A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), de Robert Wise – ok, certamente não é meu musical favorito. Mas tem muita coisa agradável. E a Julie Andrews cantando e dançando de braços abertos no topo da montanha é um momento icônico do cinema (não encontrei a cena no YouTube. Lá só tem paródias da cena). Sei que tem muita gente que não suporta Noviça. Minha ídola Pauline Kael perdeu o emprego de crítica ao pichar o filme na época de seu lançamento. Sei que é conservador e tal. Mas alguns números musicais funcionam. E eu adoro fazer “The Hills are Alive” com o maridão. Uh, não, não é nada erótico. Consiste na gente estar feliz no meio da natureza, abrir os braços e dar umas piruetas cantando a musiquinha. Na maior parte das vezes o maridão se recusa a participar. É pelo medo do ridículo, mas também de ficar tonto e cair. Não é absurdo como homem tem medo de parecer menos másculo por gostar de musicais? (É com isso que Tratamento de Choque brinca ao forçar o Adam Sandler a cantar “I Feel Pretty”). Acabei de rever Sweeney Todd. Nos extras, a Helena Bonham Carter revela que seu marido Tim Burton odeia musicais e tem medo que o filho vire gay porque Helena vive mostrando-os pra ele. É uma declaração que não faz o Tim sair bem na fita, mas é a realidade prum monte de homens. Ser másculo é preferir tiros e explosões a belos números de dança? Ou seja, ser homem é ter mau gosto? Desde quando?
Núpcias Reais (Royal Wedding, 1951), de Stanley Donen – a história não vale nada, e a qualidade do DVD é das piores. Mas são detalhes se a gente pensar que o filme contém dois dos mais brilhantes números de dança da história do cinema. Aliás, o número pra “How Can You Believe Me When I Said I Love You” com a divina Jane Powell tampouco é de se jogar fora (veja aqui). Mas os que entraram pro olimpo são o do Fred Astaire dançando com o cabide (aqui), e subindo pelas paredes e dançando no teto (veja aqui, e repare no sorrisinho de satisfação que ele dá no fim. Isso que faz o Fred lindo, embora fisicamente ele era bem feinho). Essa cena tá tão bem feita que uma vez gastei os quinze minutos de um intervalo da minha aula de inglês passando a cena pros alunos e tentando descobrir como o pessoal fez isso (porque não parece ter cortes!). Hoje, com o YouTube, ter este filme já não faz o menor sentido.
South Park: Bigger, Louder, and Uncut (1999), de Trey Parker – tem muita coisa datada já, como o Saddam Hussein sendo amante de Satanás, ou a pegação no pé da Winona Ryder. E o filme cai feio na segunda metade. Ainda assim é uma delícia, uma sátira inteligente e divertida. E “Blame Canada” tem a honra de ter sido a única canção repleta de palavrões a ser indicada prum Oscar de melhor música (você pode vê-la aqui).
Por que não tenho A Pequena Loja dos Horrores? Não a comédia dos anos 60 em que o Jack Nicholson faz uma pontinha. Quero o musical de 86 com uma planta carnívora que vem do espaço, o Rick Moranis, e o Steve Martin como dentista sádico. Deveria ser o filme de cabeceira de todo dentista (veja o número do Steve aqui). Sem falar que adoro o encontro não-musical entre o Bill Murray como paciente masoquista e o Steve (aqui).
Acho que eu deveria ter O Mágico de Oz (1939) também, porque a Judy Garland cantando “Over the Rainbow” é única. E admito que adoro Mary Poppins e A Hard Day's Night, ambos de 64.
Mas o DVD que mais faz falta nessa minha lista é Hair (1979), do Milos Forman (e Amadeus, também dele, se a gente considerar Amadeus um musical). Hair tá cheio de imagens psicodélicas e coreografias inspiradas da Twyla Sharp, sem falar que é um filme político, pacifista, contra todas as guerras (esta cena sempre me faz chorar). E agora preciso incluir Sweeney Todd na lista. E talvez Across the Universe.