Lula vira alvo das marchas golpistas
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Lula vira alvo das marchas golpistas


Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

As primeiras cenas, ainda de manhã, provocam desânimo entre âncoras e repórteres da Globo. No intervalo do programa esportivo, perto de 10 horas da manhã, entra o link de Brasília: “são 500 pessoas na Esplanada dos Ministérios…”, diz o repórter. A imagem mostra um imenso vazio. Claro que logo começa um incrível atropelo de números: 2 mil, 5 mil, logo 25 mil pessoas. E segue a imagem do vazio.

De repente, na transmissão de Brasília, o áudio da Globo falha, a câmera treme, e do estúdio o apresentador tenta salvar a situação: chama agora imagens de Belém (PA), e ali parece haver mais gente. A Globo trabalha com takes fechados durante toda a manhã. Repete-se a tática de março: manifestações, mesmo esvaziadas, Brasil afora servem como “esquenta” para o ato em São Paulo na parte da tarde.

Mas nem os takes fechados são capazes de disfarçar que em Belo Horizonte, Maceió, Salvador e no Recife os protestos são pífios. No Rio, há mais gente na praia do que no asfalto de Copacabana – onde se repete o discurso de ódio e os apelos por intervenção militar.

Logo fica claro que a decisão da Globo de poupar Dilma e o governo, para evitar o desarranjo da economia, não significa recuo nos ataques a Lula e ao PT.

No Recife, o cinegrafista da Globo passeia pela manifestação, e encontra cartazes pedindo a prisão de Lula. O enquadramento muda rápido para um plano mais geral (o profissional deve ter achado que aquilo estava demais). Mas a câmera logo volta aos cartazes, agora em take bem fechado: Lula atrás das grades.

A impressão foi de que alguém deu a instrução, pelo “ponto”: foca no barbudo.

Logo depois, Alex Escobar (narrador esportivo medíocre) tenta “narrar” a manifestação de Belém. Ele lê para o telespectador uma faixa agressiva contra Lula e Dilma. E conclui: “um claro protesto contra a corrupção.”

Não, caro Alex: o protesto não é contra a corrupção. Mas contra o PT. Se fosse contra a corrupção, Aécio não teria se sentido tão à vontade para desfilar no também esvaziado ato de BH. E Cunha não teria sido poupado. Aliás, uma faixa aberta em BH chegava a afirmar (em lapso freudiano): “somos milhões de Cunhas”. Aí, tudo ficou mais claro.

Cunha poupado. E todo ódio centrado em outro personagem: Lula, Lula, Lula. Esse era o nome. Era isso que importava.

Se esse dia de manifestações mais fracas por todo o país teve um toque diferente foi o fato de Lula ter sido transformado em alvo central. Tanto nas ruas quanto nos comentários de quem estava no estúdio.

Outro exemplo: a equipe da Globo mostra manifestação de apoio ao ex-presidente, em frente ao Instituto Lula em São Paulo. Manifestantes gritam: “mexeu com Lula, mexeu comigo”. Cristiana Lobo, no estúdio, comenta: “é… mas a sociedade vai querer mexer sim com o Lula.”

Hum… Qual sociedade, Cristiana? Ela procura falar em nome da sociedade. Mas fala mesmo em nome dos patrões.

Nada, na Globo, se faz sem a decisão tomada nas reuniões do “comitê” (que reúne João Roberto Marinho e os dirigentes dos principais veículos da família: jornais, TV, rádio, internet). Cristiana Lobo se traiu no ar: a decisão é levar Lula para o canto do ringue. E depois, se possível, para a cadeia. Com ou sem provas. A decisão já está tomada. Isso está claro.

Este blogueiro passou no fim da tarde pela manifestação petista em frente ao Instituto Lula, e ouviu exatamente essa análise de duas pessoas próximas ao ex-presidente: “a Globo não vai aliviar para o Lula, vai partir pra cima. Temos informações claras sobre isso.”

Guerra de Imagens

Um boneco de Lula, com roupa de presidiário e marcado com o número 13, foi o principal “fato” do dia na guerra de imagens. A figura apareceu no esvaziado protesto de Brasília. E deve povoar as capas de jornais nesta segunda-feira.

O Lula “presidiário” cumpre a clara tarefa de dar fôlego à narrativa de que a prisão do ex-presidente é algo desejável e “natural”.

As manifestações do dia 16 tiveram mais uma vez cartazes absurdos, com pedido de golpe e intervenção militar. Em quase todo o país, o número de participantes foi muito inferior ao que se viu em março. Em São Paulo, também, menos gente foi às ruas; mas a queda não foi tão grande. E de toda forma mais de 100 mil pessoas estiveram na Paulista – segundo o “DataFolha”.

Este blogueiro passou por lá, conversou com muita gente, e pode dizer que a maioria absoluta era formada por anti-petistas raivosos. Gente que sempre detestou Lula e o PT, e agora se sente mais à vontade pra manifestar esse ódio. O povão que votou em Dilma, e está ressabiado com o governo, este não foi pra rua – de novo.

Aécio derrotado

As manifestações terminam também com um claro derrotado: Aécio Neves. Ele precisava de um “estouro da boiada” nas ruas, para pressionar Globo e grandes empresários a centrar fogo em Dilma, e “bombar” de novo o impeachment. Com menos gente na rua do que em março, o delírio golpista de Aécio fica inviabilizado.

Parece ganhar força no PSDB a ala mais moderada, que aposta em manter Dilma cambaleando no governo, ao mesmo tempo em que se sangra a figura pública de Lula – ara evitar sustos em 2018.

Ninguém deve se enganar: o tom da cobertura na Globo mostra que Lula agora é o alvo central.

As condições para uma eventual prisão do ex-presidente não estão dadas. Juridicamente, não há nada concreto contra ele. Mas o jogo começou.

A narrativa midiática

A essa altura, o que se procura é construir uma narrativa midiática que permita – ainda que com indícios absolutamente frágeis – submeter Lula a um constrangimento absoluto, sob a condução do juiz Sergio Moro na Lava-Jato.

Ninguém deve ter dúvidas: Moro vai tentar. Ninguém deve ter dúvidas: a operação já começou. E ninguém deve ter dúvidas: a operação de caça a Lula conta com apoio decidido dos principais meios de comunicação do país, especialmente a Globo.

Dilma ganhou tempo pra respirar (sobre isso, clique aqui para ler o texto de Renato Rovai). E Lula ganhou a certeza de que é o alvo da operação jurídico-midiática que tenta, já em 2015, antecipar o resultado e liquidar a fatura da eleição de 2018.




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