Geral
O amor é mudo
É impossível não reparar na rapariga que lê, sentada sozinha na sua mesa do Caffe di Roma do Rato. É bela como as actrizes dos filmes franceses cheios de clichés do género: uma mulher bonita que lê poesia num café. Acrescente-se que a noite está fria e que ela bebe chá. O vapor não parece incomodar-lhe a leitura. À primeira vista esta mulher é perfeita dentro do lugar-comum do romântico: é linda, está só, lê. Deve ter tudo e, se não tem, pode decidir o momento de o ter. Súbito chega um rapaz bonito. Os sorrisos dos dois são próprios de comédia romântica. Trocam um abraço, um carinho recíproco e simultâneo no cabelo um do outro. E começam a falar, alegremente, de forma compulsiva, como se tivessem saudades, muitas saudades.
Mas não ouço nada, estou na mesa ao lado e não ouço nada. Deixo-me hipnotizar pelos seus gestos. Ele senta-se com ela. Continuam a falar sem que nada se ouça a não ser um muito suave som de respiração, um sussurro de ar que foi o que lhes ficou da voz. Ela mostra-lhe o livro e parece claro que falam dele. Falam daquele poeta desconhecido, partilhado a esta hora por dois mudos na mesa de um café.
A que soarão aqueles versos? Que som escutarão os dois apaixonados no interior do seu silêncio? Dizem que a poesia é para ser ouvida. Concordo. E invejo o poeta que toca misteriosamente dentro dos seus ouvidos, atrás das suas pupilas, no processar dos seus pensamentos. Invejo o silêncio da página branca com algumas linhas - cuja música só eles dois conhecem, tal qual uma língua morta ou que ainda está por nascer.
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Celulares Luis Fernando VerÍssimo
ESTADÃO - 28/07 Eles fazem de tudo. Só falta falar Cinco numa mesa de bar, comparando seus celulares. Um diz: ? O meu não só mostra quem está chamando como avisa se for um chato. ? O meu ? diz outro ? acessa a Internet, faz café, dá palpites...
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Voyeurismo Inocente
Na rua, me chego à janela e a bela, que ilumina a sala, não fala. Ela lê somente. Pressente que eu estou tão perto? Decerto ela me ignora, embora isso eu jamais saiba nem caiba a mim descobri-lo. Aquilo então me inspira versos diversos, falando...
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Lolinha ProdÍgio
Euzinha quando criança. Comecei a escrever um pouco tarde, com sete anos (acho que as crianças de hoje são alfabetizadas antes). Mas, desde que comecei, não parei mais. Aos sete já tinha um livro em branco que eu preenchia com desenhos e poesias....
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A Páginas Tantas
Ao acabar o enésimo livro de poesia, "The good neighbour" de John Burnside (este uma prenda de anos) dou-me conta - ao pô-lo na estante dos seus companheiros de género - de um hábito antigo: as páginas que deixo dobradas no interior destes livros,...
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O Poeta Nu
Em mecânico zapping após uma noite em branco, ouço - súbito - uma voz sedutora anunciar, convicta, a estreia absoluta do filme "A Anfitriã da Casa dos Sonhos". A poesia do título desperta-me. Em que canal estou? Telecine Gallery, Arte, Hollywood,...
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