MAIS SOBRE O ATEÍSMO
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MAIS SOBRE O ATEÍSMO


Oi, gente ótima! Vou comentar rapidinho alguns comentários que vocês deixaram no post sobre o nosso santo ateísmo de todo dia. Primeiro, vamos fazer um esforço pra não descambar numa Olimpíada da Opressão. Não vale a pena tentar ranquear qual minoria é a mais discriminada. Escrevi um post inteirinho sobre isso, daqui a pouco publico.
Há muitos tipos de ateus, assim como há muitos tipos de católicos, muçulmanos, evangélicos, judeus, budistas, espíritas etc etc. Existem ateus que, embora não acreditem num deus, creem em várias coisas sobrenaturais. Eu não sou uma dessas. Não acredito em nada mesmo. Ou melhor, acredito na bondade intrínseca do ser humano. Creio que a maior parte das pessoas é boa. Tem crença maior, ou mais ingênua, que essa? Há ateus que são anti-religiosos e acreditam que o mundo estaria melhor sem religiões. Também não sou dessas. Não quero convencer ninguém a deixar de acreditar em deus. Não tenho problema nenhum com a fé individual de cada um (e tenho certeza que a maior parte dos ateus também não quer conventer ninguém). Meu problema é com as religiões organizadas, que disseminam tanto preconceito (não estou dizendo, pelamordedeus, que os não-religiosos não tenham preconceitos. Só não têm uma instituição organizada para promovê-los). Mas, minto: não tenho problema com religiões. Sou a favor da liberdade de expressão e penso que toda e qualquer religião tem todo o direito de disseminar os preconceitos que quiser. E quem entra numa dessas religiões deve saber o que lhe aguarda, e talvez ter senso crítico pra ouvir apenas aquilo que considera relevante. O meu problema é com as religiões que fazem de tudo pra mandarem nas leis de um país. Não basta mandarem em suas igrejas e templos, querem ditar regras para as pessoas de outras religiões ou praquelas como eu, que não têm religião. Insisto que é preciso haver divisão entre igreja e estado, sempre. E não há. Se houvesse, o aborto seria legalizado, o casamento gay também, e não existiria polêmica em torno das pesquisas com células-tronco.
Quando eu (e tantos ateus e agnósticos) digo que muitas guerras se fazem em nome de deus, estou me referindo a países que não têm essa distinção entre estado e igreja. Porque hoje em dia as religiões continuam cultivando ódios e preconceitos, mas não costumam pegar em armas. Pra isso, tem um estado a sua disposição, com todo um arsenal bélico pronto pra ser usado. E isso é muito, muito perigoso. Não estou falando apenas dos terroristas islâmicos que, em nome de Alá, jogaram dois aviões contra as Torres Gêmeas. Estou falando também do fundamentalismo cristão que orquestrou a retaliação. Fazia muito tempo que igreja e estado não se fundiam tanto no país mais poderoso do mundo quanto nos dois mandatos Bush. E essa intervenção não apenas criou guerras, como cortou investimentos de algumas áreas e os realocou para outras (por exemplo, aulas de educação sexual nas escolas serem substituídas por programas totalmente ineficazes como programas de abstinência sexual).
Opa, mas cadê os comentários? Bom, a Mariana, que foi quem me pediu pra escrever o post em primeiro lugar, já tinha falado em orgulho em ser ateia. E isso é mais complicado pra mim. Tem muitas coisas que eu sou e assumo, sem necessariamente sentir orgulho. Sou branca, tá, meio amarela, com pintinhas vermelhas. Certamente não tenho orgulho da minha cor. E orgulho em ser hétero? Bom, eu gosto de ser hétero porque acho os homens muito graciosos, mas orgulho? Ok, quando se faz parte do padrão dominante (branca, hétero), só os babacas que não entendem seus privilégios têm orgulho. E aí vem com as baboseiras de sempre: eu também quero um Dia da Consciência Branca! Eu quero uma Parada do Orgulho Hétero! Ah, vão pastar. Mas e nas minhas características em que sou alvo de preconceito? Sou gorda. Não tenho orgulho em ser gorda. Sou mulher. Não sei se tenho orgulho em ser mulher. É só o que sou. Tenho orgulho, sim, em ser feminista. O meu ateísmo é parte importante de mim, mas não me orgulha e muito menos me envergonha. Tem coisa que eu me orgulho por nadar contra a corrente (nunca ter pintado as unhas ou usado brinco), mas não sei se meu ateísmo é uma delas. Talvez porque eu conheça muito mais ateus do que mulheres que não tenham orelha furada.
A Márcia escreveu: “Pessoal, receber educação religiosa enviesada não quer dizer que Deus não existe”. Realmente, crer em deus e ter religião são duas coisas diferentes. E alguém crer ou não em deus é indiferente, não acha? Tipo, se deus existe, o fato de eu não acreditar nele não o fará desaparecer. Assim como tanta gente crer em deus não faz com que ele exista pra mim. Mas, no meu caso, não foi uma ou outra experiência religiosa ruim que me fez ser ateia. Como eu disse, eu fui criada sem religião. Aquele meu ano religioso é que foi um percalço no meu caminho. E é por isso, suponho, que tantos religiosos são contra o princípio de “crie seu filho sem religião e deixe que ele decida o que quer seguir quando crescer”. Se vocês souberem de alguma pesquisa nesse sentido, me avisem, mas o que vejo é que crianças criadas sem religião continuam sem religião quando se tornam adultas (sem religião e ateias, imagino). Talvez tenham algumas experiências religiosas no caminho, como eu tive. Tenho a impressão que 85% dos suecos são ateus ou agnósticos simplesmente porque foram criados em lares sem religião.
E mesmo assim a Suécia não é exatamente um país depravado, é?
Bom, finalizo com um vídeo pra deixar vocês com raiva. Adoro deixar vocês com raiva!
E pra contrabalançar, deixo a dica de um post excepcional da Amanda sobre como as principais religiões discriminam a mulher.




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