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Lente mais exata - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 18/01
Pela primeira vez na história, o Brasil tem um retrato do desemprego que se pode chamar de nacional. O dado divulgado ontem pelo IBGE é um termômetro do mercado de trabalho mais amplo, que inclui capitais, cidades médias e pequenas. A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2013 estava em 7,4% no Brasil, mas no Nordeste chegou a 10%.
Não, o desemprego não aumentou. Todo mundo tem na cabeça dados menores, mas era de uma medida muito limitada, com dados de apenas seis regiões metropolitanas. Em novembro, foi 4,6%. Agora é um esforço muito maior. Foram visitados 211.344 domicílios em 3.464 municípios. O coordenador de Emprego e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explica que no fim do ano a divulgação chegará ao detalhe da taxa de desemprego de cada estado e cada capital. Haverá também os dados de rendimento. O trabalho de preparação da entrada desta pesquisa foi exaustivo: o IBGE vem fazendo reuniões com a academia, o mercado, jornalistas, há muito tempo.
Quando se agrega o interior e as outras capitais menores, o que se vê é um desemprego maior, mas, como explicou o pesquisador do Ipea Sergei Soares, no GLOBO de ontem, só se pode comparar a Pnad Contínua com a Pnad Contínua. Perde-se a série histórica, mas ganha-se um retrato mais fiel e exato.
Em qualquer medida, o desemprego é desigual: o Sul do país tem uma taxa baixíssima, 4,3%; o Nordeste, a maior taxa, 10%. A tendência era captada também pela Pesquisa Mensal de Emprego, o Sul sempre teve a menor taxa, e o Nordeste, a maior. Mas se vê agora que a desigualdade é maior. E é pior ainda o desemprego de jovens. Chega a 15,4% no Brasil, mas com 9% no Sul e 19,8% no Nordeste.
O índice ficou maior ao incluir os dados do interior. Isso mostra menor dinamismo fora das grandes capitais. Havia a esperança de que estivesse havendo uma saída das empresas das congestionadas capitais para cidades menores. Há muito caso de relocalização de empresas e empregos, mas uma parte do interior e das capitais está com taxas mais altas de desemprego.
Um nível de 7,4% de desemprego é mais compatível com o crescimento do PIB de 2%. Mas o que se vê também é que, quando se compara o mesmo indicador, está havendo queda de desemprego no período pesquisado de 2012 e 2013.
A pesquisa inclui jovens a partir de 14 anos na população em idade de trabalhar. Parece estranho. A explicação dada pelo IBGE é que o trabalho é permitido, com limitações, aos 16 anos, mas existe uma permissão para ser aprendiz aos 14 anos. "A gente sabe que a maioria dos que trabalham nessa idade está em trabalho ilegal, mas tínhamos que incluir na pesquisa", diz Cimar. Considera-se ocupada a pessoa que fez um trabalho remunerado de pelo menos uma hora por semana. E desocupado é quem, nos últimos 30 dias antes da entrevista, procurou emprego e não conseguiu. No emprego doméstico, 69% não têm carteira assinada. E o Congresso fica enrolando a regulamentação da lei dos trabalhadores domésticos.
A população fora da força de trabalho pula de 28%, na faixa etária de 40 a 59 anos, para 77%, entre quem tem 60 anos ou mais. Porque quem trabalhava se aposentou. Hoje, as pessoas ficam muito mais tempo com capacidade produtiva, pela maior expectativa de vida e novo estilo de viver. Mas o Brasil é o país da aposentadoria precoce. Ontem mesmo a Petrobras anunciou um plano de demissão incentivada, para quem tem 55 anos ou mais. Quem sair terá incentivos financeiros, mas talvez a empresa perca pessoas que, nessa idade, têm capacidade e maturidade. A presidente Graça Foster, por exemplo, está no auge de sua vida profissional aos 60 anos.
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