Os desafios do Banco Central em 2014 - CRISTIANO ROMERO
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Os desafios do Banco Central em 2014 - CRISTIANO ROMERO


VALOR ECONÔMICO - 18/12

O Banco Central (BC) está preocupado com o cenário inflacionário de 2014. Além da defasagem dos preços administrados, que deverão subir, na média, quase o triplo do que aumentaram em 2013, há dúvidas relacionadas à taxa de câmbio. Há muita incerteza em relação ao câmbio. Poderia melhorar mais a expectativa do que já melhorou, mas tem a expectativa do tapering (a redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos) , diz uma fonte oficial.

O início do processo de normalização monetária dos EUA pode começar hoje, quando o Fomc, o comitê de política monetária do banco central americano, se reúne. Mesmo que não anuncie uma mudança imediata, o comitê pode dar indícios de seus próximos passos. Em grande medida, os efeitos do movimento foram antecipados pelos mercados. Esta é uma opinião que já virou consenso no mercado: o tapering não vai ser o fim do mundo , atesta um economista de uma grande casa de investimento em Nova York.

Ainda assim, resta a incerteza. Desde os primeiros sinais de mudança da política monetária americana, emitidos em maio pelo presidente do Federal Reserve (Fed), Ben Bernanke, o Brasil passou a ser percebido, ao lado de nações como Indonésia, Índia, Turquia e África do Sul, como uma das economias mais afetadas pelo reposicionamento global do dólar.

Essa percepção obrigou o BC a adotar um programa de oferta de proteção cambial (hedge) ao mercado, que vigoraria até este mês, mas será prorrogado a partir de janeiro. O Banco Central argumenta que o programa não foi feito para diminuir o ritmo de desvalorização do real frente ao dólar, com o objetivo de controlar seus efeitos sobre a inflação. Mas é certo que um dos impactos foi justamente esse.

O programa é outra coisa. Foi adotado para evitar essas dinâmicas endógenas do mercado de câmbio , explica uma fonte para, em seguida, afirmar que o câmbio volátil e com forte tendência de depreciação afeta a confiança [de empresas e consumidores] na margem . Para o BC, o que realmente abala a confiança na economia é a inflação alta.

Isso foi particularmente observado no primeiro semestre do ano, quando o IPCA em 12 meses acelerou, atingindo 6,70% em junho, maior marca desde outubro de 2011. Com a alta dos preços mesmo diante de alquimias adotadas pelo governo, como a redução da conta de luz e o congelamento do preço da gasolina, os agentes econômicos perderam a fé.

A postura do BC tem sido a de mitigar o repasse do câmbio, além de trazer a inflação para baixo , sustenta uma fonte qualificada. O repasse da perda de valor do real para a inflação está dentro do esperado - algo em torno de 5% do total em 12 meses.

O Banco Central acredita que sua política - de aumento da taxa básica de juros (Selic) desde abril - está produzindo resultados. O IPCA em 12 meses recuou de 6,70% em junho para 5,77% em novembro. O mercado, segundo a mediana das opiniões captadas pelo Boletim Focus, espera 5,70% em dezembro, queda de um ponto percentual em relação ao pico de seis meses atrás. Trata-se de uma inflação elevada para padrões internacionais e quando comparada à meta oficial (4,5%), mas é menor que os 5,84% do ano passado.

Nossa meta é 4,5% e isso não é igual a 6,5%. Mas temos que lembrar que, por uma razão ou outra, o Brasil viu nos últimos 24 meses uma desvalorização de 20% do real. Foi um ajuste relativamente significativo , justifica uma fonte. Esse flanco [do combate à inflação] está indo bem. O BC se mantém atento.

Nas últimas quatro semanas, as expectativas de inflação para 2013 melhoraram - de 5,84% para 5,70% -, mas, para 2014, pioraram - de 5,91% para 5,95%. O BC atribui isso à incerteza na área cambial e aos preços administrados. É possível que o mercado ponha alguma coisa de reajuste da gasolina nas projeções para 2014 , observa uma fonte.

Todo esse quadro leva à taxa de juros. O que fará o Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de 15 de janeiro? Depois de aumentar a taxa Selic de 7,25% para 10% ao ano, o Comitê decidiu adotar postura de cautela em relação às próximas decisões. Não definimos nem passo nem tamanho , assegura uma fonte, confirmando que, neste momento, a política é uma questão em aberto: tudo dependerá do que vai ocorrer na economia nas próximas semanas e meses.

É bem provável que o Copom eleve a Selic para 10,25% ao ano em janeiro, mas não indique o fim do ciclo de aperto. Os participantes do mercado, em sua maioria, têm opinião diferente. Eles não acreditam que, em pleno ano eleitoral, o Comitê eleve o juro muito além disso. É bom lembrar, entretanto, que há alguns meses poucos no mercado achavam que o BC fosse levar a taxa de juros de volta a dois dígitos.

Fontes do governo dão a entender que o Copom já fez o suficiente em termos de juros dentro do mandato informal , vigente desde o início do mandato da presidente Dilma Rousseff, de se aceitar uma inflação por volta de 5,5% a 6,5% ao ano. Para levar o índice à meta de 4,5%, seria preciso produzir uma recessão, algo que está absolutamente fora de cogitação em Brasília.

Um cenário possível é o seguinte: o Copom eleva a Selic para 10,25% ao ano; se a taxa de câmbio continuar girando em torno de R$ 2,20 e R$ 2,30, o Comitê encerra o ciclo; mas, se o câmbio deslizar acima disso por causa do tapering ou de outra razão, o juro volta a subir.

Por razões óbvias, a margem de manobra do BC é apertada. O IPCA tem ficado, desde a segunda metade de 2012, mais próximo da parte de cima do que da de baixo dos limites de tolerância do regime de metas. Não há espaço, portanto, para absorção de choques fora do controle das autoridades. Além disso, a política fiscal expansionista continua sendo um dos principais fatores de pressão da demanda agregada.

O BC ainda espera uma sinalização fiscal mais forte do governo para 2014. Por enquanto, não há nada certo, afinal, será ano eleitoral e a história mostra que, nesses momentos, nenhum governo controla as despesas. Segue o desafio [de segurar a inflação] , desabafa uma fonte.






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