Mais um teste para o Banco Central - CRISTIANO ROMERO
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Mais um teste para o Banco Central - CRISTIANO ROMERO


Valor Econômico - 29/05

Como o Copom frustrou as expectativas dos agentes, no dia seguinte o juro real começou a ceder - o patamar mais baixo foi registrado em 23 de abril: 2,6% ao ano. Embora a Selic tenha aumentado, na prática houve um afrouxamento das condições monetárias, uma vez que o juro real ficou menor do que estava quando o BC revelou maior preocupação com a inflação.

As semanas que sucederam ao encontro de abril mostraram uma rearrumação do discurso. Na decisão de abril, seis diretores do BC votaram pelo aumento da Selic e dois, pela manutenção. Dois dias depois, um dos diretores que votaram contra a alta - Luiz Awazu Pereira - explicou em Washington, durante debate, que o colegiado não tinha dúvidas quanto à necessidade de elevar o juro. A divergência era sobre o timing.

Uma semana depois, foi a vez de o diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo, proferir discurso duro sobre a natureza das pressões inflacionárias existentes neste momento e a necessidade de combatê-las. No mesmo dia, o BC informou que aquela não era opinião isolada de Hamilton, mas de toda a diretoria.

Nas últimas duas semanas, o presidente do BC, Alexandre Tombini, proferiu dois discursos com um único recado: o BC está "vigilante e fará o que for necessário, com a devida tempestividade [no tempo certo ou oportuno]", para derrubar a inflação. Ficou claro que o colegiado, em uníssono, decidiu apertar o passo do aperto monetário. A comunicação fez o juro real (da NTN-B de agosto de 2014) saltar de 2,6% em 23 de abril para 2,92% ao ano ontem (ver gráfico).

Dado o padrão recente do BC, de sinalizar uma coisa e fazer outra, analistas e tesoureiros estão divididos. No primeiro grupo, a maioria espera alta hoje de apenas 0,25 ponto percentual. No segundo, a aposta majoritária ainda é de um aumento de 0,5 ponto, embora essa probabilidade tenha perdido ontem um pouco de adesão.

Uma novidade em relação ao cenário de abril é a taxa de câmbio. Nas última semanas, o dólar tem se valorizado em decorrência de sinais mais animadores da economia americana e da possível reversão, antes do esperado, dos estímulos monetários concedidos pelo Federal Reserve. Apenas ontem, o real sofreu desvalorização de 0,87% frente à moeda americana.

O BC não tem muito o que fazer contra essa depreciação porque ela reflete um movimento global. Mas isso cria um constrangimento adicional para a política monetária, afinal, foi a desvalorização do real um dos principais fatores de pressão sobre os preços no ano passado. A perda de valor da moeda nacional torna ainda mais premente a alta da taxa Selic. No mercado, havia análises ontem de que, se o Copom hesitar novamente, o real poderá sofrer desvalorização ainda mais acentuada daqui em diante.

Outro elemento que vem sendo considerado é o PIB do primeiro trimestre, que o IBGE divulga hoje. O IBC-Br, indicador do BC que costuma antecipar o PIB, mostrou avanço de 1,05% entre janeiro e março. Nos últimos dias, surgiram no mercado estimativas pessimistas. Há a crença de que, se o PIB tiver crescido menos de 0,9%, dificilmente o Copom elevará a Selic em 50 pontos-base. A ver.




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