O Brasil imaginado - MERVAL PEREIRA
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O Brasil imaginado - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 25/08
Talvez o Brasil precise de um pouco mais de mau humor e receio do futuro para realizar suas utopias, como comentou o historiador José Murilo de Carvalho, coordenador do ciclo de palestras "Futuros do presente: o Brasil imaginado", em que a Academia Brasileira de Letras vem debatendo os diversos aspectos do nosso projeto de país.
O ex-presidente e acadêmico Fernando Henrique Cardoso abriu a série, destacando a importância do soft power no mundo atual, seguido pelo ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Ipea, Marcelo Neri, que falou sobre o futuro social do país, e pelo professor da USP Jacques Marcovitch, que abordou o futuro internacional. O ciclo se fecha na terça-feira, com a palestra do escritor Silviano Santiago, prêmio Machado de Assis 2013 da ABL, sobre o futuro cultural.

O comentário de José Murilo se deveu a dois tópicos dessas palestras, pois Neri ressaltou que o Brasil é heptacampeão em felicidade futura, de acordo com pesquisas em 160 países, e Marcovitch, que os países que mais se destacaram nos últimos anos na capacidade de enfrentar a crise econômica e de se readaptar ao novo mundo multipolar têm, entre as características comuns, a consciência dos riscos que correm, "uma sensação de risco que leva a que pensem estrategicamente".

Neri separou os grandes avanços alcançados pelo país nos últimos 50 anos por décadas, ressaltando uma curiosidade: todas as grandes transformações ocorreram em anos terminados em 4: o golpe de 1964, inaugurando um período de crescimento econômico, com aumento da desigualdade e falta de liberdades; em 1974, depois do choque do petróleo no ano anterior, começa a abertura política; processo lento que atinge o ápice em 1984 com a campanha das "Diretas Já", iniciando a década da redemocratização, mas da instabilidade política e econômica.

As décadas seguintes foram a da estabilização, com o Plano Real em 1994, e a da redistribuição de renda e queda da desigualdade, a partir de 2004, com a eleição de Lula no ano anterior, e o surgimento do que ele chamou de "a nova classe média". "Agora, temos as manifestações e não sabemos o que esperar para 2014", ressaltou, salientando que as reivindicações das ruas refletem as prioridades brasileiras atuais: melhoria na saúde e educação, e combate à corrupção.

Dar mais acesso aos serviços do estado, este deve ser o objetivo do futuro: "Colocamos uma massa de brasileiros no mercado, e agora temos que dar mais mercado para essas pessoas". Neri chamou a atenção para novas pesquisas que mostram que, embora a felicidade e a renda tenham correlação muito próxima, no Brasil ela é menos forte.

"Somos felizes como fator cultural, o otimismo é nossa característica", disse, citando uma pesquisa sobre a satisfação com a vida nos próximos 5 anos, na qual o Brasil se sagrou o "heptacampeão mundial de felicidade futura".

Já Marcovitch salientou a necessidade de o país ter visão estratégica para alcançar seu lugar no futuro, que deve ser "nossa luta de todos os dias".

Marcovitch buscou países que "podem ajudar a pautar nossa agenda de construção do futuro" entre aqueles que têm conseguido melhorar sua situação no período de 2008 a 20012, apesar da crise. Países que do ponto de vista do bem-estar, de segurança, de inovação, de capacidade de integrar vários segmentos sociais, conseguem superar os problemas.

Entre eles, Austrália, Israel, Holanda, Hong Kong, Coreia, Singapura. Eles têm algumas das melhores universidades, "o que revela a preocupação com as próximas gerações, com a inovação, com as humanidades, a cultura".

Esses seriam "estados estratégicos", países com capacidade de inovação tecnológica. Alguns deles, apesar de permanentemente ameaçados, conseguem se manter no topo da lista por terem consciência dos riscos que correm - riscos ambientais, de segurança, econômicos.

São países que têm forte identidade cultural e se destacam pela qualificação de sua governança. Marcovitch destacou "a capacidade de perceber e de transmitir a seus cidadãos as perspectivas reais dos riscos que esses países correm. Essa consciência de risco passa a se constituir em uma agenda de prioridades".

O Brasil, pela sua dimensão continental, precisaria criar mais espaços de reflexão fora do centro-sul, e pensar seu futuro a partir das especificidades de suas regiões: "A construção do futuro depende da conexão entre academia e sociedade na construção de um sonho, de uma utopia".




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