O CARA QUE QUIS IMPRESSIONAR COM JANTAR CARO
Geral

O CARA QUE QUIS IMPRESSIONAR COM JANTAR CARO


Esta história foi uma querida leitora de João Pessoa que me contou, quando saí com ela e amigas para um agradável papo num bar na praia, depois de uma palestra. Fiquei boquiaberta e decidi compartilhar com vocês. Espero que ela -- que não é parte direta desse relato -– não ligue. 
Era uma vez um aluno de medicina em São Paulo que queria muito impressionar uma moça. Para tanto, a levou para jantar num restaurante caro, o Fasano. Eu não sabia disso, mas parece que o Fasano tem dois menus: um para homens, outro para mulheres. O cardápio pros homens vem com os preços; os das mulheres vem sem. Só que, por descuido do garçom, os dois cardápios vieram iguais, ambos sem preço. O rapaz ficou com vergonha de exigir o cardápio “masculino”, e foi pedindo as coisas sem saber o custo. No final, veio a conta. Quanto você acha que saiu o jantar?
Chuta aí.
Chute um preço bem alto. Até agora não vi ninguém acertar.
Devo dizer, orgulhosamente, que o maridão foi a pessoa que chegou mais perto, e olha que ele, pão duro miserável que é, não tem noção de preço. Ele chutou 3 mil reais.
E errou feio.
A conta daquele jantar a dois no Fasano? Oito mil reais.
A primeira reação do rapaz foi ir ao banheiro vomitar. É, ele passou mal, mas tentou disfarçar. A segunda reação foi pagar a conta com um cheque sem fundo. A terceira foi ir ao restaurante no dia seguinte, explicar a situação, dizer que não tem esse dinheiro, pedir desculpas, e parcelar a conta em quatro pagamentos mensais de 2 mil reais cada. Uma bolada.
Bom, por um lado fico com pena do cara. Ele também é vítima de uma sociedade machista que insiste que o homem deve ser o provedor. Eu discordo. Creio que devemos rachar a conta na maior parte dos casos. Neste caso em particular, sabe quando eu iria a um restaurante tão caro? Nunca. Sou contra. Eu não ganho pra isso, nunca compraria alguma coisa sem saber o preço, e além do mais, é só comida, que com sorte irá embora na manhã seguinte. Não acho que exista refeição que valha 8 mil reais (parece que tomaram champanhe importado; eu não bebo). Pô, não acho que exista jantar que valha mais que 200 reais pra duas pessoas. E eu tô falando por falar, porque o máximo que costumo pagar é 80 pra duas pessoas (e tô indo demais num rodízio que cobra isso; foram três vezes nos últimos dois meses!).
Quando saio com o maridão, quase sempre pago a conta. Durante toda nossa vida juntos sempre houve variação em quem tinha o maior salário, um ano era ele, outro era eu, outro era igual (somos ambos professores). Mas agora sou professora universitária. Eu ganho mais, eu pago. Não temos nenhum problema com isso. Ele não é menos “másculo” (aliás, o que é ser másculo?) por não pagar um jantar. Eu não sou menos “feminina” por pagar (o que é ser feminina?). Somos independentes, livres e felizes. Não aceitamos essa camisa de força que a sociedade quer nos vestir.
Vivemos juntos e, embora tenhamos contas separadas, o que é dele é meu, o que é meu é dele. Muitas vezes, porém, saio sem bolsa e sem bolso, então ele fica com o dinheiro ou o cartão e paga, só que o dinheiro sai da minha conta -– e daí? A ironia é que os machistas que reclamam que mulher não quer direitos iguais porque quer que o namorado pague a conta blablablá são os mesmos que vão considerar meu casamento uma abominação porque não é o maridão que paga o jantar. Quer dizer, eles já acham meu casamento uma abominação só pelo fato de uma feminista ser casada.
Não sei se é por eu e o maridão não termos frescura em quem pede as bebidas (água sem gás) ou a conta, ou se é por causa da nossa idade avançada, mas os garçons que têm nos atendido quase sempre trazem a conta pra mesa, sem assumir que quem irá pagar será o homem. Ou trazem direto pra mim. Não temos visto machismo da parte deles.
Mas uma amiga minha em Fortaleza, com quase metade da minha idade, conta uma história diferente. Primeiro que ela já foi a um restaurante aqui que tinha cardápio com preços pra homens, e sem pra mulheres. Eu não entendo bem isso, porque se o cara quer impressionar, não seria bom se a mulher soubesse que a gororoba é cara pacas? Mas, enfim, o que a deixa indignada é que muitas vezes, depois d'ela pedir alguma coisa, o garçom olha pro namorado dela pra confirmar se é isso mesmo, como se ele tacitamente perguntasse pro namorado: “Ela pode pedir isso?”. Arghhhh.
No caso deles, eles namoram há cinco anos. Ele trabalha e ganha muito bem, ela é estudante e não ganha nada. Ele paga, e tudo bem. Se eles rachassem a conta, ela não poderia sair pra comer. Impera o bom senso.
Creio eu que quando há um relacionamento estável que não está mais no seu início, esses detalhes como quem paga a conta não importam mais. Que isso só vale pra quem ainda não se conhece direito. Ou estou sendo otimista e pensando que a minha realidade sem machismo se aplica a muito mais gente?
A propósito, sobre a historinha (real) do jantar no Fasano: a moça não se impressionou. Não houve um segundo encontro. Pra impressionar uma pessoa é preciso mais que uma refeição cara.




- Restaurante Cobra Mais De Homens Em Ação Contra Discriminação Salarial
Imagine jantar em um restaurante e ser surpreendido com uma conta 30% mais cara só porque você é homem. Foi o que fez o restaurante Ramona, na região central de São Paulo, em uma campanha para sensibilizar os fregueses sobre a desigualdade de salários...

- Quem Acredita Em Igualdade Racha A Conta
Faz tempo que venho querendo escrever um post sobre esse assunto espinhoso que é dividir a conta. Infelizmente, estou fora do mercado há quase 21 anos, então não sei muito bem como é o procedimento hoje em dia, se os namorados e futuros amantes saem...

- Eu Fico Com O Apartamento
Aquele cenário de começar a poupar cedo não vale só pra aposentadoria. Vale pra quem tem filhos e quer tornar a vida deles mais fácil. Faz uns dois anos, li um artigo interessante num jornal. Haviam acabado de lançar um celular para crianças de...

- Dois Pombinhos Apaixonados
Ontem o maridão e eu comemoramos 18 anos juntos. De casados no papel mesmo só temos um ano e pouco, eu acho, mas a data que vale é quando nos conhecemos, porque logo no dia seguinte começamos a namorar (eu contei toda a história romântica aqui)....

- Amiga é Para Essas Coisas
Um domingo qualquer, recebe um telefonema às 10 horas da noite. - Poli?- Lana?- Você está muito ocupada?- Não? Algum problema?- É... Mais ou menos... É que perdi minha carteira... Acho que foi no BarX. - um barzinho que freqüentavam sempre que...



Geral








.