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O ensaio do golpe da prisão de Lula
Por Renato Rovai, em seu blog:Desde a reeleição da presidenta Dilma Rousseff ficou claro que a oposição não aceitaria aquela derrota de forma democrática. A repercussão nas redes sociais e nas ruas foi a pior possível. E o PSDB embarcou na tese de que havia acontecido fraude nas urnas eleitorais. Não foram poucos os que juraram ter digitado 45 e aparecido a foto de Dilma na tela.
Ao invés de assumir demarcando posições e buscar dialogar de forma honesta com o seu eleitorado, a presidenta Dilma tomou a pior decisão. Fez um governo pensando apenas em governabilidade congressual e que fosse de bom tom para o mercado. O discurso do ajuste fiscal passou a ser pedra de toque do seu primeiro ano.
A sua situação foi se fragilizando e a Lava Jato foi se consolidando no vácuo de um governo fraco com um discurso de corrupção.
E de repente a agenda da Lava Jato passou a ser a agenda do país. A operação ganhou as ruas, o Congresso, o mercado, a imprensa e o coração de boa parte dos brasileiros.
O governo foi se apequenando e a crença quase messiânica de que as coisas iriam se resolver parecia ser a grande aposta da presidenta. Dilma parecia governar com a cabeça de quem acha que as coisas iriam melhorar porque só podiam melhorar.
A Lava Jato aproveitou a inação e avançou sem parar.
Operação se torna anti governo e PT
A Lava Jato, que teve seu início prendendo doleiros, de repente passou a só focar em políticos do PT e a mirar em Lula.
Há algum tempo já estava claro que o juiz Sérgio Moro passava a se comportar muito mais como justiceiro do que como juiz. Suas declarações e ações denotavam um lado político. Moro tirava fotos com tucanos e ia a festas da Globo e da Abril para receber prêmios.Moro tirava fotos com tucanos e ia a festas da Globo e da Abril para receber prêmios
Moro passou a se comportar como aquele que iria acabar com o PT, o governo Dilma e prender Lula.
A Globo e outros setores da sociedade passaram a apostar tudo em Moro.
O governo tenta consertar os rumos
Lula percebeu que sua hora estava chegando desde o início do segundo semestre do ano passado. E por isso exigiu uma postura mais ativa do governo Dilma, que tirou Aloysio Mercadante da Casa Civil e o substituiu por Jaques Wagner, o que melhorou muito a relação com o Congresso.
Ao mesmo tempo, o PT e Lula também forçaram um debate sobre a mudança de rumos na economia, que na opinião do ex-presidente estava deteriorando o apoio da base histórica do projeto petista.
A situação do governo continuava ruim, mas já dava sinais de alguma melhora no começo deste ano.
E o reflexo disso foram os resultados de pesquisa de avaliação que apontaram uma pequena melhora nos índices de ótimo, bom e regular.
A decisão de ir pra cima
Quando Lula percebe que a Lava Jato se aproxima dele mesmo com indícios frágeis, o ex-presidente decide ir pra cima de setores da imprensa, em especial da Globo.
A blogosfera, numa das suas melhores ações colaborativas, desencadeia uma investigação de um casa triplex da família Marinho que foi construída numa área de preservação ambiental e a emissora emite sinais de que aquilo lhe incomodava.
Os Marinho enviam notificações extrajudiciais aos blogues e na noite de ontem, a partir de uma reportagem da IstoÉ, fazem um histórico Jornal Nacional, como eu e o Rodrigo Vianna apontamos em posts de ontem.
Ontem ficava claro que algo grande estava para acontecer. E hoje pela manhã o telefone celular tocou às 6h15, deixando claro a partir do nome que me chamava, o que acontecia.
O que aconteceu hoje
Há algum tempo a Operação Lava Jato é conduzida muito menos como uma investigação judicial e muito mais como uma ação golpista. Alguém já disse que ela definiu o criminoso e agora procura o crime. E é isso mesmo.
Duzentos policiais e 30 auditores fiscais participaram da condução coercitiva de Lula hoje. Na ação que prendeu 450 quilos de pasta de cocaína em um helicóptero os policiais não chegavam a uma dezena.
Mas por que então a ação não foi de prisão de Lula, mas de condução coercitiva? E é isso que se deve perguntar.
Por que eles não prenderam Lula hoje
No Chile de 1973 antes do golpe que levou Pinochet ao poder foi tentado um outro golpe. Naquele, Pinochet se comportou como aliado de Allende, mas era apenas jogo de cena. O que os militares queriam era conhecer a estratégia de resistência do governo e seu poder de reação. É o que se chama de pré-golpe.
Em vários outros países e momentos da história isso já aconteceu. A pré-prisão de Lula hoje foi um teste para saber qual o poder de reação do PT e dos movimentos sociais. E como o governo se comportaria numa situação dessas.
Neste momento, Moro deve estar analisando o cenário e o mesmo deve estar sendo feito por alguns dos procuradores da Lava Jato que colocaram como objetivo de vida prender Lula.
Um jurista com quem conversei em off hoje me disse que se nada for feito de muito forte, Lula será preso, mesmo com evidências muito frágeis de crime, daqui a duas ou três semanas. Logo após as manifestações de 13 de março.
O papel da Globo
A Globo é a verdadeira operadora desta ação, mas ao mesmo tempo todas as outras emissoras e quase todos os outros veículos de comunicação aceitaram lhe secundar.
Ela está buscando a cada dia convencer mais gente de que Lula é culpado. O caso dos pedalinhos e do barco de metal são histórias que ilustram bem isso. São bobagens, mas que ajudam na compreensão dos setores mais populares.
Da mesma forma que o triplex. Para uma pessoa simples, só a palavra triplex já é algo que denota riqueza e que por isso pode ser facilmente associado à corrupção.
Mas a Globo também parece operar com os procuradores e Moro.
O post do editor chefe da revista Época na madrugada de hoje anunciando por metáfora a operação deixou claro que a Globo já sabia do que ia ocorrer. Escotesguy como é alguém que quer brilhar mais do que a notícia, não se aguentou nas calças e acabou revelando o que sempre se soube. A Globo sabe das operações antes. E, aliás, o JN de ontem já deixava claro que a Globo sabia o que ia ocorrer hoje.
O que vai acontecer agora
Ainda é muito cedo para se saber. Lula teve uma reação forte e indignada. E acendeu a militância. E dialogou com os setores mais pobres do país que lhe viram falar.
A reação dos petistas e dos movimentos também foi rápida.
A resistência no aeroporto de Congonhas foi simbólica. Por quase uma hora o ex-deputado federal professor Luizinho resistiu de braço esquerdo erguido na porta da PF contra mais de uma centena de opositores.
Mas as imagens da Globo News que buscavam desmoralizar Lula e o ex-deputado acabaram servindo de alerta para que os petistas fossem pra lá. E ao chegarem conseguiram se tornar maioria e expulsar aqueles que atacavam o ex-presidente.
Se essa reação vier a se tornar uma tônica, não vai ser fácil prender Lula.
Além disso, juristas, artistas e intelectuais começaram a manifestar solidariedade a Lula. E isso pode vir a se transformar em grandes atos.
É muito mais fácil organizar atos em defesa de Lula e da democracia do que em defesa do governo contra o impeachment.
A onça vai beber água nos próximos dias.
Hoje foi o teste. E como em todos os testes, os resultados dele estão sendo avaliados por todos os lados da história.
E a história sempre tem lados.
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