MINHA OPINIÃO SOBRE TRAIÇÃO
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MINHA OPINIÃO SOBRE TRAIÇÃO


A Camila me perguntou: "Em alguns textos, você falou que não podemos falar de traição num peso tão forte, estou te parafraseando. Eu gostaria de entender sua visão sobre isso.
"Mesmo vivendo uma relação monogâmica, é injusto não querer/aceitar que seu parceiro ame ou tenha relações com outra pessoa, mesmo que sua única reação a isso seja terminar com ele, já que não mandamos no comportamento do outro? Você não considera errado alguém num relacionamento monogâmico ter relações com outra pessoa? E essa terceira pessoa também não está errando ao se relacionar com alguém comprometido, por mais que a responsabilidade de ter um alguém não é dela? Não seria um caso de ética?"

Minha resposta: É que eu considero traição uma palavra forte demais. Não sei, talvez seja a única palavra que tenhamos pra usar num relacionamento monogâmico em que há um acordo que o casal não se relacionará com outra pessoa, e de repente a pessoa se envolve com outra. 
Eu estou num relacionamento monogâmico faz muito, muito tempo, mais de 22 anos. 
E tenho certeza que, até agora, não houve "traição", adultério, pulada de cerca, seja lá como isso pode ser chamado. E não gostaria que houvesse, porque é um relacionamento monogâmico. Ou seja, fizemos um acordo de que estaríamos exclusivamente um com o outro, contra todas as probabilidades de que, durante tanto tempo juntos, não teríamos desejo de fazer sexo e se apaixonar por outros. Ou, digamos, mesmo que houvesse esse desejo, ele seria controlado, podado. Na realidade, até agora, nunca apareceu esse desejo, nem pro maridão, nem pra mim (desejar o Tom Cruise conta?). 
De minha parte, quando eu era jovem e não namorava (só transava sem compromisso), só me envolvi com homem comprometido quando não sabia que ele era comprometido. Ok, tirando uma ou duas vezes que eu saí com o sujeito um tiquinho mais mesmo depois de saber que ele estava com outra pessoa. Mas assim, dar em cima de homem casado? Ah, tem muito homem solto no mundo!
(Mas sabe de algo que me orgulho mesmo? De nunca ter chamado uma mulher de vadia ou um homem de corno. Nunca julguei alguém que traiu).
O que a gente precisa se questionar é se temos escolha. O relacionamento monogâmico segue sendo uma imposição da sociedade, passado pra gente como se fosse a única escolha possível. E não é. Há muitas outras formas de amar. Creio que devemos criticar e questionar tudo, inclusive um modelo de relacionamento que nos é vendido como único e natural. O que tem de natural em passar a vida toda transando com apenas uma pessoa?
Pra mim e pro maridão, por enquanto, vem dando certo. É o que queremos. Mas não sei se vai dar certo pra sempre, e é absurdo exigir que todo mundo adote as mesmas regras na sua vida pessoal. O que se vê é que é que há um acerto não discutido para que a monogamia seja o modelo de todo casamento "normal". Mas sabemos que uma quantidade enorme de namoradxs e cônjuges "traem" uns aos outros. Dizem que os homens têm relacionamentos extraconjugais por uma série de motivos: por não conseguirem se controlar, por precisarem de sexo, por um instinto selvagem de ter que espalhar a sementinha. Todas essas razões parecem patéticas pra mim. Eu seria anti-homem se acreditasse que homens não conseguem se controlar. E seria anti-mulher se caísse na ladainha de que mulher não gosta de sexo, ou que gosta menos que o homem.
Aí dizem que a mulher trai pra se vingar, que a mulher costuma trair pra dar o troco, depois de ser traída. Aposto que há um monte de casos em que isso não se aplica. Então, sei lá, talvez os motivos sejam diversos demais pra explicar por que as pessoas traem. Mas o fato é que elas traem, independente do gênero. E que isso geralmente faz as pessoas sofrerem. Portanto, por que não abrir a relação evitar esse sofrimento? Não seria mais honesto, mais ético? 
Eu vejo uma hipocrisia enorme da sociedade no que diz respeito a adultério. Primeiro que continua sendo muito mais aceitável que homem traia, sempre naquele modelo de que, tadinho, ele não conseguiu se controlar (e alguma sirigaita o tentou). Depois que existe toda uma pressão para que o homem traído faça alguma coisa, para que se vingue, para que puna a mulher adúltera, porque a pior coisa que ele pode ser é corno. 
Nas redes sociais, não há apedrejamento coletivo para o homem que trai. Mas pra mulher que trai, putz, ela é condenada à pena de morte pelo júri popular. Depois de punir a mulher, esse mesmo júri se volta pra apedrejar o homem traído, o corno manso que perdoou a traição. Que não lavou sua honra. Mas corna não existe, né? Porque esperar que a mulher releve o adultério do marido é o padrão.
E esse júri popular é moralista, conservador, e quer ver sangue. Faz a gente perder a fé na humanidade constatar que não existe essa indignação coletiva pra barrar a violência contra a mulher, por exemplo, mas existe pra apedrejar adúlteras. E uma pulada de cerca é algo de fórum privado que deve ser resolvido apenas pelas partes envolvidas. O pessoal que insiste que em briga de marido e mulher não se mete a colher (e usa esse provérbio estúpido pra não interferir na violência doméstica) é o primeiro a se meter quando o assunto é traição.
E é ridículo que a gente precise lembrar sempre que adultério não é crime, pelo menos não no nosso país. Pode ser imoral e anti-ético, mas esse é um julgamento individual. Eu posso achar, sei lá, alface imoral (ô coisa mais sem gosto!), mas não posso mandá-lo pra cadeia ou pra cadeia elétrica baseado no meu julgamento. Só que tem gente que acha que suas ideias preconceituosas têm poder de lei. Não tem.
Portanto, Camila, o que posso sugerir é que você estabeleça seus valores, mas também os questione. Junto com seu parceiro ou parceira. Faça suas próprias regras, e não julgue as regras dos outros. O velho viva e deixe viver.




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