuindo, ou pode esquecer a aposentadoria do governo). O que a gente mais gasta, disparado, é em comida. Dá uns 400 por mês. Isso inclui tudo que a gente come em casa (supermercado, padaria, açougue, verdureira). Mas eu prefiro anotar separado o que chamo de “comida fora”. Isso depende do mês, mas dá uns 120, e é uma das nossas extravagâncias. Toda sexta a gente costuma ir ao cinema. Não paga o cinema, mas sempre come alguma coisa, um calzone, umas esfihas, uns pastéis. E de vez em quando a gente sai pra ir a um restaurante caro (pros nossos padrões), que rende uma conta de 50 reais, e que eu tô achando um desperdício, porque tem um buffet perto de casa que cobra 7,50 por pessoa, e a comida é ótima. E um outro com comida a quilo por 20 reais, também muito bom. Eu me sinto um pouquinho culpada gastando 50 num só jantar se por esse valor dá pra gente comer fora três vezes.
Antes de ir pra Detroit, eu só anotava os meus gastos, e implorava pro maridão anotar os dele. Não funcionava, porque ele nunca me obedece. Então passei a anotar no meu caderninho pelo menos a fatura de cartão de crédito que ele pagava. E quanto ele ganhava. A partir de Detroit, passei a anotar pros dois mesmo. Não tem segredo: quem não anota tem, no máximo, uma vaga ideia de quanto gasta. E, sem saber quanto se gasta, sempre vai se gastar mais. Não dá pra guardar dinheiro.
O lado bom é que descobri também que ganhar o que preciso pra viver não é a coisa mais difícil do mundo. Exige bem pouco trabalho. Acho que com umas quinze horas por semana dá. Porque de quê adianta ganhar bem se não sobra tempo pra aproveitar a vida e fazer o que a gente gosta? Se você gosta do seu trabalho, parabéns. Não é problema pra você trabalhar 10, 14 horas por dia (dizem que é isso que tanto a Dilma quanto o Serra trabalham, e eu acredito). Mas a maior parte das pessoas não gosta do trabalho, e ainda assim trabalha mais do que gostaria. Não sobra tempo pra nada. É o “all work and no play makes Jack a dull boy” (“muito trabalho e pouca diversão fazem de Jack um bobão”), sabe? Aquilo que o personagem maluquete do Jack Nicholson escreve em Iluminado. E dá no que dá.

P.S.1: Há dez milhões de milionários no planeta. Ou seja, gente que tem no mínimo um milhão de dólares em ativos financeiros. Essa gente possui, junta, 40 milhares de bilhões de dólares. Opa, they call them trilhões. E quanto você quer apostar que a maior parte desses milionários se considera classe média e paga menos impostos que você?
P.S.2: A revista Business Management pergunta quanto tempo você teria que trabalhar pra ganhar o mesmo que um presidente de empresa ganha em um ano. Por exemplo, o presidente da Wal-Mart recebe 8,371,057 num ano. Um empregado que recebe salário mínimo (nos EUA, 15 mil dólares por ano) teria que trabalhar durante 555 anos pra acumular esse valor. Um empregado de salário médio (40 mil dólares por ano) teria que trabalhar 205 anos. Em compensação, o presidente dos EUA, que recebe 400 mil por ano, teria que trabalhar apenas 20 anos.
P.S.3: O que mais me espanta é que quando alguém fala em desigualdade social e péssima distribuição de renda e sugere aumentar o imposto dos ricos, as pessoas de classe média ficam revoltadas, como se fosse com elas. Tenho
uma má notícia pra você: você não vai viver 205 anos, baby. Logo, não precisa defender o presidente da Wal-Mart.




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