LOLINHA VOLTA À FACULDADE
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LOLINHA VOLTA À FACULDADE


Fui à faculdade onde cursarei Letras pra ver quantas disciplinas do curso de Pedagogia foram aproveitadas. Nove. Até que não tá mal. Nesta faculdade (a distância, com uma aula presencial por semana), são seis módulos no total (suponho que módulo seja um jeito mais chique de dizer semestre). E vou entrar no módulo 4. Ficarei devendo nove matérias dos módulos anteriores, e essa parece ser a parte mais difícil: descobrir quando essas disciplinas acontecem, porque não é o tempo todo. Tem umas que só voltam a ser dadas em julho de 2010, sabe? Preciso ficar esperta e pentelhar a secretaria frequentemente. Por enquanto, irei à faculdade dois dias por semana, duas disciplinas. Se tudo der certo, em um ano e meio, dois no máximo, saio com um diploma em Letras.
Não sei por que eles não validaram uma disciplina, Informática Básica e Tecnologia na Educação, que eu fiz no curso de Pedagogia. Bom, pode ser por causa da segunda parte, isso da Tecnologia. E imagino que muita coisa deve ter mudado de 2000, quando cursei Informática, pra cá. É quase uma década. Mas eu me lembro de algumas coisinhas. Eu tinha acabado de mudar de faculdade. Deixei a Univille, onde havia cursado apenas um ano (e poucas disciplinas, porque várias dos meus dois anos de Propaganda da década de 80 foram aproveitadas), e fui para a Associação Catarinense de Ensino (ACE). Muito mais tarde, quando deu aquele escândalo por causa das minhas crônicas pro jornal sobre o estágio, correu o boato que eu havia sido expulsa da Univille. He he, grande besteira. O que ocorreu foi que analisei as duas faculdades e constatei que, indo pra ACE, eu economizaria um total de 4 mil reais (valores da época) e me formaria um semestre antes. Como só estava interessada no diploma, nem hesitei. E o nível das duas faculdades era idêntico. Não que fossem ruins, só que depende muito da vontade de cada aluna pra aprender. Como em qualquer curso.
Chegando na ACE, tive que ficar um semestre inteiro enrolando. Acho que precisava esperar que a minha turma me alcançasse (era um curso novo de manhã, e eu só podia cursar faculdade de manhã, porque trabalhava das 14 às 22). A secretaria determinou que eu faria apenas um curso naquele semestre. Eu ia pra faculdade uma vez por semana, beleza. Não consigo lembrar que curso era aquele nem se isso signifcasse salvar a minha vida. Filosofia? Metodologia? Sociologia? Não faço ideia. Só sei que fiz uns três meses. Por algum motivo esdrúxulo, tive que passar na secretaria, e lá alguém me perguntou por que eu tava fazendo aquele curso. Sabe quando você fica sem palavras? Acho que consegui responder, depois de um tempo: “Tô fazendo porque vocês mandaram”. E a secretária: “Era pra você estar cursando Informática”. O legal é que nessas horas ninguém assume a culpa. A secretária não dirá de jeito nenhum: “Opa, desculpe, me enganei e te mandei pro curso errado, foi mal aí”. Fica uma coisa no ar, como se o aluno decidisse fazer um curso por conta própria. Como se eu estivesse passeando pela faculdade e, ao passar por uma sala, ouvi algumas palavras fascinantes e entrei, pra fazer o curso. Eu me impressiono como o pessoal que faz bobeira não assume que fez bobeira.
Mas enfim, era hora de consertar o estrago. A secretária iria perguntar pra professora de Informática se eu podia entrar. Faltava menos de um mês pra terminar a disciplina. Acho que na aula seguinte já havia uma prova. Todas as minhas colegas lá cursando Informática há três meses. Eu fiquei bem temerosa, pensando, “Será que eu consigo passar num curso que não fiz?”. Até que cheguei à aula. A turma estava aprendendo a mexer com o Word. Caiu na prova, isso eu lembro: copy and paste. Copie esse pedaço de texto aqui lá embaixo. Agora deixe alinhado à direita. Ponha tal palavra em negrito. Agora essa em itálico. E a turma sofrendo e reclamando do alto nível de dificuldade. Eu não falei nada porque sou educada, mas não pude deixar de pensar: “O que a turma fez durante os três primeiros meses? Aprendeu a ligar o computador?”. Em cinco minutos eu tava ajudando colegas. E olha que não sou nenhuma expert. Quase me considero uma analfabeta virtual.
Espero que essa matéria de Informática na faculdade de Letras seja melhor. Descobri também que já tenho dois papers (a secretária chamou assim, não disse artigos) pra entregar pra semana que vem. Literatura Portuguesa. Vamos ver o que pede a apostila. E acho que tem algumas coisas que serão legais. Uma das matérias é Literatura Infantil. Eu nunca tive isso e não sei nada sobre o assunto, já que não tenho grande convivência com crianças. E Libras. Será que terei que aprender linguagem de sinais? Isso parece emocionante (sem ironia).
Mas uma coisa eu sei. Vou manter a cabeça baixa. Ninguém precisa saber que meu nome é Lola (será Dolores pros não-íntimos), que escrevo pro jornal, que tenho mestrado em Letras e que em junho serei doutora. Porque esse é o tipo de informação que só atrapalha, eu acho. Não vai me ajudar em nada. Só vai fazer o professor que tem Especialização em Letras (com sorte) olhar torto pra mim. Mas será que eu consigo varrer a minha vidinha pra baixo do tapete? Suspense...




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