Lições mexicanas para a esquerda
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Lições mexicanas para a esquerda


Por Gonzalo Fernández Ortiz de Zárate, no sítio Opera Mundi:

É certo que cada processo eleitoral é diferente – dependendo da conjuntura, da história, da cultura democrática e da relevância geopolítica de cada país – mas de todos eles se podem extrair lições interessantes que, em sua justa medida, deveriam servir como aprendizado político global, sobretudo em um mundo como o atual, marcado pela interdependência.

Neste sentido, a esquerda não deve deixar de analisar as eleições celebradas no México no último domingo (1º), caracterizadas fundamentalmente por três questões: a vitória do Partido Revolucionário Institucional (PRI) e seu regresso à Presidência por meio de Peña Nieto; a nova derrota de López Obrador e a derrota do Partido da Revolução Democrática (PRD) em seu afã de constituir-se como a alternativa da direita; e a força durante toda a campanha – incluindo durante parte importante dos últimos seis anos – da sociedade civil organizada, que se mostrou como o verdadeiro motor da oposição e de construção de propostas.

Assim, e em função destas três características principais, também queremos destacar três ensinamentos que este processo eleitoral nos oferece: em primeiro lugar, as direitas definem estratégias cada vez mais unitárias e agressivas. A situação de crises generalizadas e a visibilidade crescentemente notória de rachaduras no sistema fazem com que as direitas busquem a unidade como premissa para se alcançar a vitória, utilizando para isso todos os meios a seu alcance. O produto Peña Nieto foi a aposta da direita nessas eleições, chegando ao ponto de que mesmo partidários e mandatários do partido governante (PAN, também de direita) tenham apoiado o candidato do PRI, por considerarem o único capaz de assegurar a vitória.

Também se utilizaram sistematicamente dos meios de comunicação hegemônicos (Televisa e TV Azteca) para construir uma imagem de mais puro marketing, sem fissuras nas mensagens enviadas à população; e para evitar surpresas como em 2006 (quando tiveram que recorrer a uma grande fraude eleitoral), tomou as medidas oportunas para adulterar o voto de múltiplas maneiras, como não deixou de denunciar a oposição. Em definitivo, esta é a direita que nós estamos nos deparando e aquela que nós vamos encontrar: unida, agressiva, nervosa, antidemocrática e golpista quando a ocasião merecer.

Em segundo lugar, a estratégia da esquerda partidária de plantar uma mensagem centrista, deslegitima-a como alternativa, uma vez que não a permite conquistar o governo. Assim, López Obrador e o PRD, em vez de definir uma verdadeira agenda de transformação para o México, têm dado um giro à direita, organizando-se com esta por meio de compromissos públicos com o empresariado e outros poderes reais, com a intenção de apresentar-se como alternativa responsável e crível, através de propostas ocas de conteúdo político como a revolução amorosa, eixo central da campanha. Se os giros à direita têm sido historicamente erros estratégicos, caminhos de ida mas não de volta, largos trânsitos por terras de ninguém (ou a direita confia ou a esquerda assume a transformação), hoje em dia, com as crises civilizatórias que nos atravessam, esses erros se convertem em afastamento permanente daqueles que estão abaixo e à esquerda.

Em terceiro lugar, tem sido a sociedade civil organizada a protagonista da confrontação com a direita, e não o PRD. As lutas indígenas, feministas, de professores e professoras, de campesinos e campesinas, se somaram durante a campanha às reivindicações estudantis, convertendo-se o movimento #YoSoy132 no verdadeiro protagonista da luta, em uma forte campanha contra o regresso do PRI ao governo, conseguindo romper até mesma a ditadura midiática dos meios de comunicação através das redes sociais.

O PRD tem tentado patrimonializar este e outros movimentos sociais, mas sem participar com eles ou assumir a diversidade de suas agendas. Avaliam que estes movimentos deveriam ser suas correias de transmissão em sua pretensão presidencial, em vez de entender que é precisamente o contrário, que são os partidos que devem entender as lógicas emancipatórias, a importância de se fazer crescer a contestação cidadã para além do processo eleitoral, e quanto estratégico é se articular com a diversidade, assumindo responsabilidade e compromissos explícitos na defesa de agendas realmente emancipadoras.

Em definitivo, nesta crise sistêmica que estamos vivendo, e ante uma direita que se agita como um gato de barriga pra cima, a análise da realidade mexicana nos ensina que somente a partir da articulação da diversidade, da compreensão e o respeito mútuo entre partidos e movimentos, e com o compromisso com agendas radicais, claras, alternativas, definidas ao longo do tempo, que visam a emancipação (o que não se consegue em curto prazo eleitoral) é que a esquerda poderá reverter esta situação de injustiça e desigualdade global.




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