Geral
O sonho do celta
Rodrigo Constantino
“Não é mau que ronde sempre um clima de incerteza em torno de Roger Casement, como prova de que é impossível chegar a conhecer de forma definitiva um ser humano, totalidade que sempre escapa a todas as redes teóricas e racionais que tentam capturá-la”. Eis o que pensa o escritor Mario Vargas Llosa sobre o personagem de seu último romance, “O sonho do celta”, figura controversa que lutou contra os abusos do colonialismo belga no Congo, depois contra a exploração desmesurada dos índios peruanos por uma empresa inglesa na selva de Iquitos, e por fim pela independência da Irlanda contra a Inglaterra, país que Casement serviu como diplomata e lhe concedeu o título de sir.
Vargas Llosa usa os fragmentos históricos para recriar o rico personagem, repleto de dúvidas e angústias, com um senso constante de justiça, mas invariavelmente abalado pela possibilidade de estar errado em sua estratégia de luta, especialmente ao acreditar que o inimigo de seu inimigo é seu amigo, e com isso defender a aproximação dos separatistas irlandeses com os alemães na iminência da Primeira Guerra Mundial. A imagem de mártir, que pode acender as chamas da liberdade em seus compatriotas, compensa o suicídio quase certo na batalha desigual? Os cristãos valorizavam o martírio, pois sua Igreja nasceu justamente dele. O livro está impregnado desta visão de herói que sabe caminhar rumo à provável destruição, mas que planta as sementes da liberdade no longo prazo.
O novo romance do mais recente Prêmio Nobel da Literatura não desaponta os leitores. Para quem busca histórias simplistas e maniqueístas, de heróis e vilões muito bem definidos, “O sonho do celta” não é leitura recomendada. Mas para quem busca mergulhar na região mais cinzenta e realista, onde heróis nem sempre são claramente distinguíveis de vilões, onde há argumentos razoáveis de ambos os lados, então o livro é garantia de satisfação. A colonização belga na África cometeu inúmeras atrocidades, as quais Casement se ergueu contra, mas isso não implica uma visão maniqueísta de que não ocorreram avanços com a chegada dos europeus, tampouco que antes havia algo que poderia ser chamado de civilização por nossos conceitos atuais. O mesmo vale para a selva peruana e a empresa inglesa que explorava a borracha das seringueiras. Os crimes perpetrados na lei da selva são relatados com horror pelo personagem principal, o que não quer dizer que uma imagem rousseauniana daqueles selvagens mereça algum crédito.
No mundo real, nem sempre é fácil separar o joio do trigo, à exceção dos casos limítrofes. Ainda mais quando se trata de questões delicadas, como a independência de um país, as lutas nacionalistas, as aventuras de exploradores em terras distantes onde não há nem resquício do império da lei. O ser humano é capaz dos atos mais bárbaros nestas condições mais anárquicas e selvagens. E eis justamente o que mostra Vargas Llosa com este novo romance histórico, cuja leitura recomendo.
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