Maleáveis e insípidos - DENISE ROTENBURG
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Maleáveis e insípidos - DENISE ROTENBURG


Correio Braziliense - 27/09


Os novos partidos têm mais a política como um negócio do que propriamente uma vocação, no sentido de transformação social e construção de um país melhor



Os últimos dias serviram para decretar o fim daquela história linda e pomposa de que os mandatos pertencem aos partidos. Toda a rigidez, instituída na lei de forma a preservar os deputados dentro das siglas pelas quais foram eleitos, caiu por conta dos acordos políticos e do portal aberto com a criação de mais dois partidos. E com um agravante: ninguém sabe direito o que esses partidos representam. Só se tem até agora uma vaga ideia de que rumo essas legendas vão tomar.

Vejamos primeiro o Partido Republicano da Ordem Social (Pros). A agremiação chega como uma espécie de acessório da aliança PT-PMDB, sob medida para abrigar aqueles que desejam apoiar a reeleição da dupla Dilma Rousseff-Michel Temer ? em especial, os oriundos do PSB. Ontem, por exemplo, o deputado Givaldo Carimbão (PSB-AL) conversava animadamente com integrantes do Pros na sala de reuniões da liderança do PMDB. A escolha do local, por si só, mostra a parceria entre peemedebistas e Pros.

Quanto ao Solidariedade, a independência mencionada pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, é relativa. Em São Paulo, é governo. Apresenta-se sob medida para abrigar aqueles que, no passado, seguiram para o PSD pensando em independência e, agora, vêem o partido aliado à presidente Dilma. No Rio de Janeiro, entretanto, seguirá o PT. Assim, faz uma aposta na oposição, ao se reunir com Aécio Neves, mas não deixa de construir uma pinguela com os petistas para o futuro. Bem ao estilo do que tem feito o PMDB, o PP, o PTB?

Projeto para o país, planejamento, ideias novas de gestão, para enfrentar os problemas do Brasil e dos estados ainda não se viu. A entrevista concedida pelo presidente de honra do Pros, Henrique José Pinto, ao Correio, ontem, na reportagem de Paulo de Tarso Lyra, Leandro Kleber e Étore Medeiros, é de assustar qualquer cidadão. Ele diz claramente que o partido é obra de ?meia dúzia de caboclo (sic) que não tinha o que fazer e sem expectativa de vida?. Declarou ainda que estava completamente sem dinheiro e, por isso, vendeu inclusive os projetos das obras de sua construtora.

Agora, com a nova legenda, terá acesso a fundo partidário e tempo de tevê, a depender do número de deputados que conseguir levar. Cada excelência filiada vale dois segundos e 20 décimos e alguns milhares reais. Quem é do ramo e ainda tem a política como um meio de transformação social percebeu nas entrelinhas da entrevista que o novo partido vê a política mais como um negócio do que propriamente uma vocação, no sentido de construir um país melhor. Juscelino Kubistchek, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães devem estar se revirando no túmulo. (Dr. Ulysses não, porque morreu no mar e seu corpo nunca foi encontrado).

O pior nisso tudo é o fato de os partidos que perderam deputados não correrem atrás dos mandatos. À exceção de Luiz Pitiman, que sai do PMDB e ingressa no PSDB e tem um documento expresso que lhe assegura a cadeira na Câmara, nenhum dos demais tem essa mão. O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, por exemplo, permitirá que o governador do Ceará, Cid Gomes, deixe o partido sem se preocupar com a questão do mandato. Não quer mais brigas do que as que já existem com Ciro Gomes, conforme bem demonstrou a reportagem de Ana D?Ângelo, ontem, no Correio. Para quem não leu, vale lembrar que Ciro fala em ?acanalhamento? do PSB, e solta duras críticas à postura de Campos.

Ciro, segundo os socialistas, só se esquece de dizer, entretanto, que se a cúpula do partido quisesse, poderia ter organizado o desembarque do governo Dilma para quando estivesse terminado o prazo de filiação partidária para os candidatos, no ano que vem. Assim, deixaria os irmãos Gomes e outros interessados em se manter aliados ao governo Dilma presos à legenda, sem poder sair para montar um projeto alternativo. Ao sair do governo antes de 5 de outubro, ele deixou a porta aberta para que Cid e Ciro saíssem sem ser incomodados.

Enquanto isso, no TSE?
Por ironia do destino, permanece pendurada a Rede de Marina Silva, o único partido dessa leva que parece não querer carimbar a sua formação como um negócio e sim, uma filosofia, um projeto dentro daquela vocação mencionada acima. É também dessa safra a única agremiação a ter desde já um nome para concorrer à Presidência da República. (Ontem, na pesquisa Ibope/Estadão, Marina aparece com 16% das intenções de voto, em segundo lugar, enquanto Aécio tem 11%, Eduardo Campos, 4% e Dilma, na liderança, 38%). Se a Rede sair, não haverá sequer tempo de filiar muitos interessados. Certamente, ficará menor do que os dois que obtiveram o registro essa semana.

E no Palácio do Planalto?
Com a presidente Dilma Rousseff de volta, hoje recomeça a ladainha da reforma ministerial. Para o Ministério da Integração, permanecia ontem como o mais forte o senador Vital do Rego Filho. Para os Portos, a ordem é deixar o cargo para uma indicação dos irmãos Gomes.




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