Por Altamiro BorgesO "trensalão do PSDB", o bilionário esquema de propinas envolvendo várias multinacionais do setor de transporte e tucanos de alta plumagem de São Paulo, continua recebendo pouca cobertura da mídia - a maioria dela sediada no próprio Estado. O explosivo assunto não é manchete dos jornalões e nem motivo de escarcéu nas emissoras de tevê. A velha mídia, que adora promover a "escandalização da política", mantém a sua clássica seletividade, evitando criar maiores constrangimentos para os amigos tucanos. De vez em quando, porém, aparece uma denúncia sobre o tema. É o caso da reportagem de Rodrigo Rodrigues, do Terra Magazine, publicada nesta segunda-feira (14). Ela comprova que alguns dos citados no escândalo elevaram o seu patrimônio pessoal nos últimos anos.
"Citados nas investigações que apuram o superfaturamento de contratos dos trens e do Metrô de São Paulo, a maioria dos parlamentares apontados como participantes do esquema de cartel da Siemens e da Alstom pelo ex-diretor Everton Rheinheimer praticamente dobraram o seu patrimônio pessoal nos últimos oito anos. Rheinheimer é o ex-diretor da Siemens que, em carta ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), denunciou vários políticos de São Paulo que supostamente fazem parte de um esquema de 'Caixa 2' de campanha", relata o repórter, que dá nome aos bois - ou aos tucanos!
Um deles é o deputado federal José Aníbal (PSDB-SP), ex-secretário de Energia do governo Geraldo Alckmin e agora candidato à primeira suplência de senador na chapa de José Serra. Metido a vestal da ética, ele foi citado na carta de Rheinheimer e quase triplicou o patrimônio pessoal entre 2006 e 2014. Segundo os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quando concorreu a deputado federal em 2006, José Aníbal tinha um patrimônio pessoal declarado de R$ 730,2 mil. Oito anos depois, o ex-secretário declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 1,97 milhão. Um crescimento acumulado de 171%.
"Aníbal é réu no inquérito que investiga no Supremo Tribunal Federal (STF) as fraudes nas licitações dos trens da CPTM e do Metrô de São Paulo. Ele e o ex-secretário Rodrigo Garcia (DEM-SP) são os dois membros do governo Geraldo Alckmin que permaneceram como investigados no esquema, por determinação do ministro Marco Aurélio Mello. Ao contrário de Aníbal, o deputado federal Rodrigo Garcia teve decréscimo do patrimônio entre 2006 e 2014, embora as riquezas pessoais dele tenham aumentado consideravelmente entre as eleições de 2006 e 2010". Em 2006, ele declarou à Justiça ser dono de R$ 3,33 milhões em riquezas pessoais. Quatro anos depois, em 2010, o patrimônio do demo subiu para R$ 4,93 milhões, acumulando crescimento de 48%.
Para refrescar a memória dos leitores, o jornalista faz um breve histórico do escândalo. "Em relatório entregue em 17 de abril de 2014 ao Cade, Everton Rheinheimer diz ter 'documentos que provam a existência de um forte esquema de corrupção no Estado de São Paulo durante os governos (Mário) Covas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra, e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa 2 do PSDB e do DEM'. No documento, o ex-diretor da Siemens afirma ter tido a 'oportunidade de presenciar o estreito relacionamento desses políticos com o diretor-presidente da Procint, Arthur Teixeira'. O lobista Arthur Teixeira, segundo Rheinheimer, seria o operador do esquema responsável por repassar o suposto dinheiro de propina para os investigados no inquérito".
Ainda segunda a matéria, "o ex-diretor da Siemens contou ao Cade que o cartel formado por Alstom, Siemens, Caterpillar e Bombardier 'é um esquema de corrupção de grandes proporções, porque envolve as maiores empresas multinacionais do ramo ferroviário, com contratos no Estado de São Paulo e Distrito Federal'. Além de Aníbal e Garcia, o ex-diretor da Siemens mencionou na denúncia os deputados Arnaldo Jardim (PPS-SP) e Campos Machado (PDT-SP), além dos atuais secretários de Alckmin, Edson Aparecido (Casa Civil) e Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos). Nenhum dos quatro tiveram o nome incluído na investigação do STF, com exceção de Garcia e Aníbal".
Apesar de terem sido excluídos das investigações do Supremo Tribunal Federal, eles também tiveram "crescimento considerável do patrimônio pessoal", segundo informações da Justiça Eleitoral. Entre 2006 e 2014, o patrimônio de Arnaldo Jardim (PPS) quase dobrou, passando de R$ 1,010 milhão para R$ 1,995 milhão. Aumento de 97,5%. Já o patrimônio do deputado estadual Campos Machado (PTB-SP) pulou de R$ 4,199 milhões em 2006 para R$ 8,797 milhões em 2014. "Em oito anos o deputado estadual teve um acréscimo de R$ 4,598 milhões nos bens pessoais, que significa aumento de 109%. Detalhe: a esposa de Campos Machado, dona Marlene Machado, que é candidata ao Senado em SP, declarou à Justiça ser dona de outros R$ 4,404 milhões em patrimônio. É um casal que junto totaliza R$ 13 milhões em riquezas".
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