Por Altamiro BorgesO debate da Band desta terça-feira (14) continua gerando polêmica nas redes sociais. A mídia tradicional, descaradamente tucana, garante que não houve vencedores. Já os ativistas digitais contra-hegemônicos festejam o desempenho de Dilma Rousseff, que teria dado uma surra no cambaleante Aécio Neves. Nesta controvérsia, porém, uma opinião me chamou a atenção. O jornalista Ricardo Noblat, famoso por sua absoluta independência e por não torcer por nenhum dos lados, decreta em seu blog hospedado no imparcial O Globo: “Dilma venceu Aécio no debate da Rede Bandeirantes”. Os seus fieis leitores, que fazem parte da gente informada de FHC, devem ter ficado muito irritados com esta confissão.
O neutro blogueiro da famiglia Marinho afirma que “Dilma conseguiu enfrentar Aécio de igual para igual” e superou até o seu “raciocínio confuso”. Imparcial e generoso, ele ainda questiona: “Onde estava a Dilma que não consegue dizer algo com começo, meio e fim? Surpreendentemente ficou em casa. Onde estava a Dilma que aprecia citar um monte de números? Recebeu uma lavagem cerebral e esqueceu os números. Aécio não esteve mal. Apenas foi surpreendido por uma Dilma que fez direitinho seu dever de casa com o marqueteiro João Santana”. Não há nestas singelas perguntas e respostas nada de machismo ou de torcida! Como sempre, Noblat é um exemplo da imparcialidade no jornalismo nativo!
Para o serviçal do Grupo Globo, a presidenta venceu porque foi mais incisiva e direta. “Chamar Dilma de leviana ou de mentirosa não acrescenta votos a Aécio. Pode até soar como indelicadeza aos ouvidos mais sensíveis. Dizer que Aécio empregou os parentes quando governou Minas é uma coisa que todo mundo entende e pode guardar na memória. Dizer que ele responde a processo por improbidade administrativa, também. Enumerar os escândalos do governo de Fernando Henrique que ficaram impunes, idem. Dilma sapecou em Aécio acusações de forte apelo popular. A recíproca não foi verdadeira”. Para ele, que não “torce por um lado ou pelo outro”, Dilma deu uma surra no tucano!
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Em tempo: Noblat só não comentou o constrangimento do tucano quando a presidenta lhe perguntou sobre a violência contra as mulheres. De imediato, nas redes sociais, muitos ativistas lembraram que Aécio Neves já foi acusado de bater na namorada. No debate da Band, quem apanhou foi o playboy mineiro-carioca. Para refrescar a memória sobre este caso, que logo foi abafado pela mídia tucana imparcial e neutra, reproduzo abaixo trechos de uma reportagem publicada no jornal Hora Povo, quando este veículo tinha uma postura mais lúcida e combativa nos embates políticos:
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Governador de Minas agride namorada em festa de luxo
Hora do Povo, 04/11/2009
A moça recebeu a pancada, caiu, revidou e depois cada um foi para um lado, dizem testemunhas
Uma das testemunhas oculares da agressão perpetrada pelo governador Aécio Neves no domingo, 25 de outubro, em meio a uma festa promovida por um estilista da Calvin Klein no Hotel Fasano, do Rio de Janeiro, descreveu a cena da seguinte forma:
“Visivelmente alterado, ele deu um tapa na moça que o acompanhava - namorada dele há algum tempo. Ela caiu no chão, levantou e revidou a agressão. A plateia era grande e alguns chegaram a separar o casal para apartar a briga. O clima, claro, ficou muito pesado”.
Imagine o leitor que essa testemunha ocular é a colunista social Joyce Pascowitch, que, de repente, sem que desejasse tal metamorfose, passou de cronista de grã-finos a repórter policial. A nota de Joyce Pascowitch é intitulada “Nelson Rodrigues”, em referência ao teatrólogo que pregava que “mulher gosta de apanhar”.
A colunista social não revelou o nome do agressor. Disse que era “um dos convidados mais importantes e famosos da festa que o estilista Francisco Costa, da Calvin Klein, deu na piscina do hotel Fasano, no Rio, nesse domingo”. Embora, pelo encadeamento das notas sobre a festa, em seu blog, fosse mais ou menos claro quem era o sujeito.
Dias depois, Juca Kfouri, em nota intitulada “Covardia de Aécio Neves”, foi direto:
“Aécio Neves, o governador tucano de Minas Gerais, que luta para ter o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte, deu um empurrão e um tapa em sua acompanhante no domingo passado, numa festa da Calvin Klein, no Hotel Fasano, no Rio. Depois do incidente, segundo diversas testemunhas, cada um foi para um lado, diante do constrangimento geral”.
Depois de pregar que “a imprensa brasileira não pode repetir com nenhum candidato a candidato a presidência da República a cortina de silêncio que cercou Fernando Collor [e o Fernando Henrique?], embora seus hábitos fossem conhecidos”, Kfouri fez a seguinte anotação: “... o blog recebeu nota da assessoria de imprensa do governo mineiro desmentindo a informação e a considerando caluniosa. O blog a mantém inalterada”. A agredida foi Leticia Weber, uma modelo de 24 anos.
(...)
A questão é que Serra, Aécio, Fernando Henrique, esse tipo de gente, não é capaz de amar ninguém. São todos uns narcisistas doentios. Byron disse uma vez que quem não ama a sua pátria, não ama coisa alguma. Com os tucanos da cúpula, o caminho é inverso: eles não amam a pátria porque não amam ninguém. Um, já presidente da República, tratava a mulher, nos papos com um proxeneta, como “megera”. Outro, governador do segundo ou terceiro Estado do país, senta a mão na namorada, a ponto dela cair no chão, no meio de uma festa, sem se importar com a seleta assistência ou sem conseguir se conter mesmo diante de tal público.
Serra, o que passa álcool nas mãos depois de cumprimentar alguém do povo, até agora, que se saiba, não bateu na mulher. Apenas, segundo seu ex-amigo Flávio Bierrenbach, agora ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, “Serra entrou pobre na Secretaria de Planejamento do Governo Montoro e saiu rico. Ele usa o poder de forma cruel, corrupta e prepotente. Poucos o conhecem. Engana muita gente. Prejudicou a muitos dos seus companheiros. Uma ambição sem limite. Uma sede de poder sem nenhum freio”.
Não por coincidência, são os mesmos que liquidaram o patrimônio brasileiro, devastaram a economia nacional e infelicitaram milhões de pessoas. Todos eles, aliás, sempre pregaram que sua vida pública é tão imaculada quanto sua vida privada, apesar de uma nada ter a ver com a outra. Caifás, o sumo sacerdote dos fariseus, era um São Francisco perto dessa espécie de gente.
O fato que hoje comentamos, certamente só teria a importância que leva a um boletim de ocorrência na delegacia, e a fazer o agressor sentar no banco dos réus, se o indigitado não fosse governador de Minas e pré-candidato a presidente do PSDB.
E se não fosse o abafamento completo do fato pela mídia, com as duas exceções que registramos – e apenas em seus blogs.
Obviamente, eles nunca vão ver Lula praticando um ato semelhante. Isso é negócio de janotas transviados, desses que abundam no PSDB. Mas, só para raciocinar, imaginemos que isso acontecesse com alguém do governo ou um apoiador do governo. Há alguma dúvida sobre o carnaval que ia ser aprontado ao redor do fato?
Não é uma surpresa que a mídia serrista também haja aderido ao abafamento. Eles sabem que o cachação de Aécio na namorada não é um problema só para Aécio. Afinal, ele está muito bem acolhido dentro do PSDB – não há nada em Aécio que destoe do conjunto da cúpula tucana.
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