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Palavras e segurança - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 27/01
"De boas intenções o inferno está cheio", diz a sabedoria popular. No Brasil, o dito exige adaptação. "De palavras", diria o texto com ajustes, "o cidadão está cheio". Expressam-se, aí, duas caraterísticas que marcam os governantes. Uma: a paixão incontrolada pelo discurso. Fala-se muito. Faz-se pouco. A outra: a crença no poder mágico da língua. Com fé inabalável na força da palavra, jorram-se promessas como se, sozinhas, elas fossem capazes de resolver problemas e responder a desafios.
O manual de repressão padrão Fifa confirma a tendência inelutável de acreditar na potência sobrenatural da falação. Trata-se de cartilha de procedimentos a ser seguidos durante grandes manifestações e a Copa do Mundo. Destinado à PM, o texto autoriza o uso de armas não letais e cria centros de comando distantes das áreas de conflito. Em casos de transgressão à lei, a polícia tem de identificar a responsabilidade individual do infrator. Hoje, prende-se coletivamente antes e pergunta-se depois.
Não é sem motivo a preocupação com a segurança pública. A escalada da violência, sobretudo nas grandes cidades, tem afetado a rotina dos cidadãos - obrigados a se proteger atrás de grades e ameaçados no direito de ir e vir. A internet promove fenômeno novo. Capaz de mobilizar grandes massas num tocar de teclas, o poder da rede mundial surpreendeu as autoridades em junho passado ao convocar o povo a manifestar a contrariedade em ruas e avenidas.
Os rolezinhos, acontecimentos mais recentes concentrados em shopping centers, confirmam a necessidade de forças policiais treinadas - aptas a manter a lei e a ordem com técnica e civilidade. Polícia não se qualifica com cartilhas, mas com estudo e treinamento. A segurança pública figura no rol das especialidades com alto grau de sofisticação. Tecnologia e inteligência devem andar de mãos dadas para fazer frente aos desafios contemporâneos, bem mais refinados que os do passado.
Estão na memória dos brasileiros discursos e entrevistas das autoridades sempre que ocorre uma grande tragédia. Os responsáveis pelo setor apresentam planos, fazem promessas e juram que, dali para a frente, a realidade será outra. Apagada a emoção, porém, fica tudo como está. A novela se repete quando exigida por outra comoção. E assim sucessivamente.
Agora, porém, a situação se agrava a ritmo de internet. Além das manifestações que tomam ruas e shoppings, a polícia tem de estar preparada para enfrentar o crime organizado. Como o adjetivo denuncia, a bandidagem saiu na frente em estratégias, inteligência e investimentos em inovação. Palavras, portanto, não são suficientes para mudar paradigmas. Sem ação efetiva, manuais e cartilhas servem para inglês ver. Nem se pode dizer que as frases ali contidas entrarão por um ouvido e sairão por outro. Elas nem sequer entrarão.
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