“Eu queria ouvir da tua boca: você é um merda!”, disse um jovem a Chico Buarque numa esquina do Leblon, no Rio de Janeiro, quando o compositor deixava um restaurante com um grupo de amigos em busca de um táxi. O rapaz estava com outro herdeiro, Alvarinho, filho do banqueiro Alvaro Garnero e mais duas pessoas.
O jovem que xingou Chico foi identificado pelo jornalista Bob Fernandes, em comentário na TV Gazeta, como Guilherme Junqueira Motta, herdeiro da Usina Açucareira Guaíra, em Guaíra, na região de Barretos, interior de São Paulo.
No final de sua fala, Bob faz referência ao trabalho duro dos canavieiros. Talvez esteja se referindo ao fato de que o condomínio Otávio Junqueira Motta Luiz e outros, na Fazenda Rosário, em Guaíra, que controla a usina, foi condenado em segunda instância a extinguir a jornada 5 x 1. Pela jornada, são 5 dias de trabalho - inclusive domingos e feriados - e um de folga, o que significa que os trabalhadores têm os domingos livres apenas uma vez a cada sete semanas.
Na ação, movida pelo Ministério Público do Trabalho, a juíza considerou que esse tipo de jornada prejudica a vida social dos trabalhadores. Os condenados recorreram ao Tribunal Superior do Trabalho (TST).
No LinkedIn, Guilherme Motta se apresenta como executivo gestor da Central Energética Guaíra Ltda, que produz energia a partir do bagaço de cana. Ele informa ter formação em Bioenergia pela Fundação Armando Álvares Penteado, a FAAP, em São Paulo.
Em outro trecho do bate boca com Chico Buarque, Guilherme diz que a vida é fácil para o compositor porque ele “mora em Paris”. Na verdade, Chico mora no Rio de Janeiro.
Guilherme parece desfrutar de uma vida boa. No Facebook, postou fotos em Orlando e Aspen, nos Estados Unidos, e na ilha de Capri, na Itália.
Depois do episódio, Chico Buarque, em sua página no Facebook, postou apenas um link para a música “Vai Trabalhar, Vagabundo”, de sua autoria.
O rapper Tulio Dek, que estava entre os jovens, esclareceu no Facebook não ter vínculo com o grupo:
Com relação ao episódio envolvendo o cantor Chico Buarque afirmo que mantive uma legítima, civilizada e democrática discussão partidária. Não concordo com nenhum tipo de manifestação agressiva, principalmente com um dos maiores artistas do Brasil. Em momento algum eu xinguei ou desrespeitei qualquer pessoa ali presente. Não tenho nenhum vínculo com nenhuma das pessoas que aparecem no video.Guilherme Motta, por sua vez, reproduziu na rede social postagens críticas ao compositor.
Uma delas faz referência a supostos financiamentos obtidos por Chico, parentes e namorada através da Lei Rouanet. O compositor apoiaria o PT não por convicções ideológicas, mas pelo dinheiro, sugere.
Num comentário a uma postagem de Guilherme, um amigo se refere a Chico como dependente “de todo trabalhador que o sustenta”, em outra aparente referência à Lei Rouanet, através da qual são financiados projetos culturais com renúncia fiscal.
No twitter, @rafaelmartelo apontou para este link da Copercana, segundo o qual a usina fundada pelo avô, pai e tio de Guilherme Motta recebeu financiamento de R$ 80 milhões do BNDES.
O BNDES empresta dinheiro público com juros subsidiados.