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O que nos diz o Pacífico - MARCOS CARAMURU DE PAIVA
FOLHA DE SP - 19/10
O Pacífico está longe de nós, mas precisamos fazer mais para nos vincularmos a economias dinâmicas
Uma das poucas certezas sobre a realidade internacional do futuro é que o Pacífico será uma das mais --senão a mais-- dinâmicas das áreas econômicas do mundo.
Há várias economias grandes na região (EUA, China, Japão, Canadá e, em menor medida, Austrália, Indonésia, Coreia, México), as economias de tamanho médio tendem a ter nível elevado de eficiência (Cingapura, Malásia, Tailândia, Chile, Nova Zelândia) e as menores oferecem grande potencial e baixo custo de produção (Vietnã, Mianmar, Camboja, Laos). Um quadro assim não há em outras partes do globo.
Não espanta que China e Estados Unidos disputem acirradamente espaço na região.
Na semana passada, dois grandes eventos, a reunião da Apec e o encontro anual de chefes de Estado da Asean, ofereceram palco para tais disputas.
Obama, que tinha presença anunciada e uma agenda de visitas bilaterais, não compareceu. Mas os americanos conseguiram avançar as negociações da Parceria Transpacífica --acordo de livre-comércio transcontinental que envolve países grandes e pequenos, como Japão, Austrália, Chile, Malásia e Vietnã-- e anunciaram que há boas perspectivas de conclusão em 2015.
Os líderes chineses, por sua vez, conclamaram a Asean e associados asiáticos a, também em 2015, completar as negociações do chamado acordo regional abrangente de parceria econômica.
A China tem várias controvérsias territoriais na região. Quer convencer os vizinhos de que, se elas forem postas de lado e a cooperação econômica se intensificar, tudo se ajeitará. A estratégia tem funcionado.
O acordo de livre-comércio China-Japão-Coreia, por exemplo, vai para a terceira reunião preparatória, apesar da presença frequente de navios militares chineses e japoneses na proximidade das ilhas Diaoyu, cuja posse é disputada.
O Pacífico está longe de nós. A observação de seus movimentos só nos lembra de que precisamos fazer mais para nos vincularmos a economias com dinamismo.
Mas dois pontos merecem registro nos encontros recentes:
1. A China lançou a proposta de um banco asiático de infraestrutura. Os chineses parecem mesmo focados na ideia de abrir espaço para suas empreiteiras. Primeiro se engajaram na negociação de um banco dos Brics. Agora propõem criar um banco asiático. As duas instituições --a dos Brics e a da Ásia-- acabarão tendo similaridade e talvez possam vir a formar vínculos;
2. A China e a Austrália anunciaram a retomada das negociações do acordo bilateral de livre-comércio para concluí-lo em um ano. O novo primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, declarou que quer o acordo mesmo com uma taxa de desconto, ou seja, mesmo que seu país tenha que fazer concessões para atrair um volume maior de investimentos chineses.
A Austrália é um concorrente de peso do Brasil no mercado asiático: em minério de ferro, carnes e, potencialmente, em outros produtos alimentícios. Se o acordo australiano, de fato, for fechado, a teia de relacionamento Austrália-China sairá fortalecida. O impacto disso não será neutro para nós.
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