Ontem o meu amor saiu numa reportagem de um jornal local, o Metro Times. A responsabilidade foi toda minha: insisti pra que ele mandasse um email com uma proposta pra uma coluna semanal sobre xadrez pro jornal. A editora respondeu que não havia espaço, mas que ela gostaria de fazer uma matéria sobre ele. Isso foi em janeiro. Uma repórter muito simpática foi ao Student Center da universidade, onde um bando de viciados em xadrez se reúne toda segunda, quarta e sexta, e falou com o Silvinho. Jogou alguns jogos também, o que, bem, já é meio ridículo. Ela mal sabe mexer as peças, aí joga contra um profissional e fica chateada por perder? Só americano e seu espírito hiper competitivo mesmo. Faz uns dez dias, ela me ligou pra fazer mais perguntas. Daí ela deve ter tirado as conclusões espúrias que aparecem na matéria – eu e o maridão discutimos teoria enxadrística no jantar?! Mas nem no café da manhã! É verdade que eu disse que os sonhos dele são um tédio só. É uma piada entre nós eu perguntar quando ele acorda: “E aí, jogou muito xadrez com a morte?”, numa referência ao “Sétimo Selo” do Bergman.
Há vários erros no artigo, mas isso é normal. Qualquer pessoa que já foi citada num jornal, revista ou programa de TV sabe que o que foi dito e o que foi escrito não são equivalentes. E há bons motivos pra moça ficar confusa e escrever, pasme, que o Silvinho é o jogador número 100 do mundo (na realidade, ele é o centésimo do Brasil, ou o 50o, na lista ativa). O rating dos EUA não é aquele usado pelo resto do planeta. E seria o paraíso se ele realmente estudasse três horas por dia! E note o pedaço em que ela fala dos hobbies do maridão, fotografia (treinando pra ser cameraman em “Cloverfield 2”, imagino) e marcenaria. Onde que ele poderia estar praticando marcenaria aqui em Detroit? No nosso apê de 35 metros quadrados?
Mas não tô reclamando. Pelo contrário, fico orgulhosa que o maridão tenha sido destaque numa reportagem amável sobre o que ele mais gosta de fazer na vida. E o pessoal que joga com ele na faculdade, pra quem ele já é meio ídolo (ganha de todos por lá), vai gostar mais ainda. Se bem que, enquanto estavam fazendo a matéria, houve preocupação. Alguns diziam: “É pro jornal gay? Não quero sair na foto!”. Embora não fosse pra publicação destinada ao público LGTB (que também tem um ótimo jornal semanal), um dos entrevistados, quando falou com a imprensa, fez questão de lembrar a cada frase: “Eu não sou gay!”.
O maridão se animou bastante, a ponto de fazer umas observações sobre a reportagem no blog dele, que começou junto com o meu, mas não tem tantos posts (se houvesse um placar, seria algo como 600 x 5).
Como você pode ver, o maridão é muito mais talentoso com marcenaria (essa bela mesa de xadrez foi ele que fez) que com seu outro hobby.