Geral
Por um Tea Party Brasil
Rodrigo Constantino
Muitos me perguntam por que eu tenho atacado tanto as manifestações que tomaram conta das principais capitais, em vez de tentar aproveitar a insatisfação das pessoas para canalizar tais passeatas na direção da mensagem liberal. Esse artigo é minha tentativa de resposta.
Em primeiro lugar, fiquei desconfiado desde o começo com a coisa toda. Não vi espontaneidade ali, tampouco demandas razoáveis. O que vi, ao contrário, foram grupos de extrema esquerda liderando a farra violenta, e bandeiras ridículas, como o “passe livre” (quantas vezes teremos de repetir que não existe almoço – ou transporte – grátis?).
Mas entendo que a coisa ganhou vulto maior. Agora, trata-se de um protesto mais abrangente, contra “tudo que está aí”, contra a corrupção, o caos do transporte público, a derrota do seu time de futebol, o final da novela, o pé na bunda da namorada etc.
Brincadeiras à parte, claro que há inúmeros motivos para estar muito insatisfeito com os rumos desastrosos de nosso país sob o governo petista, e sou o primeiro a reconhecer e apontar isso. Logo, faria todo sentido, a princípio, tentar capturar esse clima de insatisfação geral em prol da mensagem liberal. Mas calma.
Liberais, por definição, não são agitadores das massas, tampouco endossam passeatas que transformam a vida do cidadão em caos, incluindo baderna, vandalismo e ataques à polícia. Unir-se a essa turba, que inclui, sem dúvida, muita gente séria e bem-intencionada, pode simplesmente manchar a imagem dos liberais. O tiro pode sair pela culatra.
Dar as mãos aos oportunistas da extrema esquerda, representada pelo PSOL e companhia, pode significar uma mistura abjeta que só prejudicaria o movimento liberal. E não vejo como se apropriar dessas manifestações sem essa parceria, ou pior, sem eles saírem como os grandes representantes do circo, até porque essa é a especialidade deles.
Por isso, basicamente, eu venho condenando essa tática perigosa de se aproveitar do clima de revolta e tentar incutir as bandeiras liberais ali, no meio da baderna toda. Essas manifestações nasceram com as impressões digitais dos esquerdistas, dos agitadores de multidões, com suas mensagens populistas. O DNA deles está lá. A coisa toda já começou torta. E agora temos artistas da esquerda caviar e até Zé Dirceu fazendo coro. Vamos nos juntar a essa gente?
Não! Liberais devem continuar sendo liberais em sua essência, sem cair na tentação de fazer um pacto com o diabo e instigar a adrenalina das massas, só porque o atual governo pode sair chamuscado disso. Esse clima de desordem não nos interessa. Nossa luta é dentro da legalidade, do estado de direito, no campo das ideias. Não somos como eles. Não atiçamos a faísca da revolução que pode se transformar em fogaréu desgovernado. Somos mais responsáveis que isso.
Sim, há cada vez mais gente descontente, vaiando a presidente. Isso é bom! Sinal de que, finalmente, a ficha pode estar caindo para alguns. Devemos aproveitar isso para explicar o que levou a esse cenário, e como revertê-lo. Devemos mostrar que a saída é o liberalismo, e não mais intervenção estatal. Mas devemos fazer isso de forma civilizada, sem sacrificar nossos valores mais caros em troca do tumulto momentâneo.
Essas manifestações têm toda cara de Occupy Wall Street. Os liberais devem rejeitar esse tipo de coisa. O que precisamos aqui é de um Tea Party, um movimento muito mais sério, com bandeiras legítimas e embasadas, com lideranças decentes e propostas concretas e robustas. A grande imprensa sempre demonizou o Tea Party e enalteceu o Occupy Wall Street. A grande imprensa, quase sempre com viés de esquerda, aprecia mensagens sensacionalistas que instigam as massas. Nós não desejamos isso.
Liberais de todo o Brasil, uni-vos! Mas não ao lado de baderneiros, não junto de gente que joga pedras em policiais ou quebra propriedade alheia. Não somos como o PSOL ou o PSTU, a UNE ou a CUT. Não somos massa de manobra de oportunistas de plantão. Não somos filhotes de Robespierre.
Nós somos melhores do que isso. Nós apelamos à razão de nossos leitores e ouvintes. Não nos interessa jogar lenha na fogueira dos vândalos e anarquistas. Vamos rechaçar qualquer movimento semelhante ao Occupy Wall Street. E vamos, com seriedade e paciência, plantar as sementes de um Tea Party brasileiro. Somente uma oposição responsável e organizada poderá derrotar o projeto de poder petista no local certo, que é a urna.
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