Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:Chega a ser tedioso analisar as manifestações fascistas que, desidratadas, voltaram a dar o seu showzinho de estupidez e bizarrice no último domingo (16/8). Que novidade trouxeram? Acompanharam o aumento da rejeição ao governo ou perderam força apesar de a popularidade de Dilma ter despencado desde a manifestação dessa gente em 15 de março?
O gráfico abaixo mostra, com dados do Datafolha, o que aconteceu na mais dinâmica manifestação fascista do país, a de São Paulo, pois as outras, em termos de público, perderam ainda mais força – e o que aconteceu foi que, apesar do aumento da rejeição a Dilma, o número de manifestantes despencou. Confira:
A conclusão óbvia é a de que, apesar de a impopularidade de Dilma seguir muito alta, uma quantidade imensa de pessoas concluiu que essas manifestações não merecem seu apoio, já que, em 15 de março, as manifestações em todo o país juntaram, segundo o Datafolha, 1,7 milhão de pessoas e, em 16 de agosto, segundo o mesmo instituto de pesquisas, foram 750 mil.
Ou seja, quase um milhão de pessoas – ou quase dois terços do total de 1,7 milhão de manifestantes de 15 de março – decidiu abrir mão da “agradável” companhia de toda sorte de lunáticos que acorreu às ruas do país no último domingo.
Havia o que, nessas manifestações? Como sempre, gente querendo aparecer
O anacronismo e a violência machistas que infectam o país
Apologia ao crime (1)
Arreganhos fascistas
Cinismo explícito
Burrice e preconceito em estado sólido
Bestialidade
Mais apologia ao crime (2)
Atestados de burrice
E, em meio a tudo isso, uma comovente manifestação de coragem e dignidade que muito marmanjo musculoso não teria e que deveria inspirar a esquerda brasileira a enfrentar esse horror que sai às ruas e ameaça o futuro deste país.
Ficou evidente que toda essa celeuma em torno dessas manifestações fascistas e circenses não se justifica. Até por isso, vários cientistas políticos minimizaram o impacto delas e chegaram a ver um certo alívio para o governo.
Veja o que dizem alguns deles:
Jairo Pimentel Júnior, (APPC, consultoria de opinião pública)
Saldo para o governo: “Acabou sendo neutro, pois não acho que as manifestações vão afetar mais o governo do que já foi afetado. Não vai piorar por causa disso. Os eleitores que foram para a rua hoje foram, basicamente, quem votou na oposição e eles já estão mais do que zangados com a presidente. Os atos não vão piorar os índices de aprovação dela, que já são muito baixos. Para ocorrer o impeachment, é preciso ter elementos mais tangíveis, como descobrir que ela participou diretamente dos crimes da operação Lava Jato, ou por crime de improbidade no Tribunal de Contas da União. Enquanto isso, a imagem dela vai continuar negativa por conta da questão econômica, mas isso não vai levar ao impeachment”.
Saldo para a oposição: “Foi um pouco negativo. Nesta manifestação, o foco foi o impeachment de Dilma, mas nas outras o foco foi mais geral. Como o público foi menor [em relação a março], creio que o movimento perdeu força nos últimos meses, independentemente da popularidade de Dilma ter caído nesse tempo. Para políticos da oposição que tentaram se vincular aos protestos, essa intenção não teve a força que poderia ter tido naquele período [o primeiro semestre]. A decisão deles de participar talvez tenha sido um pouco fora de hora, porque nesse momento há menos pessoas dispostas a ir para a rua”.Fábio Wanderley Reis (UFMG)
Saldo para o governo: “Vejo esses atos como ‘desinflados’, com um começo de perda do empuxo popular. Acho que é natural, pois é difícil manter a mesma dinâmica por muito tempo. Em relação ao governo, o saldo é positivo, pois há claramente uma regressão da postura mais agressiva em comparação a momentos anteriores. A movimentação política desta semana indica um certo esforço de moderação, com o recuo de Renan no Senado; um isolamento do presidente da Câmara [Eduardo Cunha], e as convergências de apoio na faixa empresarial”.
Saldo para a oposição: “O quadro agora envolve um certo refluxo da movimentação política contra o governo. A alternativa que nós tínhamos, a do impeachment, envolve riscos, visto o enfrentamento de forças políticas latente desde a eleição passada, e não é desejável que a turbulência enfrentada pelo governo continue”.Hilton Cesário Fernandes (Fespsp)
Saldo para o governo: “É até positivo, não tanto pelas manifestações. Por elas, é claramente negativo, porque emitem uma movimentação mais forte para o impeachment. Mas foi positivo porque o governo soube reagir dessa vez, ao contrário de março e abril. No primeiro momento, com o reposicionamento de Dilma durante a semana, que compareceu a mais eventos, depois ao se aproximar com o PMDB, via Renan Calheiros, com o acordão [Agenda Brasil], e ainda um movimento dentro do PT para se unir em torno da presidente. Os atos anteriores foram precedidos por manifestações sindicais, mas que aconteceram dias antes do ‘Fora Dilma’. Desta vez, o PT programou uma manifestação no mesmo dia, na frente do Instituto Lula, sem partir para o confronto. Isso foi muito estratégico, pois não importa tanto a quantidade de pessoas, já equilibra um pouco o assunto”.
Saldo para a oposição: “Não dá para avaliar agora. Por um lado, a oposição começou a se aproximar agora desse movimento, que apesar de se dizer apolítico, permitiu que eles [os políticos] falassem alguma coisa. É possível que a participação do PSDB tenha esvaziado um pouco o chamado para as ruas, pois algumas pessoas podem ter se sentido incomodadas de participar de um movimento que elas não sabem quem lidera e podem até se sentir manipuladas. E ainda é um movimento disforme, de ataques e criticas à presidente, mas sem uma pauta para a substituição dela”.A grande novidade do dia, portanto, no entender deste blogueiro foi o ato de movimentos sociais e sindicais diante do Instituto Lula, que ocorria a algumas dezenas de quilômetros do ato fascista de São Paulo.
A novidade reside na primeira reação visível da esquerda levada a cabo no dia em que o fascismo volta a pôr a cara na rua, ainda que a manifestação democrática tenha sido muito menor do que a antidemocrática – já que pediu golpe de Estado, assassinatos, violência enquanto fazia apologia ao crime.
O ato no Instituto Lula antecede um movimento da esquerda bem maior e mais organizado que o do último domingo e que ocorrerá no próximo dia 20 de agosto pelo país em resposta aos atos fascistas.
O ato de apoio ao ex-presidente Lula, apesar de previsivelmente muito menor do que os atos fascistas, mostra que cresce a disposição de movimentos sociais e sindicais – e até de cidadãos comuns – para reagir aos psicopatas que espalharam suas vergonhas no início desta semana.
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