Por Altamiro BorgesO diversificado movimento por moradia de São Paulo está nas ruas, realizando marchas e atos quase diariamente. Nesta semana, mais de 12 mil sem-tetos ocuparam a Radial Leste, uma das principais avenidas da capital paulista, e se dirigiram até as proximidades do estádio do Corinthians, em Itaquera, que vai inaugurar os jogos da Copa do Mundo. Eles exigiram a desapropriação de terrenos e imóveis para a reforma urbana. O protesto foi organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e reuniu moradores de 13 áreas ocupadas na cidade.
A tática do movimento de moradia é simples: ele procura se aproveitar dos holofotes da Copa para apresentar suas demandas, já que está em processo de votação da Câmara Municipal o “Plano Diretor Estratégico de São Paulo”, que definirá as áreas para habitação de interesse social. Neste processo de luta é natural que haja certa radicalização de discurso e até mesmo de ações. Guilherme Boulos, líder do MTST, tem afirmado à imprensa que vai “radicalizar” a pressão caso os governos federal, estadual e municipal não cedam às demandas do movimento. “Se até sexta-feira (6) não tiverem atendido as nossas reivindicações, não sei se a torcida vai conseguir chegar ao jogo [treino da seleção brasileira]”.
Deixando de lado as bravatas – que até animam setores da direita que apostam no fiasco da Copa do Mundo por razões puramente eleitoreiras –, as demandas do movimento são justas. Ele reivindica a desapropriação da área conhecida como Copa do Povo, em Itaquera, mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida e uma proposta de Lei do Inquilinato que controle os reajustes de aluguel. São exigências que visam melhorar a sofrida situação de milhares de pessoas que não têm como pagar aluguel e vivem nas ruas ou em moradias precárias. Não é para menos que os sem-teto têm sofrido violento ataque da mídia privada – a mesma que vibrou com alguns protestos despolitizados do ano passado.
Em editorial nesta quinta-feira (5), a Folha destilou seu ódio contra o movimento. O próprio jornalão reconhece que o déficit de moradias, em 2012, era de 700 mil na capital paulista. Mesmo assim, ele prefere atacar os sem-tetos. “Nada justifica ou legitima o esbulho de propriedades alheias, uma óbvia ilegalidade. Os grupos que recorrem a essa prática, de resto, se pretendem reparadores de injustiças, mas cometem grave abuso contra muitos dos que vivem em condições precárias... Além de desrespeitarem a lei e prejudicarem milhares de famílias que passam por sofrimento similar, essas manobras atrapalham ainda mais o planejamento do poder público para lidar com o problema habitacional na cidade”.
Mais virulento ainda foi o Estadão, em editorial no domingo (1). “O MTST está prestes a obter, ‘no grito’, mais uma vitória em sua escalada para fazer as autoridades se dobrarem à sua vontade em São Paulo. Desta vez o objetivo é transformar em fato consumado a invasão de uma área de 150 mil m² a 4 km do Estádio do Corinthians... Acovardados diante da ousadia e da arrogância do movimento, os governos municipal, estadual e federal já participam de entendimentos nesse sentido, alheios às graves consequências que tal atropelo escancarado da ordem legal fatalmente acarretará... Tratam com invasores como se eles fossem pessoas de bem. Legitimam, assim, os crimes e os criminosos”.
Na visão oligárquica do jornalão, o poder público não deve ceder às pressões populares, nem sequer negociar. Para os barões da mídia – alguns deles denunciados pelo uso irregular dos espaços públicos (é só lembrar o bilionário terreno na zona sul da capital gentilmente cedido pelo governo tucano à Rede Globo) –, os sem-teto devem ser tratados como “criminosos”, na base da pura repressão.
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