Geral
O troca-troca da reforma - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 03/10
Dilma levará em conta o tamanho de cada bancada aliada na hora de redistribuir os cargos dos ministros que serão candidatos em 2014
A eleição ainda nem chegou, Lula mal entrou em campo em favor dos petistas, mas a relação entre PT e PMDB está a cada dia mais azeda. A última rusga se deve à nomeação de Francisco Teixeira para o comando do Ministério da Integração Nacional. Ainda que seja interino, a escolha de um técnico deixou aos peemedebistas aquela sensação de que o senador Vital do Rêgo Filho foi preterido. Nem a promessa de, quem sabe, entregar o cargo em janeiro serviu para acalmar deputados e senadores do partido. Numa reunião da bancada ontem, o tema foi tratado como ?descaso? por parte do Planalto. Mas, diante do frenético troca-troca de partido dos últimos dias, Dilma só nomeará ministro depois de conhecer a nova cara da base aliada.
O PMDB, que está há tempos nesse ônibus petista, espera a nomeação para breve, independentemente da força de cada bancada. O próprio senador diz a amigos que o ministério estará de portas abertas para recebê-los num futuro próximo. Ocorre que interlocutores do governo afirmam que a reforma ministerial tem outros ingredientes além da simples troca do PSB pelo PMDB, conforme mencionamos aqui en passant ontem.
Dilma pretende avaliar a correlação de forças que surgirá até sexta-feira. O Pros, por exemplo, terá uma bancada superior a 20 deputados. O PDT, de 23, é bem capaz que passe para 10, um a menos do que tem hoje o PRB. E há de se levar em conta que o PDT tem hoje o Ministério do Trabalho, enquanto o PRB comanda a Pesca, com o senador Marcelo Crivella (RJ). Ninguém diz abertamente, mas se o PDT mantiver apenas 10 deputados, ficará difícil deixar a pasta do Trabalho sob comando do partido.
Para completar a ira dos aliados para com o governo e o PT, os pré-candidatos a governador pelo Partido dos Trabalhadores correm mundos atrás de aliados nessa fase pré-campanha. Em Mato Grosso do Sul, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) conquistou PSD, PSC, PCdoB, PV e Pros. Em São Paulo, o PT percorre os municípios em busca de aliados para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tirando musculatura de partidos amigos do governo Dilma.
Enquanto isso, no Congresso...
Tudo isso deixou no parlamento um gosto de ?a vingança será maligna?, especialmente, entre os peemedebistas. Na Comissão Mista de Orçamento, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que deveria ter sido votada em julho, permanece represada. O Orçamento de 2014, então, nem se fala. Nada vai para frente enquanto não sair o tal orçamento impositivo, fruto de queda de braço no Senado. E, se o PMDB não se sentir prestigiado em breve, é bem capaz de o governo terminar com algum susto por ali.
E na oposição...
O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato do partido à Presidência da República, espera, de braços abertos, os peemedebistas insatisfeitos com o governo Dilma. Ele sabe que, em alguns estados, o partido de Michel Temer irá apoiá-lo. Mesmo com a permanência de José Serra no partido, o senador por Minas Gerais continua na linha de frente como principal nome do PSDB para concorrer contra Dilma Rousseff. Em conversas reservadas, os tucanos afirmam que a bancada deseja a renovação do nome que vai disputar o Planalto. No Paraná, por exemplo, o evento do partido teve cara de pré-campanha, com Aécio carregado nos ombros dos militantes.
Resta saber, entretanto, que forças terão a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A preços de hoje, Marina balança na bolsa de apostas, uma vez que não se sabe sequer se conseguirá formalizar a criação da Rede. Ontem à tarde, no Congresso, deputados comentavam que ficou tudo muito corrido. Ainda que Marina consiga montar o partido, não haverá tempo para proceder as filiações dentro do prazo exigido pela legislação eleitoral. Ou seja, a saída agora é buscar uma legenda alternativa para os integrantes da Rede e, depois, passada a eleição buscar a sigla de Marina.
A situação de Eduardo Campos é mais confortável, mas não chega a ser um oásis. Seu partido foi desidratado com o auxílio do governo Dilma. No Ceará, por exemplo, depois da saída de Cid e de Ciro Gomes do PSB para o Pros, Eduardo simplesmente não tem palanque no estado. Os Gomes, o PT e o PMDB estão hoje com Dilma, e o ex-senador Tasso Jereissati prepara um palanque para o PSDB.
Nesse contexto, a sorte de Eduardo será a divisão de alguns palanques com o PSDB. Em Minas Gerais, por exemplo, eles devem compor uma única chapa. Hoje, Eduardo Campos estará em Belo Horizonte, para a filiação do presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil. De lá, irá ao Rio de Janeiro, para uma reunião com o deputado federal Romário (PSB) e novas filiações ao partido. Não foi à toa que, ontem, nem deu quórum para votação na Câmara. Estão todos correndo para seus estados, em busca de times para 2014. Nós, por aqui, continuamos de olho em Marina.
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