O homem que combatia com o cérebro
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O homem que combatia com o cérebro


Rodrigo Constantino, O GLOBO

Há exatos 30 anos falecia a novelista russa Ayn Rand. Trata-se de uma ilustre desconhecida no Brasil. Mas, em uma pesquisa feita pela Livraria do Congresso americano, seu principal livro ficou atrás apenas da Bíblia em termos de influência naquele país. “A Revolta de Atlas”, à venda nas livrarias brasileiras, ajudou a resgatar o individualismo do povo americano.
Nascida em 1905 em São Petersburgo, Alissa Rosenbaum fugiu com 21 anos de idade de seu país, então sob o regime comunista. Em busca de liberdade e já determinada a ser uma escritora, foi para Hollywood, onde se casou e se naturalizou americana, adotando o novo nome artístico.
Seu primeiro romance de sucesso foi “A Nascente”, que virou filme em 1949, estrelado por Gary Cooper. Nele, sua filosofia de vida, que ficou conhecida como Objetivismo, já ganhava contornos quase definitivos.
O herói da história, Howard Roark, é um arquiteto apaixonado pelo que faz, e absolutamente intransigente quando precisa fazer concessões para atender às demandas dos outros. Ciente de seu valor, ele não está disposto a sacrificar a integridade de sua obra em prol do modismo do momento.
Ali, Ayn Rand já expõe sua visão de “egoísmo racional”, sustentando que os indivíduos não existem para satisfazer desejos alheios, nem mesmo de uma maioria, mas sim para viver de forma a explorar ao máximo suas potencialidades individuais. O indivíduo seria um fim em si mesmo, não um meio sacrificável pelos interesses coletivos.
Mas foi em “A Revolta de Atlas” que sua filosofia se mostrou completa, com o personagem de John Galt. Trata-se de um indivíduo que simplesmente não aceita viver como um escravo dos demais, e decide combater o coletivismo com sua maior arma: seu cérebro. Ele convence outros empreendedores como ele a entrar em greve, demonstrando ao mundo quem é o verdadeiro responsável pelo progresso.
Em uma época em que capitalistas eram atacados com freqüência pelos populistas de plantão, Ayn Rand veio defender sem eufemismos aqueles que remavam contra a corrente coletivista e, em busca do lucro, garantiam a criação de riqueza e prosperidade ao país. Empresários não deveriam ter vergonha ou sentir culpa por seu sucesso, se obtido honestamente no livre mercado.
Ao contrário: eles deveriam se sentir orgulhosos de suas conquistas.
Enquanto muitos intelectuais ainda olhavam para a União Soviética em busca de inspiração, Ayn Rand sabia melhor o que tal modelo representava na prática: a morte do indivíduo, a escravidão do povo e muita miséria espalhada. Ela fugira daquele inferno justamente para respirar ares mais livres, e estava comprometida com a defesa de seu ideal de liberdade na América, ícone deste sonho, apesar de suas imperfeições.
Ayn Rand escreveu: “A menor minoria de todas é o indivíduo; aqueles que negam os direitos individuais não podem alegar serem defensores das minorias”. O que ela viveu em sua terra natal foi suficiente para lhe despertar profundo asco por slogans aparentemente belos e nobres, mas que serviam apenas como manto para ocultar suas verdadeiras intenções.
Ela via o socialismo e demais formas de coletivismo como uma espécie de idealização da inveja. Retira-se a embalagem altruísta e não resta nada além da inveja, do desejo de condenar o sucesso individual em vez de realmente criar riqueza e, desta forma, reduzir a miséria. Os vilões de seus romances, um tanto caricatos, expressam de forma bastante clara este tipo de mentalidade mesquinha, típica daquele que acha que pode correr melhor se o vizinho quebrar a perna.
Recentemente, Ayn Rand ganhou algum destaque na América Latina quando o jornal equatoriano “El Universo”, sob censura do governo Correa, postou o seguinte trecho de sua autoria: "Quando você perceber que para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada".
Trata-se de um alerta e tanto para os brasileiros.
Radicalismo e excentricidade à parte, Ayn Rand é um farol de racionalidade na escuridão que domina o debate intelectual latino-americano. É leitura indispensável para todos que valorizam a liberdade individual.




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