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Mamãe Merkel - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 20/09
Após campanha eleitoral anódina, os alemães decidirão no domingo se conferem um terceiro mandato à atual chanceler, Angela Merkel, já em seu oitavo ano no cargo.
Ao que tudo indica, a líder da maior economia europeia tem caminho tranquilo pela frente. Nas pesquisas mais recentes, sua União Democrata-Cristã aparece com 40% das intenções de voto, contra 25% do Partido Social-Democrata, o principal desafiante.
Seria de esperar, em uma disputa eleitoral na maior economia da Europa, que houvesse considerável debate acerca da maneira como a Alemanha liderou a zona do euro durante sua pior crise financeira.
Não foi o caso. Um dos assuntos mais discutidos durante a campanha foi a sugestão do Partido Verde de criar um dia com cardápio exclusivamente vegetariano nas escolas. Tema sem dúvida paroquial, mas que ao menos tinha a vantagem, aos olhos da oposição, de permitir divergências acerbas.
Merkel, a quem não se pode atribuir grande carisma, oferece ao eleitorado nacional a sensação de estabilidade e confiabilidade, características fortalecidas por sua resposta à turbulência que atingiu o continente a partir de 2008. As medidas adotadas pela chanceler tiveram o respaldo de 64% dos alemães e foram apoiadas inclusive por oposicionistas.
Austeridade, ajustes fiscais e reformas estruturais. Essas as exigências da maior economia do grupo em troca de socorro financeiro. Criticada pelos países em dificuldade, tornou-se consensual entre autoridades europeias --e relativamente bem-sucedida-- a receita de Merkel para resgatar Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Chipre.
A defesa intransigente dos interesses alemães na arena global somou-se às paulatinas concessões ao público interno e resultou num singelo apelido para Merkel: "Mutti", ou "mamãe" --epíteto inusitado para uma chefe de governo habituada a liderar com mão de ferro.
No ambiente doméstico, a política econômica de Merkel é aprovada por 56% da população. A primeira mulher a governar a Alemanha colhe, na árvore da popularidade, os frutos de uma indústria nacional sólida, do maior PIB e do menor desemprego da zona do euro.
Persistem, contudo, desafios estruturais. Envelhecimento da população e baixo aumento de produtividade são dois elementos que tornam necessárias reformas para a Alemanha manter a proeminência econômica no longo prazo.
São questões que "mamãe" Merkel precisará resolver, se de fato reeleita, a fim de deixar uma herança positiva para seus filhos.
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