Por Altamiro BorgesPara a alegria dos rentistas e da mídia tucana, na semana passada o ministro Garibaldi Alves (PMDB-RN) defendeu de forma marota uma nova contra-reforma da Previdência Social. Para ele, o atual sistema é "injusto", porque o trabalhador se aposenta "muito cedo". O ministro também aproveitou para anunciar que o fim do nefasto "fator previdenciário", criado no governo FHC para arrochar pensões e aposentarias, não é prioridade do governo Dilma. "Não há possibilidade do fator ser extinto simplesmente", afirmou.
As declarações do ministro da Previdência Social revoltaram as entidades dos aposentados e o conjunto do sindicalismo, que reivindicam o fim do fator previdenciário e se opõem a qualquer retrocesso no setor. Para os trabalhadores, o ministro é que foi "injusto". De fato, o ministro Garibaldi Alves falou besteira. Injusto no Brasil é o drama dos aposentados e dos pensionistas, que são tratados como bagaços após serem sugados durante dezenas de anos no trabalho aviltante. Injusto no Brasil são os péssimos salários dos trabalhadores, num ponta; e na outra, os lucros exorbitantes dos banqueiros e rentistas.
R$ 194,8 bilhões de juros
Já que está tão preocupado com as "injustiças", o ministro Garibaldi Alves devia criticar o péssimo uso dos recursos públicos. Somente nos primeiros onze meses do ano passado, o governo federal desembolsou R$ 194,8 bilhões (4,85% do PIB) para pagar juros a uma minoria de agiotas financeiros. Desde total, R$ 157 bilhões foram transferidos diretamente para os bancos. O superávit primário - nome fictício da reserva de caixa dos rentistas - continua sendo feito em detrimento de maiores investimentos na infraestrutura e nas áreas sociais - incluindo a Previdência Social.
R$ 488,6 milhões de empréstimo para Soros
Já que está tão angustiado com as "injustiças", o ministro devia questionar o recente empréstimo do BNDES à empresa Adecoagro, do megaespeculador mundial George Soros. Num tacada, o banco público doou R$ 488,6 milhões para a implantação da sua nova usina de açúcar e etanol no município de Ivinhema (MS). Ele também poderia criticar outros generosos subsídios do governo federal a poderosas corporações, inclusive através da desoneração da folha de pagamento que reduz as receitas da própria Previdência Social.
50,6% dos trabalhadores com salário mínimo
Ao invés de pregar uma nova contra-reforma, Garibaldi Alves deveria brigar pela elevação dos salários dos trabalhadores, que aquecem o mercado interno e reforçam o próprio caixa da Previdência Social. Segundo o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas (Dieese), do total de 87.923.586 de pessoas empregadas no país, 50,6% ganham até um salário mínimo, 85,4% até dois mínimos e apenas 14,6% recebem acima destes valores. Como nordestino, o ministro devia saber que os trabalhadores da sua região são os recebem os menores rendimentos - 73,8% ganham até um salário mínimo. Isto sim é que é "injusto"!
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