Locutor da RBS merece uma cusparada?
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Locutor da RBS merece uma cusparada?


Por Altamiro Borges

Na semana passada, o locutor Alexandre Fetter convocou os ouvintes do seu programa na Rádio Atlântida, pertencente à sonegadora RBS (Rede Brasil Sul) – que também é dona do jornal Zero Hora, de emissoras de tevê afiadas da TV Globo e de outros empreendimentos empresariais –, a agredirem o ex-presidente Lula. “Ninguém cospe no Lula, velho? Que troço desesperador. Ninguém dá uma cuspida no Lula, um sujeito desses é digno de uma cusparada”, rosnou o puxa-saco dos patrões. Ameaçado de sofrer um processo, o valentão logo se acovardou – a exemplo dos playboys fascistas que agrediram Chico Buarque e do “terrorista chic” João Pedrosa – e divulgou uma nota marota se desculpando.

“O radialista Alexandre Fetter, apresentador do programa 'Pretinho Básico', da Rádio Atlântida, afirmou nesta sexta-feira (29) que o Grupo RBS possui um rígido código de ética e que todos os funcionários da empresa o seguem. Sendo assim, ‘jamais usariam os microfones do veículo para fazer frente ao código de ética do Grupo RBS’. O apresentador enfatizou que os comunicadores não incitam a violência e que ‘prezam a vida, a família e os bons costumes’’’, diz a nota irônica da sua assessoria. A desculpa, porém, não convenceu os internautas, que seguem afirmando que o locutor usa uma concessão pública de rádio para instigar o ódio e difundir opiniões direitistas e preconceituosas.

O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, foi um dos primeiros a reagir às bravatas fascistoides de Alexandre Fetter. Ele postou uma “carta à direção da RBS” com várias perguntas bem consistentes. “Qual seria a reação da mídia se agentes políticos passassem a defender agressões a jornalistas em razão da manipulação diária promovida pelos meios de comunicação no país, da seletividade de sua cobertura ou da diferença de posições políticas? Certamente, denunciaria um ataque à liberdade de expressão. E por que razão, então, consente com a incitação de ataques de seus profissionais a políticos? Pretende, ao fim, que alguns atores políticos sejam espancados ou retirados à força da cena política como na época da ditadura?”.

“Crimes ao microfone, como o cometido por esse locutor, respaldam, posteriormente, atitudes de violência na rua. Ao permitir que tais palavras sejam proferidas em um de seus programas de rádio, o Grupo RBS fomenta a ideia de que vivemos em uma sociedade que valoriza a violência, a opressão e a vingança... O que nos perguntamos, agora, é se: Essa é a opinião da RBS? A RBS concorda com incitação ao crime? A RBS concorda e defende que o ex-presidente Lula seja agredido? A RBS aceita ser corresponsabilizada por qualquer agressão a Lula? A RBS considera que o papel da imprensa é incitar ao crime e promover o discurso de ódio? A RBS pretende tomar alguma providência frente a esse episódio de incitação ao crime?”.

O interessante em mais esse triste episódio da radiodifusão nativa é conferir a postura do locutor que deseja cuspir no Lula. Em agosto do ano retrasado, a RBS demitiu sumariamente 130 profissionais – inclusive jornalistas prestes a se aposentarem. Eduardo Sirotsky Melzer, presidente do império gaúcho de comunicação na época, chegou a enviar uma carta às vítimas pedindo “desapego” com os seus empregos. Em seu cinismo, ele mesmo admitiu que “a RBS não passa por uma crise financeira. Ao contrário. Estamos investindo e redesenhando nossa operação, buscando velocidade e desprendimento que são vitais para a preservação do nosso projeto empresarial”. Qual foi a atitude do valentão Alexandre Fetter? Ele por acaso pediu, mesmo nos bastidores, para dar uma “cusparada no Duda” – como o patrão gosta de ser tratado pelos seus bajuladores? Há quem afirme que o puxa-saco inclusive tentou justificar as demissões dos seus colegas de empresa!

Já em meados do ano passado, os donos do Grupo RBS apareceram na lista da “Operação Zelotes”, que apurava fraudes bilionárias envolvendo fiscais da Receita Federal e poderosas empresas do sul do país. O Portal Imprensa chegou a postar em 8 de julho: “Polícia Federal deflagra nova etapa da Operação Zelotes; RBS é alvo da investigação”. O escândalo envolvendo a afiliada da Rede Globo logo foi abafado pela mídia – apesar de ter resultado num roubo de R$ 19 bilhões dos cofres públicos. Não há registro de que o programa “Pretinho Básico” tenha feito qualquer alusão à RBS e as outras poderosas empresas metidas no esquema fraudulento, como a Gerdau, a Ford e o Bradesco. Onde estava o “valentão”, com suas cusparadas e o seu senso de humor seletivo?

Diante destes e de outros fatos lamentáveis, quem realmente merece uma baita cusparada, no sentido figurado, é Alexandre Fetter. Para reforçar esta ideia, reproduzo abaixo o artigo de Kiko Nogueira, postado no imperdível blog “Diário do Centro do Mundo”:

*****

O radialista que mandou cuspir em Lula é um idiota banal – e esse é o problema!

O radialista Alexandre Fetter divulgou uma espécie de pedido de desculpas pelo absurdo que perpetrou na sexta, dia 29.

“Ninguém cospe no Lula, velho? Que troço desesperador, isso é desesperador. Ninguém dá uma cuspida no Lula? Um sujeito desses é digno de uma cusparada”, disse no ar.

Segundo Fetter, o Grupo RBS, dono da rádio Atlântida, que transmite seu programa, tem um “rígido código de ética” seguido por todos os funcionários. Ele e seus amigos não incitam a violência e “prezam a vida, a família e os bons costumes”. Então tá.

É um falso mea culpa provocado pela carta aberta do deputado Paulo Pimenta, que indagou se a empresa “concorda com incitação ao crime”. Fetter, como o desocupado que xingou Chico Buarque de ladrão, refugou por medo de um processo.

Quem acompanha a atração que ele comanda garante que não é a primeira vez que deblatera contra Lula, Dilma, o PT etc. Apenas desta vez foi mais longe. Por quê? Porque sabe que não dá em nada. Na próxima, se não tivesse sido flagrado, provavelmente sugeriria que alguém metesse uma bala na cabeça de alguém.

Alexandre Fetter é uma subcelebridade regional. Seu “Pretinho Básico” é um suposto sucesso no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Fora daqueles limites, ninguém sabe quem ele é. Soube-se agora.

O “PB”, como é chamado, é uma imitação do “Pânico”, em mais uma prova inconteste de que tudo o que é ruim sempre pode piorar. Fetter é o Emilio Surita, âncora do negócio. Quatro ou cinco apaniguados têm a função de concordar com o chefe.

A mulher dele, apresentadora da RBS, faz participações especiais. Aparentemente, eles são considerados um casal famoso e têm fãs preocupados com sua estabilidade emocional, se estão juntos ou separados e se cozinham juntos. Fazem o marketing da fofura para saciar os seguidores.

Os “pretinhos” fazem piadas, ofendem pessoas, riem uns dos outros, fazem mais piadas - e comentam “fatos do dia”, simulando gravidade diante de alguns temas. A tragédia da boate Kiss, por exemplo. Ou - tcharããã - corrupção.

Aos 48 anos, Fetter age e pensa como um adolescente de uma família disfuncional qualquer. Até chegar às cusparadas de Lula, naquele dia, percorreu o caminho clássico de todo revoltado on line.

“O brasileiro pensa em política infantilmente”, falou. “Não tem acesso à informação, não tem acesso à notícia. Pra imensa população brasileira não faz diferença a crise. E vão votar no PT de novo”.

Em resumo, Fetter é um idiota banal. E aí está o problema.

A atmosfera está tão envenenada que o idiota banal passa a achar normal mandar cuspir nos outros. O bocó se considera bem informado e reproduz o que ouve, lê e vê, apenas acrescentando um toque pessoal de violência.

Para o bocó é trivial instigar sua audiência no sentido de escarrar num sujeito que ele odeia pela simples razão de que o mandam odiar. Ele nem reflete.

Hannah Arendt pergunta se “podemos detectar uma das expressões do mal, qual seja, o mal banal, como fruto do não-exercício do pensar”. Parece ser o caso de Alexandre Fetter e seus cometas.

Ou é mais simples. O poeta pernambucano Ascenso Ferreira escreveu uma quadra que descreve bem o talento de Fetter. O nome é “Gaúcho”. Lá vai:

Riscando os cavalos!
Tinindo as esporas!
Través das coxilhas!
Sai de meus pagos em louca arrancada!
- Pra quê?
- Pra nada!


*****

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