Os bairros da periferia se movimentam
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Os bairros da periferia se movimentam


Por Altamiro Borges

A tentativa da direita de pegar carona nos protestos de rua para impor sua pauta conservadora está gerando reações em vários cantos do país. Dezenas de reuniões ocorreram nos últimos dias, agregando milhares de lutadores sociais, para definir os caminhos da resistência e a plataforma das mudanças progressistas. Aos poucos, o movimento popular se refaz do susto e mostra a sua vitalidade. Neste esforço, chamam atenção as movimentações nos bairros da periferia de São Paulo. Na sexta-feira (21), cerca de cem lideranças comunitárias e militantes de coletivos culturais se reuniram no fundão da zona sul da capital paulista.

Segundo reportagem da Rede Brasil Atual, os presentes decidiram "criar uma frente periférica antifascista e antigolpista... O encontro teve como objetivo, além da reflexão e da discussão sobre os relatos de quem esteve nos últimos atos em São Paulo, articular ações que fortaleçam o direito à livre participação democrática no país, e que conscientizem os menos politizados a respeito dos perigos que a intolerância, violência, desorganização e antipartidarismo acarretam no contexto de um Estado Democrático de Direito".

Conforme alertou um ativista do Movimento Comunitário Estrela Nova de Campo Limpo, a direita objetiva capturar a insatisfação popular. "O que eu vejo, tanto nas ruas quanto nas redes sociais, é uma reprodução das pautas não claras, estabelecidas pela mídia, como a PEC-37". Para ele, somente com as pautas próprias das periferias é que os protestos podem ganhar novamente peso político e "ir no sentido contrário ao que se vê hoje em manifestações na avenida Paulista, que apresentam pautas esparramadas".

O poeta Sérgio Vaz, coordenador da Cooperifa, destacou a importância do atual momento político. "O que me parece é que precisamos desse sangue nos olhos. Não é uma briguinha qualquer, é luta de classes. E a gente sempre escreve sobre isso, fala sobre isso. Sempre cita Zumbi, Marighella, Che Guevara, mas agora é a hora de colocar em prática tudo isso. Se não for assim, pode rasgar tudo o que você já escreveu... Até porque nós sabemos que, quando o bicho pega, sempre sobra primeiro para a periferia. E o que sobra aqui pra nós não é bala de borracha, todo mundo sabe disso”.

Débora Silva, coordenadora do Movimento Mães de Maio da Democracia Brasileira, conclamou: "De hoje em diante, precisamos da seriedade de todos. A esquerda tem que se unir, porque o rolo compressor já tá ligado e não há mais tempo pra 'blablablá', temos que agir... Não podemos deixar que uma luta legítima nossa seja roubada nas ruas e na internet. Não podemos nos deixar intimidar por meia dúzia de fascistas". A tônica do encontro é que os protestos de rua estão em disputa e que a periferia não ficará acuada diante das manobras das forças da direita - sempre amplificadas pela mídia golpista.

Neste rumo, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o grupo Periferia Ativa e o Movimento Passe Livre (MPL) convocaram para a próxima terça-feira (25), na zona sul de São Paulo, novos atos por melhoria dos serviços públicos e contra a violência policial. "Achamos que ao levar os atos para a periferia, há uma reivindicação concreta dos trabalhadores. Não é um ato com ideias conservadoras. Deixamos claro que as nossas pautas passam longe de algumas pautas conservadoras, que nós lamentamos muito”, afirmou Guilherme Boulos, da coordenação nacional do MTST, ao jornal Brasil de Fato.

"A gente entende que agora, mais do que nunca, depois que os protestos tomaram uma dimensão muito grande, é fundamental que o MPL, que tem uma articulação com esses grupos, se una a eles para continuar a debater as questões que vão além da questão da revogação do aumento. A gente conquistou a revogação. O passo seguinte é a tarifa zero", explica a militante do MPL Erica de Oliveira. Na semana passada, o grupo divulgou nota condenando a violência contra partidos políticos nas manifestações. "O MPL é um movimento social apartidário, mas não antipartidário... Desde os primeiros protestos, essas organizações tomaram parte na mobilização. Oportunismo é tentar excluí-las da luta que construímos juntos", enfatizou a nota.




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