Operação tapa-buraco - VINICIUS TORRES FREIRE
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Operação tapa-buraco - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 17/09

Depois da derrapagem no leilão do primeiro lote de rodovias federais, governo vai mudar seus planos


O GOVERNO VAI mexer nos leilões de estradas devido ao fracasso parcial do primeiro lote de concessão.

Primeira mudança, ficará claro que as empresas vencedoras das concessões serão compensadas caso o Dnit atrase sua parcela das obras. O Dnit é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que tem longo histórico de rolos e/ou descumprimento de prazos.

Segunda, o governo deve leiloar uma rodovia por vez, em vez de duas por lote, como planejava fazer. Desse modo, deve haver algum rearranjo no calendário de leilões. Alguma coisa deve ficar para o ano que vem.

Quanto a leiloar apenas uma estrada por vez, gente do governo diz que espera assim "induzir as empresas a focarem em um negócio por vez" e ter [o governo ele mesmo] "mais tempo para dirimir dúvidas e resolver crises com o setor privado".

Soube-se na sexta que nenhuma empresa se candidatou a ficar com a rodovia BR-262 (entre Minas e o Espírito Santo). Haverá disputa pela BR-050 (de Goiás a Minas). O resultado do leilão sai amanhã.

Foi esquisita a debandada das empresas no leilão da BR-050. Até a semana passada, as empresas diziam nas internas ter interesse pelas duas rodovias. Na sexta, depois da "surpresa", atribuíram o fiasco ao "risco Dnit" (de o departamento do governo atrasar a obra e a conta cair no colo delas, das empresas). Agora, as empresas dizem que elas mesmas "também foram surpreendidas" ao serem informadas, "em cima da hora", de que teriam o risco de ônus e nenhuma compensação pelo "risco Dnit".

Apesar do tom apaziguador de governo e empresas, a história ainda parece meio esquisita. Na sexta, o governo xingava as empresas; algumas dessas se divertiam com o fiasco, com a "rasteira" e com o "recado" dado ao governo.

A história ainda é um tanto esquisita porque adiamento de leilão a pedido de empresas não tem sido coisa rara neste governo. Em janeiro, as empresas como que negociaram com o governo o adiamento, agora "sine die", do leilão da BR-040 (entre Juiz de Fora e Brasília) e da BR-116 (entre a Bahia e Minas).

Mas pode bem ser também que o caldo tenha engrossado mesmo para governos licitantes, o federal ou outros, no Brasil --a situação política e econômica piorou.

Em julho, por exemplo, nenhuma empresa se apresentou para disputar uma linha de metrô em São Paulo, a primeira a ser construída e operada totalmente pelo setor privado. Reclamaram ao governo paulista do risco de ter de arcar com desapropriações e reassentamentos, de preços e de incerteza sobre impostos.

No geral, as empresas que se dizem interessadas pelas rodovias a princípio reclamavam da baixa taxa de retorno dos empreendimentos --em maio, levaram reajuste.

Agora, elas ainda se queixam de prazos apertados, estudos defasados de custos e estimativas superestimadas de tráfego de veículos.

O governo federal, aflito para ver algo dar certo e insistindo talvez demais em segurar o preço das tarifas, tem feito concessões de monta aos interessados, que vão poder financiar 70% do negócio a juro real zero, por exemplo.

Mas as empresas, porém, sentindo cheiro de medo em Brasília e de fato um tanto assustadas com tantos rolos nos editais, estão bicando o governo para tirar mais algum.




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