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Lições de jogo de cintura para Dilma - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA
REVISTA ÉPOCA
De temperamento obstinado, a presidente Dilma Rousseff, por vezes, cede. Na semana passada, ela recuou da proposta de ampliar a duração do curso de medicina de seis para oito anos, para que o tempo adicional do estudante fosse dedicado a um estágio no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta foi anunciada, depois das rebeliões de junho, como uma solução para a carência de médicos em determinadas áreas do país. O governo diz agora que proporá uma residência obrigatória de dois anos no SUS, após a graduação. Com esse recuo, pouco sobrou das iniciativas anunciadas pelo governo como reação às manifestações. A ideia de um "processo constituinte exclusivo" para uma reforma política logo foi abortada, por ser inconstitucional. A proposta de um plebiscito, colocada no lugar, empacou na Câmara dos Deputados. No caso do recuo da residência no SUS, foram necessários críticas das universidades e protestos da classe médica, que chegaram às ruas.
Seria bom que tal flexibilidade se manifestasse também em outras áreas do governo. A presidente tem dificuldade em admitir erros. Na entrevista à Folha de S.Paulo em que confessou candidamente que "Lula não vai voltar porque ele não saiu", Dilma deixou claro que não pretende mudar a política econômica de seu governo - apesar de seu curso desastroso. Reafirmou a autoridade do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e descartou outras mudanças na equipe ministerial, defendidas até pelos aliados. Dilma parece estar convencida de que as turbulências políticas e econômicas se dissiparão no segundo semestre - assim como o coro no PT pela volta de Lula, que a constrangeu à declaração em que aviltou a própria autoridade. No Palácio do Planalto, calcula-se que a inflação perdeu fôlego e os investimentos deslancharão com os próximos leilões de blocos para a exploração de petróleo e de concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos.
É uma aposta arriscada. O fracasso na licitação de uma linha de metrô de São Paulo é um alerta de que os investidores estão ariscos. Os interessados nos leilões têm reclamado de que o modelo das concessões não garante bons rendimentos. As empresas investem quando têm confiança no futuro. Como lembrou o ex-ministro Delfim Netto, o voluntarismo do governo na administração das políticas monetária e fiscal e na fixação dos marcos regulatórios criaram incertezas que se avolumaram ainda mais com as intempéries políticas.
A queda nos índices de aprovação do governo aguçou as tensões entre os partidos aliados - em especial, o PMDB, que comanda a Câmara dos Deputados e o Senado e o Planalto. O ambiente no Congresso já foi descrito como "de tocaia". Com o fim do recesso, a previsão é que retaliações ao governo surjam na forma de derrubada de vetos presidenciais ou da aprovação do orçamento impositivo. Para tentar aplacar as insatisfações, o governo anunciou a liberação de R$ 6 bilhões para emendas parlamentares. Além de parecer uma tentativa de comprar votos no Congresso, o remédio é de eficácia duvidosa, porque Dilma continua a não mostrar nem gosto nem apetite para fazer política. Pelo prelúdio, agosto tende a confirmar a tradição de mês aziago para a política brasileira.
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