Jovens e indignados
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Jovens e indignados



Rodrigo Constantino, para a revista VOTO

"Um dos tristes sinais de nosso tempo é que nós temos demonizado quem produz, subsidiado aqueles que se recusam a produzir, e canonizado aqueles que se queixam." (Thomas Sowell)

Movimentos de protesto têm se espalhado por vários países. Nos Estados Unidos, o “Tea Party” cresceu de forma impressionante, e agora surgiu o “Ocupar Wall Street”, com viés de esquerda. Na Europa, várias passeatas têm ocorrido nos países em crise, sendo as mais violentas na Espanha e agora na Grécia. As inspirações são diferentes em cada caso, mas, em comum, há uma enorme raiva canalizada contra o “sistema”. Eles falam em nome dos “excluídos”, contra os privilegiados. E pregam o radicalismo.

Muitas demandas e queixas dessa “massa de ressentidos” são legítimas, ainda que seja difícil separar o joio do trigo. Há uma mistura muito grande, e nem sempre coerente, em tais protestos. Sobra ataque ao capitalismo, à globalização, ao setor financeiro, aos governos, enfim, atira-se para muitos lados distintos, mas o diagnóstico não costuma ser preciso. Palavras de ordem e slogans substituem reflexões mais aprofundadas.

Uma crise desta magnitude atual sempre tem inúmeras causas. Devemos evitar a tentação do reducionismo, em busca de bodes expiatórios simples. Sem dúvida há a impressão digital dos governos em todas as cenas de crime. Mas até onde o governo não é um reflexo do povo? Wall Street e os grandes bancos também abusaram, e merecem duras críticas. Mas o abuso não deve tolher o uso, e atacar o sistema financeiro como um todo é estupidez ideológica. Os bancos centrais também erraram feio, e seu papel deve ser revisado. Mas não há panacéia aqui também.

Eis o que eu queria dizer: apesar de conter demandas legítimas e a raiva ser justificável, este clima crescente carrega sementes perigosas para a democracia. A revista britânica “The Economist”, que fez uma reportagem de capa sobre o fenômeno, trouxe importante alerta: As pessoas estão certas de estarem com raiva, mas também é certo estar preocupado com onde o populismo pode levar a política. Como dizia Nelson Rodrigues, “a multidão é inumana porque não tem cara”.

Literalmente. Basta ver a quantidade de gente mascarada nos protestos. A máscara do conspirador Guy Fawkes, que pretendia explodir o Parlamento inglês no começo do século 17, ganhou o mundo, popularizada pelo filme “V de Vingança”. Uma turba revoltada é sempre uma ameaça às liberdades. O ambiente fica fértil para “soluções mágicas”. Os oportunistas de plantão vestem o manto de salvador da pátria e oferecem milagres. Este é o maior risco que vejo nesses protestos.

Há um agravante: a quantidade de jovens nas passeatas. O jovem apresenta naturalmente uma tendência maior ao radicalismo e às crenças utópicas. Ele é contra a autoridade por natureza; precisa confrontar o “pai” para estabelecer sua identidade. E, convenhamos, o mundo moderno anda mal das pernas quando se trata de impor limites aos jovens. Pais culpados, que não sabem dizer “não” e tentam ser “coleguinhas” dos filhos, delegando a educação ao estado, este não é um quadro animador.

Mas há um fator mais prosaico que explica parte desta revolta atual: o imenso desemprego entre os jovens. Nos Estados Unidos são mais de 17% de desempregados abaixo de 25 anos. Na União Européia essa taxa fica na média de 20%, sendo que na Espanha chega a impressionantes 46%. Quando quase metade dos jovens procura, mas não encontra emprego, pode ter certeza de que o clima vai esquentar. E os pais destes jovens têm boa parcela de culpa nisso.

As gerações anteriores foram plantando as sementes deste caos atual. Como crianças mimadas, passaram a crer que o estado de abundância é o natural, e que basta exigir do governo seus “direitos” que tudo fica bem. O “welfare state” é a maior evidência de que Bastiat estava certo quando, já em 1850, afirmou que “o estado é a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos”.

Para os jovens, este modelo é especialmente cruel, pois cria inúmeras barreiras ao mercado de trabalho, visando à “proteção” dos trabalhadores (aqueles já empregados). Um salário mínimo, por exemplo, vai prejudicar justamente os jovens menos produtivos, que aceitariam ganhar salário menor nesta fase da vida, mas são impedidos pelo governo. O elevado desemprego dos jovens é apenas mais uma conseqüência não-intencional das bandeiras altruístas de esquerda.

Ninguém sabe como esta revolta toda vai acabar, nem tenho bola de cristal para tentar prever. Pode ser que em alguns casos ela leve a reformas decentes; pode ser que em outros casos leve ao despotismo, após uma fase mais anárquica. Ainda é cedo para dizer. Mas, o que podemos adiantar é que épocas que combinam elevada deterioração de valores morais com ampla crise econômica costumam ser explosivas.

Quando vejo milhões de jovens indignados tomando as ruas do mundo todo, confesso que tenho calafrios. Fecho com Nelson Rodrigues, uma vez mais: “Esse misterioso ‘jovem’, vago, difuso, impessoal, sem cara, sem caráter, só me convence como um monstro”.




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