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O Governo fez de "idiota útil" contra a Grécia
Com a ministra das Finanças a pousar ao lado do Sr. Schäuble na semana passada, o Governo português fez de "idiota útil" da Alemanha contra a Grécia. Como todos os idiotas úteis, além de migalhas e louvores paternalistas, nada ganhou ou vai ganhar. Mas fez-nos perder, a todos nós portugueses, mais um pouco do que ainda não foi vendido ou cedido da dignidade nacional.
No inicio da semana, os sectores mais empedernidamente austeritários da direita europeia e os mais anti-Euro centros económicos e geo-políticos mundiais salivavam por que o Eurogrupo produzisse aquilo que a se chama de Grexit: a saída da Grécia do euro.
Quem chamou à pedra os bombeiros pirómanos do Conselho Europeu e do Eurogrupo foi Mario Draghi, do Banco Central Europeu: um incumprimento grego estava à vista, se não extinguissem imediatamente o fogo Grexit toda a zona Euro se incendiaria: e as consequências não se confinariam a peões de brega como Portugal, ameaçavam a derrocada do Euro, com repercussões geo-estratégicas numa Europa com guerra na Ucrânia e terrorismo por todo o lado, com focos irradiadores da Síria à Libia aqui tão perto...
A czarina reinante nesta Europa alemã ouviu e mandou subitamente travar o seuavançado Schäuble, deixando pendurados aprendizes salivantes como a ministra Maria Luis, obrigada depois a tentar compor as vestes, declarando não ter exigido mudar nem uma vírgula no texto do acordo da Grécia com o Eurogrupo: não muda os relatos difundidos em Bruxelas e por toda a imprensa europeia e mundial que a retratam a instigar "esfola", onde Schäuble sugeria "mata". Além de exibir velhaquice de quem não teve, não tem, a ombridade de dizer na cara dos gregos o que antes espicaçou nos alemães.
Enfim, o acordo lá se fez no Eurogrupo: a Grécia, a União Europeia e até os sacrossantos mercados respiraram de alívio. A semântica contou, como conta sempre em negociações europeias e o governo grego levou para casa um compromisso que não corresponde, como não podia corresponder, ás exigências de que partiu, mas obriga os fundamentalistas da austeridade a ter de admitir que, afinal, há alternativa.
Isso mesmo induziu também a confissão de Jean Claude Juncker sobre os pecados da Troika humilhando povos como o grego e o nosso, o que muito amofinou o Primeiro Ministro Passos Coelho - como ele dirá, "lixa-lhe as eleições", a narrativa eleitoralista... É como a realidade que os portugueses conhecem: cumprindo o programa austeritário no modo mais troikista do que a Troika, nem assim as reformas e os objectivos previstos foram alcançados: ainda ontem se soube que a famigerada dívida pública continuou a aumentar em 2014 e que aumentou também o crédito mal parado às empresas e famílias.
Mas a direita portuguesa odeia a realidade por preconceito ideológico: entrega-se agora ao afã negacionista de qualquer ganho de causa grego no Eurogrupo, tão absurdo como a arrogância com que desde início maldisse a audácia negocial de Atenas.
Se mais razões não houvesse, devíamos estar gratos à Grécia e aos gregos pelo assomo de dignidade e pela determinação com que estão a obrigar a Europa a mudar, incluindo a Alemanha, onde finalmente se iniciou um debate interno sobre o impacto das suas imposições na União.
E devemos pedir desculpa à Grécia e aos gregos pela vergonhosa posição assumida por um Governo que não representa o sentir solidário, nem os interesses, do povo português. Porque, em vez de ter direito a exigir "reparações", como inefavelmente avançou o ministro Machete, este Governo deu uma machetada na legitimidade para reclamar quaisquer ganhos que a Grécia venha a lograr.
(Transcrição da minha crónica hoje no Conselho Superior, ANTENA 1)
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