Por Altamiro BorgesNo terreno da política, José Serra anda meio isolado. Tentou ser novamente o candidato dos tucanos à sucessão presidencial e dançou. Sondou a possibilidade de ser vice do mineiro Aécio Neves e foi descartado. Especulou com a hipótese de ser candidato ao Senado, mas não agradou muito aos seus pares. Já no campo da Justiça, o ex-governador paulista mantém a sua forte influência. Na semana passada, Serra escapou mais uma vez das apurações do chamado “trensalão tucano”, o bilionário esquema de propina que envolve poderosas multinacionais e todos os governos do PSDB em São Paulo. A Procuradoria-Geral da Justiça simplesmente anunciou que decidiu arquivar as investigações contra o tucano.
Segundo reportagem de Fausto Macedo, no Estadão, a cúpula do Ministério Público Estadual de São Paulo considerou que José Serra não teve qualquer participação na montagem do cartel metroferroviário para vencer uma concorrência da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). “’Passados mais de cinco anos desde a instauração do inquérito civil pela Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social não foram até o momento identificados indícios de envolvimento do ex-governador José Serra na prática de atos de improbidade administrativa’, cravou, em despacho de sete páginas, o procurador-geral Márcio Fernando Elias Rosa”.
Diante desta estranha conclusão, Elias Rosa considerou “ilógico o prosseguimento” das investigações contra o tucano, “ressalvada a hipótese de surgimento de novas provas que situem os fatos na órbita de apreciação do Procurador-Geral de Justiça”. A denúncia contra José Serra chegou às mãos do procurador-geral em fevereiro de 2014 a partir de uma representação da Promotoria de Defesa do Patrimônio que apontou indícios da participação do tucano no conluio que, segundo a multinacional alemã Siemens, predominou em São Paulo entre 1998 e 2008. Um dos diretores da empresa na época, Nelson Marchetti, afirmou textualmente ter ser reunido com o então governador Serra numa feira na Holanda, 2008.
Elias Rosa, porém, considerou insuficientes o relato do ex-diretor da Siemens e as outras provas apresentadas e decidiu arquivar o processo. “Não se cogitou, sequer em tese, a participação do governador em atos de corrupção”, argumentou o procurador-geral da Justiça. Com isto, José Serra segue livre e solto. Nunca foi investigado pelas graves denúncias sobre o esquema criminoso nas privatizações das estatais na era FHC, fartamente documentadas no livro “A privataria tucana”, do premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr., e também não será investigado sobre as denúncias do “trensalão”. Ele pode até ser candidato a deputado federal pelo PSDB, se a sigla assim permitir.
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