Natal mortal
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Natal mortal


Nao me olhe assim, eu estou tao confuso quanto você


Contei como foi passar o Natal com os pais de Camilo, mas a provaçao real foi passar Natal com a familia da mae dele. No dia 26, fomos almoçar com a familia inteira e la vai Luci ter que (re)decorar todos os nomes de tios, tias e priminhos. Os bebês cabeçudos que vi no Natal de dois anos atras agora estavam andando, irreconheciveis. Chegamos às dez da manha porque Camilo seria o responsavel por acender o forno à lenha (na esperança de que os pernis ficassem prontos ao menos pro Natal de 2012). Enquanto meu querido se entretia com pernis alheios, eu esperava a vida passar sentada no sofa, com as maozinhas em cima dos joelhos. 

Fiquei assistindo com o avô de Camilo aqueles programas de auditorio. No momento, estavamos assistindo a um quadro com três casais onde o apresentador fazia perguntas às mulheres sobre a vida do casal, que haviam sido feitas anteriormente ao homem. Este deveria mostrar uma placa com a provavel resposta que a esposa daria. Fiquei tentando calcular o quanto isso poderia medir o entrosamento de um casal ao me dar conta de que, caso as perguntas fossem feitas à mim, julgariam que eu nao conheço Camilo, porque eu nao tinha idéia do que responder às perguntas feitas. Ja bastante cansada do besteirol, eu:   

- Sogra quirida, você ta precisando de alguma coisa?
- Nao, Luci, obrigada.
- Mas eu posso fazer alguma coisa.
- Nao, obrigada, querida.
- Minha senhora, entenda: eu quero fazer alguma coisa. 

Depois de uma certa pressao, ela me pediu pra descascar uma manga. Fui pra cozinha como se tivesse recebido A missao. Tipo assim, Papai Noel pedindo pra eu entregar os presentes porque ele esta impossibilitado, sabe. A manga, como eu, vinha do Brasil. Levei um papo com essa manga, mas ele durou pouco graças à minha grande eficiência e destreza no manejo de facas que permitiu que a manga estivesse descascada em um minuto. Foi o ponto alto do meu dia. 

- E agora, eu faço o que? :D
- Nada.

Voltei pro meu sofa. 

Esperei, esperei e as pessoas começaram a chegar. Cumprimentei à todos com um sorriso amarelo e esperançoso de que ninguém resolvesse ir além do cumprimento. Tipo assim, meu povo, eu sou mais do mato que Jeca Tatu e conversas sobrias com pessoas desconhecidas me deixam em estado de pânico. Alheia a este fato, uma tia de Camilo se aproxima e puxa assunto. Pensei em fingir um desmaio, mas talvez isso levasse ainda mais atençao sobre minha pessoa. "E se eu neutraliza-la com um golpe na nuca?", considerei. Melhor nao, é Natal, época de amor e paz. Luciana, que tal simplesmente responder à pergunta dela? Você é capaz, deixe de drama. E, quando vi, la estavamos nohs falando das galinhas. 

Camilo voltou do jardim com um cheirinho de fumaça e, a essa altura, eu ja estava com tanta fome que se tivessem colocado o casaco dele num prato, eu teria comido. Sentamos à mesa e ficamos esperando a boia. Quer dizer, o almoço. Seguindo o protocolo, depois dos aperitivos, que nao provei, tivemos a entrada. Meu coraçao se encheu de alegria quando vi camaroes em uma bandeja. E olha que eu nao como camarao. Quer dizer, nao comia. Mas com minha limitante dieta, era isso ou nada. No entanto, tive que recusar ponche, pistache, frutas, queijo, patê, pao, vinho, batata e feijao. Acho que a familia de Camilo deve ter pensado "nossa, que moça mais contida, nao é mesmo?" e eu la, quase comendo a toalha da mesa, as lombriga tudo gritando.


Como eu sou uma pessoa prevenida, preparei e levei um tomate recheado com ovo e queijo sem gordura. Parece bizarro. E era. E quem se impooortaaa? Comi e comi feliz. Logo em seguida, os pernis de Camilo apareceram no meu prato. Delicia. E pronto, essa foi a ultima coisa que pude comer. 

"Vocês nao tem idéia das coisas
que aparecem no Google quando
digitamos 'raspadinha'"
Uma prima de Camilo deu pra cada convidado uma raspadinha cujos prêmios eram de 1€, 2€, 6€, 20€, 100€, 500€ e 1000€. Tratava-se de um jogo da velha com os prêmios indicados nas linhas e colunas. Algumas pessoas chegaram a ganhar 2€, mas a grande vencedora do dia fui eu: ganhei um super prêmio de 6€! Fiquei ainda mais animada com o ganho quando vi, no verso do bilhete, que soh havia 7 mil prêmios de 6€. Alguém ainda me deu seu bilhete premiado de 2€, o que fez com que eu saisse daquele almoço 8€ mais rica. Fiquei imaginando o que eu faria com tanto dinheiro. 

Em seguida, pedi a Camilo pra darmos uma volta pelo bairro. A idade avançada do avô de Camilo (mil anos) e o fato dele estar na maioria do tempo numa cadeira de rodas esperando a morte chegar, fez com que Camilo e eu entrassemos numa discussao sobre morte, eutanasia e todas essas questoes apropriadas pra uma época de Natal. Ele disse que nao gostaria de viver em estado vegetativo e que respeitaria minha vontade caso eu quisesse partir dessa vida. Pegando o gancho e lembrando do programa de auditorio visto naquela manha, eu disse:

- Ah, olha, se um dia eu engravidar...
- Hum.
- ...e sofrer um acidente grave...
- Sim...
- ...e o médico disser "ou ela ou o bebê", você me escolhe, viu?
- Eh?
- Eh. 
- Por que?
- Porque um bebê a gente pode fazer de novo, mas outra Luci nao.
- Ta bom.

Silêncio. 

- Alias, alias! Depende. Se eu soh tiver 10% de chance de sobreviver, escolhe o bebê, ta?
- Ah, nao! Escolhe logo agora! Eu nao quero ter que escolher!

O bixinho ficou tao aflito em ter que saber o que fazer caso eu ficasse gravida e caso sofresse um acidente grave e caso o médico so pudesse salvar uma pessoa... O que importa é que, caso a gente participe de um programa de auditorio com esse jogo de casais, a gente acertaria a questao - caso ela fosse posta. 

Depois dessa conversa, voltamos pra casa e, sobre a mesa, a sobremesa. Umas pêras, calda de chocolate, uns doces que a mae de Camilo havia trazido de uma viagem à Turquia e, claro, chocolate. Eu nao sou do tipo que vende a mae por um pedaço de chocolate, mas passei momentos dificeis ao ver o pessoal se deliciando em meio a todo aquele cacao. Desejei a morte daquelas pessoas, queria que elas engasgassem e morressem entaladas. Foi um Natal tranquilo. 







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