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Lula, o informante - EDITORIAL O ESTADÃO
ESTADÃO - 27/12
Em depoimento à Polícia Federal (PF) no dia 16 passado, no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parecia falar de um outro governo, e não daquele cuja chefia ele exerceu ao longo de oito anos. Todas as suas respostas às autoridades, relativas a seu conhecimento do escândalo do petrolão, invariavelmente indicavam ignorância ou envolvimento apenas incidental. A responsabilidade, segundo ele, sempre foi dos outros ? a começar por seu ministro José Dirceu.
Como Lula prestou depoimento na condição de ?informante?, conforme consta no despacho do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, esperava-se que ele tivesse ao menos alguma contribuição a dar para o esclarecimento dos fatos. Em sua oitiva, no entanto, Lula, a exemplo do que já fizera no caso do mensalão, preferiu fazer os brasileiros de tolos, ao dizer que nunca soube de nada a respeito de desvios na Petrobrás quando era presidente. ?Esses fatos não eram também do conhecimento dos órgãos de fiscalização e controle, bem como da própria imprensa?, justificou-se Lula. Não consta que tenha corado. Com isso, Lula pretende convencer o País de que ele, como presidente da República, estava sendo enganado tanto quanto os cidadãos comuns, embora um dos principais beneficiados pelo assalto à Petrobrás tenha sido seu partido, o PT.
Mas a exibição pública da essência de seu caráter e o insulto à inteligência alheia não pararam por aí. Lula explicou à PF que ?cabia à Casa Civil receber as indicações partidárias? para preencher as diretorias da Petrobrás, que estão no centro do escândalo. O chefão petista lembrou que o ministro da Casa Civil na época era José Dirceu, a quem coube ?escolher a pessoa que seria nomeada?.
Lula disse que não participava, em nenhum momento, desse processo de nomeação ? ele apenas ?recebia os nomes dos diretores a partir de acordos políticos firmados?. Tais acordos eram feitos, declarou ele, ?pelo ministro da área, pelo coordenador político do governo e pelo partido interessado na nomeação?. Para Lula, não havia nada de errado nisso, pois ?em uma política de coalizões presume-se que haja distribuição de Ministérios e cargos importantes do governo para os partidos políticos que compõem a base de apoio?.
Somente quando tudo era resolvido entre todas as partes, disse o ex-presidente, é que o nome do escolhido lhe era submetido ? e Lula então resolvia se ?concordava ou não com o nome apresentado? conforme os ?critérios técnicos que credenciavam o indicado?. Ou seja, o ex-presidente quer mesmo fazer todo mundo acreditar que a Petrobrás foi assaltada por diretores nomeados exclusivamente por suas qualidades técnicas.
Além disso, a estratégia do ?informante? petista é, como sempre foi, desmoralizar as investigações. Ele sugeriu que os ex-diretores da Petrobrás que delataram o esquema não contaram a verdade, e sim somente aquilo que os investigadores queriam ouvir, em troca dos ?benefícios que a colaboração premiada dá ao delator?. Tudo isso faria parte de um maligno ?processo de criminalização do PT?, acusou Lula.
Mas o ex-presidente, mesmo sendo mestre na arte de dissimular, teve de admitir à polícia que de fato é amigo do pecuarista José Carlos Bumlai ? aquele que está preso e confessou ter participado de um esquema envolvendo um contrato da Petrobrás para abastecer os cofres do PT com R$ 12 milhões. Lula garantiu, porém, que ?jamais tratou com Bumlai sobre dinheiro ou valores? ? e isso, disse o petista, era ?algo merecedor de respeito?.
O depoimento de Lula é repleto de embustes dessa natureza. Em seus melhores momentos, o ex-presidente declarou que ?nunca tratou com qualquer liderança de qualquer partido sobre a indicação de algum nome para cargo na administração pública? e que o apoio dos partidos da coalizão governista era ?baseado na afinidade dos partidos com o programa de governo?. Depois disso, a Polícia Federal deve ter se convencido de que é impossível extrair de Lula alguma informação útil ou relevante, pois o chefão petista é simplesmente incapaz de dizer a verdade.
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