O fio da meada - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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O fio da meada - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 11/02
Demorou, mas uma luz se acendeu no fim do túnel. Uma pessoa precisou perder a vida para que surgissem respostas passíveis de esclarecer a mudança de rumo que tomaram as manifestações populares ao longo de sete meses. Passeatas pacíficas se transformaram em atos de violência que, além de ferir inocentes, depredar patrimônios público e privado, desmoralizaram os responsáveis pela segurança pública.
Em junho, quando, convocados pelas redes sociais, jovens ocuparam a Avenida Paulista em protesto contra o aumento da passagem de ônibus, o movimento não oferecia risco e, aos poucos, conquistou a simpatia da população. Multidões tomaram as ruas e levantaram a bandeira da mobilidade. Queriam não só manter o valor do bilhete, mas também melhorar a mobilidade urbana. Como rastilho de pólvora, a mobilização se espalhou Brasil afora.

Cidades grandes e médias experimentaram a força do povo, que, até então, parecia adormecido. Falava-se no acordar do gigante. A pauta de reivindicações também se ampliou. Difusa, abrangia educação, saúde, transporte, segurança, atuação dos políticos, fragilidade das instituições, corrupção crescente. A gama de exigências ganhou tradução perfeita com a síntese "serviços padrão Fifa".

Infiltrados desvirtuaram o objetivo original. Protagonizaram enfrentamentos que se assemelham a guerra urbana. Registraram-se 117 casos de agressão. A polícia se mostrou despreparada para reprimir o fenômeno. Depois da tragédia que feriu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade na quinta-feira, Fábio Rabelo foi identificado e preso. Confessou participação no episódio e se dispôs a colaborar com a polícia.

Trata-se do fio da meada cujo desenrolar apenas se vislumbra. Tudo indica que interesses diversos - nem sempre confessáveis - se escondem atrás das máscaras que espalham pânico pelas ruas. Impõe-se repudiar os atos de violência tanto do lado da polícia quando do lado dos manifestantes. O foco, porém, não deve ser demonizar os atos públicos. Manifestações são direitos assegurados pela Constituição. São bem-vindas desde que pacíficas e submetidas à lei e à ordem.

 Abre-se, com a prisão de Fábio Raposo, a possibilidade de desvendar os meandros das iniciativas que desmoralizam a democracia. Os responsáveis, uma vez identificados, precisam ser punidos. É importante recuperar a civilidade perdida. Às vésperas de grande evento mundial, o Brasil tem de dar aos nacionais e estrangeiros a certeza do império da lei e da ordem. Vale lembrar que a confiança não se conquista com discursos, promessas ou juras de boas intenções. Conquista-se com ação efetiva.




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