No lugar de piadas machistas, vamos transformar o machismo em piada! #BlogagemColetiva
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No lugar de piadas machistas, vamos transformar o machismo em piada! #BlogagemColetiva


A proposta dessa blogagem coletiva começou fruto de uma conversa no twitter entre várias pessoas que, felizmente, se indignaram com as frases proferidas pelos pseudo-humoristas do #CQC. 

Frases já transcritas no post anterior a esse, que incitavam a violência contra a mulher (ao dizer que estupradores deveriam ser abraçados), que coibiam a amamentação materna em lugares públicos, entre outras pérolas.

A partir dessa conversa e dado alguns comentários feitos no post anterior, percebi que há muita dúvida em relação a algumas coisas, por isso, antes de realmente começar dar minha opinião é preciso respondê-las.

Dois temas foram muitas vezes reiterados em defesa dos humoristas: O primeiro é sobre “Liberdade de Expressão” – alegando-se que como é humor, pode-se falar sobre tudo da maneira que melhor apetecer o interlocutor. O segundo é exatamente sobre o “humor”. Uma espécie de território libertário, onde o politicamente incorreto surge como bandeira. 

Começando então por Liberdade de Expressão, que segundo a wikipedia:
É o direito de manifestar livremente opiniões, ideias e pensamentos. É um conceito basilar nas democracias modernas nas quais a censura não tem respaldo moral.
A liberdade de expressão é um direito fundamental consagrado na Constituição Federal de 1988, no capítulo que trata dos Direitos e Garantias fundamentais e funciona como um verdadeiro termômetro no Estado Democrático. Quando a liberdade de expressão começa a ser cerceada em determinado Estado, a tendência é que este se torne autoritário. A liberdade de expressão serve como instrumento decisivo de controle de atividade governamental e do próprio exercício do poder. (...) A divergência de idéias e o direito de expressar opiniões não podem ser restringidos para que a verdadeira democracia possa ser vivenciada.
Passemos agora, para o que se pode entender sobre Humor: para isso utilizarei aqui da definição de alguns filósofos: 
"Entendemos o humor como qualquer mensagem - expressa por atos, palavras, escritos, imagens ou músicas - cuja intenção é a de provocar o riso ou um sorriso. (...) (BREEMER e ROODENBURG, p.13, 2000) 
"O simples ato de compartilhar o riso era mais importante do que o conteúdo específico ou o impacto imediato de qualquer piada ou caricatura. Rir junto significava participar de uma cultura comum, uma forma de comunicação sobre assuntos de interesse mútuo. Assim sendo, o humor ajudava a construir um espaço público, um campo ou arena onde poderiam ser discutidos todos os tipos de idéias, fossem elas políticas, sociais ou morais. As visões expressas dentro deste espaço público nunca eram monolíticas ou uniformes. O humor popular estabelecia um sentido de comunidade entre os participantes mas, ao mesmo tempo, ajudava a definir e a esclarecer as diferenças dentre daquela comunidade. (TOWNSEND, p. 228)
fonte:  Faber Ludens
Logo, podemos entender que as pessoas se relacionam mais facilmente através do humor. E que aquilo que faz rir diz muito sobre as pessoas e sociedade em que vivemos.

Mas, a pergunta que permeia os últimos acontecimentos é: há limite pro humor? Pra isso, utilizo a resposta do cartunista Laerte, que em uma entrevista afirma que:
Não, não tem que ter limites. O que a gente tem que ter também é uma crítica ilimitada. O humor tem que ser solto como qualquer linguagem humana tem que ser solta e livre, o que a gente tem é que ter o direito de exercer o poder da crítica sobre isso permanentemente. Então você dizer que uma piada é racista, ou sexista, e argumentar nessa direção, não é censurá-la, é exercer seu direito de crítica. 
Read the rest at Vice Magazine: LAERTE - Vice Magazine 

Esclarecido esse pontos, podemos enfim, entrar no âmago da questão. Por que as “piadas” desse pseudos-humoristas incomodaram tanto. Para começar, quero deixar claro, que não são apenas eles que proferem esse tipo de piada, infelizmente, nossa sociedade caminha cada vez mais para um retrocesso nas conquistas femininas. 

Nossas amigas que queimaram sutiãs devem hoje estar se revirando nos túmulos ao ver tantos direitos duramente adquiridos sendo rasgados. Muitas vezes, por nós mesmas. 

Ser feminista hoje é quase uma ofensa para algumas pessoas. A frase que mais ouço é: eu sou contra os extremismos, não sou feminista, mas sou feminina. Como se uma coisa aniquilasse a outra. 

Eu sou feminista – e digo isso de cabeça erguida – e feminina! Não quero ser maior/melhor do que o sexo oposto. Só quero – e luto para isso – ser cidadã igual aos homens, detentora dos mesmos direitos e deveres.

Ser feminista é um contra-ponto ao machismo, mas não é o seu oposto. O machismo é fruto de uma cultura preconceituosa, muitas vezes misógina, que parte do pressuposto que as mulheres existem em função do outro. O que eu visto, o que eu penso, o que faço, tudo isso é devido a uma coexistência permitida pelo homem. Exemplificando: se uso uma saia mais curta ou um decote mais ousado, é para seduzi-los, se questiono meus direitos, é por que me falta um “pau”, se amamento meu filho na rua, é por que quero expor meus seios para os homens, se sou estuprada, é devido a minha conduta imprópria em relação a eles....

E, é nessa cultura, que pseudos-humoristas sobrevivem. Incapazes de fazer um humor que revolucione, utilizam-se de chavões e preconceitos arraigados. 

Mas, quando questionamos essa prática, recebemos como resposta: Mas, eles tem direito de falar o que querem, e a liberdade de expressão. Se não gostou, muda de canal, não leia o que escrevem, não vá ver a peça deles! 

Ok. Mas, e quando o programa passa numa tv aberta, numa concessão dada pelo poder público? Poder que sobrevive graça a meu voto e aos meus impostos. Eu tenho o dever, não só o direito de criticar, não é proibir que eles emitam opiniões preconceituosas, mas questionar essa fala, dizer que eu não gosto e como cidadã, tenho que ser escutada. Afinal, não é nessa cultura que quero que meu filho cresça.

Segundo, ao dizer que estupradores devam ser abraçados, no lugar de serem punidos, e que eles fazem um favor a mulher, ao estuprá-las, este senhor Rafinha Bastos, ultrapassa o espaço legal. Afinal, apologia ao estupro – que é uma prática criminosa – é crime! E, ele tem que responder LEGALMENTE pela sua fala.

Terminando, sobre a questão do Mamaço – ou o direito da mãe amamentar seu filho, onde e quando for necessário, remeto a dois itens do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Título I
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Título II
Capítulo I: Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade.

Traduzindo, embora, para mim, isso esteja bem claro: amamentar seu filho é mais que um direito da mãe e da criança, é um dever. 

Logo, constranger a mãe  sobre esse seu ato de amor, através de pedidos para se retirem do ambiente, piadas e/ou insinuações sexistas, é também um crime, dado o teor do Estatuto.

Completo essa tradução com um comentário do Marcelo Daltro feito no post anterior:
“ Ao lançar o álbum Nevermind do Nirvana, Kurt Cobain foi questionado sobre a imagem do bebê nu na capa, porque poderia remeter a algo sexual, e ele respondeu que só um doente mental veria algo de sexual em um bebê nu.”
Da mesma forma, acrescento, só um doente mental, poderia comparar a amamentação materna com quaisquer atividades  de cunho sexuais.

E, para encerrar de vez esse post, e segundo a definição sobre Liberdade de Expressão: todos temos o direito de expressar nossa opinião. Ser proibido através de qualquer manifestação de força – processos judiciais inclusive – é uma forma de tentar cerceá-las. 

Dessa maneira, a liberdade dos integrantes do grupo do #CQC em falar suas sandices é a mesma que nós temos de dizer que não concordamos com a opinião dos mesmos e que acreditamos que suas falas, são machistas, preconceituosas e misóginas. 

Quando um integrante do grupo ameaça a blogueira Lola de um processo judicial, por ela ter emitido uma opinião contrária a fala do mesmo, se utiliza de um método de coerção (dado a diferença de status na mídia do mesmo em relação a blogueira), ou censura, como é vulgarmente conhecido, prática alias, muito condenada pelos integrantes desse programa. Que ironia!

Esse post faz parte de uma #BlogagemColetiva, onde outros tantos indignados, mas que se recusam a se calar, escreveram, convido a todos a lerem os links dos participantes e se quiser participar. será muito bem vindo, deixe nos comentários o link do post para que possa colocá-lo aqui.

Iara  - Onde mamaram esses imbecis?
Anabel Mascarenhas - O Meu Mamaço é Virtual
Débora Gérbera - Marcelo Tas ameaça Blogueira
Alexandre Mauj - A Piada Sem Graça da Jurema Cajazeira
Celina Dutra - Matar a Liberdade é Promover o Autoritarismo
Luci Cardinelli - Vida: O Direito de Falar e o Dever de Respeitar
Lilian Brito (@morenalilica) - Liberdade de expressão? Valha-me Deus!
Paola - Blogagem Coletiva
Aninha Cavalari - Amamente
Telma Maciel - Liberdade de Expressão e Respeito ao Próximo

Outros que também já escreveram sobre o tema:
Lola Aronovichi - #CQC vai pra PQP
Srta.Bia - Estupro no dos outros é refresco e Ainda sobre o Humor
Bianca Lanu -  Derrama o leite bom sobre a minha cara
Rede Mulher e Mãe - Blogagem coletiva: Eu Digo Basta e Você?
Patricia (@Dona_amelia) - Desabafo: Piada Custe o que Custar, é certo isso?




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