Por Altamiro BorgesMilionária anunciante dos meios de comunicação, a empresa Vale – que controla metade das ações da criminosa Samarco – continua sob a forte proteção dos jornalões, revistonas e emissoras de rádio e tevê. O seu nome sequer é citado nas matérias que tratam da tragédia em Mariana, no interior mineiro. Isto não quer dizer, porém, que os seus crimes já tenham sido esquecidos pela população e pelos poderes públicos. Nesta terça-feira (23), a Polícia Civil de Minas Gerais pediu a prisão preventiva de seis executivos da Samarco, inclusive do seu presidente licenciado, Ricardo Vescovi, após concluir o primeiro inquérito que apura o rompimento da barragem de Fundão.
Eles foram indiciados sob a suspeita de homicídio qualificado e por inundação e poluição de água potável. Além do ex-chefão da Samarco, foram indiciados o diretor de operações Kléber Terra, o gerente de projetos Germano Lopes, o gerente de operações Wagner Milagres, o coordenador técnico Wanderson Silvério e a gerente de geotecnia Daviely Rodrigues. A pena de homicídio qualificado é de 12 a 30 anos. A Polícia Civil pede que cada um dos indiciados responda por esse crime 19 vezes, para cada pessoa morta em consequência do rompimento. Para a inundação, a reclusão é de dois a seis anos, e, no caso de poluição de água potável, de dois a cinco anos. Caso sejam condenados, o juiz decidirá as penas.
Segundo o delegado Rodrigo Bustamante, responsável pelo caso, estudos da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP) confirmaram que abalos sísmicos não foram responsáveis pelo rompimento da barragem, como a Samarco chegou a aventar após o incidente. O delegado informou que o crime ambiental e a validade das licenças da empresa serão analisados em um segundo inquérito. Segundo ele, a Vale e a BHP Billiton, controladoras da Samarco, só poderão responder pelos crimes ambientais, e não pelos homicídios, por serem pessoas jurídicas. As investigações da Polícia Civil concluíram que a tragédia decorreu de falhas no monitoramento do nível da água junto aos seus rejeitos.
Os equipamentos que fariam o monitoramento estavam com defeito, conforme apurou o inquérito, e não foram feitas leituras necessárias para evitar os riscos. Ainda segundo o delegado, o pedido de prisão preventiva tem como base “o pressuposto de ordem pública” e serve para “dar tranquilidade à comunidade que foi atingida e uma resposta à sociedade". Para ele, os executivos da Samarco foram "omissos" em suas funções e tiveram uma conduta determinante para o episódio. Quanto ao arrogante Ricardo Vescovi, o delegado foi enfático: “A função do presidente de uma empresa desse porte é apenas decorativa? Não, ele tinha responsabilidade nas ações e não tomou nenhuma providência para evitar o fato”.
O indiciamento dos seis executivos ocorre duas semanas após a Polícia Civil realizar operações de busca e apreensão nas sedes da Samarco em Belo Horizonte e Mariana. O inquérito do órgão tem 13 volumes e 2.432 páginas. A Polícia Federal também indiciou sete pessoas no processo que apura o crime ambiental. O rompimento da barragem matou 19 pessoas e causou um rastro de destruição que chegou ao litoral do Espírito Santo, a 600 km de distância. Segundo a Agência Brasil, a Polícia Civil ainda poderá indiciar outros diretores da empresa. “Devido à amplitude do desastre, as investigações foram divididas. Outro inquérito, previsto para conclusão em março, tem como foco os crimes ambientais”.
Será que a mídia venal, que depende dos milionários anúncios publicitários, dará cobertura à prisão do presidente licenciado da Samarco? Será que finalmente ela mostrará os vínculos da empresa com a privatizada Vale e a multinacional BHP Billiton? Será que investigará o ex-governador Aécio Neves, o cambaleante tucano, por sua relação sempre “generosa” com as mineradoras mineiras? Se depender da mídia privada, que é tão seletiva na sua escandalização da política, o presidente licenciado da Samarco não será preso e o assunto sumirá rapidamente do noticiário!
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