O ESPORTE DA MODA
Decidi travar guerra contra os mosquitos aqui na minha casa em Floripa. Curiosamente, na minha casa em Joinville não há tantos pernilongos. Deve ser porque, comigo longe, o lar não vê uma faxina faz tempos. Tenho uma conversa ilustrativa com o maridão pelo telefone, que atende morrendo de saudades. Eu suspeito e pergunto, romântica como sempre: "Ih... Você tá exagerando na saudade. Quequié? Acabou o dinheiro aí?". Ele: "Não, mas a casa tá tão suja...". Você pode estar pensando: que diachos mosquito tem a ver com isso? Pois é, meu desorientado leitor, acho que os mosquitos têm nojo da minha casinha em Joinville. A poeira excessiva não faz bem pra bronquite deles, sei lá. Só sei que todos vieram parar em Floripa. E eu cansei de colocar aqueles aparelhinhos elétricos que só os afastam do quarto. Quando preciso ir no banheiro à noite, lá estão eles, esperando por mim em fila indiana. Então agora é guerra. Passei a matar pernilongos com as mãos, na base do tapa. Quer dizer, eu tento. Alguns escapam. Tem outros que me dão rasantes, só pra provocar. Mas uma noite eu consegui matar sete! Parece pouco? Talvez pareça. O placar deve ter sido 7 a 70. Tentei 70 vezes e acertei 7, meio por sorte. Teve uns que gritavam "Olé!", os bandidos. Outros estão rindo até hoje. Mas sabe, toda vez que me pego numa dessas incessantes caçadas noturnas me lembro de um amigo. Ele conta que matou 35 numa só noite. Não sei se acredito. Ele tinha insônia e era japonês – provavelmente sabia kung-fu ou qualquer uma dessas artes marciais inventadas pelos chineses.
Eu realmente odeio mosquitos, mas a recíproca não é verdadeira. Eles me amam. Meu sangue é puro chocolate, e eles nem ligam pros noticiários que alertam sobre a obesidade mórbida ser um problema recente entre os pernilongos de Floripa. Afinal, eles podem perder peso se exercitando num esporte que é a nova febre da juventude mosquital: o Fuja da Lolinha. Os pernilongos se divertem, e os riscos à saúde são mínimos. Os cretinos!
DÚVIDAS PERTINENTES SOBRE MOSQUITOS
O que não entendo é por que os pernilongos nunca atacam o maridão. Ou será que eles só não o atacam quando ele está perto de mim? Ele diz que tem uma proteção natural porque é um exímio devorador de alho, mas o que eu acho mesmo é que os mosquitos olham pra ele, olham pra mim, e voam pra cima de mim, claro. O maridão é como se fosse um peito de frango pros mosquitos, e eu seria uma saborosa picanha. Até compreendo que eles me prefiram, mas sempre os aviso: "Olha o colesterol! Tudo que é gostoso faz mal! Comam carne branca!", e aponto pro maridão. Mas não tem jeito. Eles vêem em mim um buffet de sobremesas. E no maridão um rabanete. No entanto eu, sempre pensando em menus alternativos pros mosquitos, travei o seguinte diálogo com o maridão:
– Amor, eu tenho uma dúvida.
– Uma só? Você que é feliz.
– É uma dúvida pertinente, indispensável pra sobrevivência humana. O que eu quero saber é: pernilongo pica gatinhos e cachorrinhos?
– Não, com certeza não.
– Por que não?
– Porque eles têm pêlos. Hum, quer dizer, pica sim.
– Você tá demonstrando muita convicção na sua resposta, amore.
– Pois é, eu achava que não, mas de repente me lembrei dos dinossauros.
– O que tem a ver?
– É que os pernilongos picavam os dinossauros, como ficou cientificamente provado no filme do Spielberg.
– Dinossauros eram peludos?
– Talvez alguns tipos, mas eles eram como você, sabe, casca-grossa. E, se pernilongo consegue picar casca-grossa, consegue picar cães e gatos também.
– E pernilongo pica o Tony Ramos?
– Jamais!
Lembre-se da minha analogia: eu buffet de sobremesas, ele rabanete. Ou era repolho? De qualquer jeito, não existe mosquito vegetariano. E eu estou perdendo todo o meu sangue praqueles estúpidos.