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Os meios, os fins e Marina - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 05/10
Atrelar o próprio futuro político ao do Rede Sustentabilidade, partido pelo qual pretendia disputar a Presidência da República em 2014, é decisão difícil para Marina Silva. A negativa do Tribunal Superior Eleitoral ao pedido de registro da agremiação, por não ter sido atingido o número mínimo de assinaturas (492 mil) necessárias, deixou numa encruzilhada a filha de seringueiro que foi empregada doméstica antes de começar meteórica carreira política.
Com o legado de 20 milhões de votos alcançados na sucessão presidencial de 2010 e o segundo lugar nas pesquisas de opinião pública sobre as atuais preferências do eleitor, ela corre o risco de jogar sua trajetória num vácuo se sair de cena agora. Por seu lado, depois de condenar o sistema partidário brasileiro, terá de dar muitas explicações ao eleitor caso decida candidatar-se por outra legenda.
Não foi à toa, portanto, que Marina anunciou uma decisão para o início da tarde de ontem e a adiou duas vezes na sequência, para, já no começo da noite, avisar que somente bateria o martelo hoje. Antes, ela afirmava só ter plano A: a candidatura pela Rede. Mas cuidou de manter abertas as portas a um plano B: filiar-se e disputar a Presidência da República por outro partido. "Se não temos o registro legal, temos registro moral", tratou de sinalizar.
Caso ela faça de hoje o seu "dia do fico" (na disputa presidencial), terá de convencer os eleitores de que os fins justificam os meios e o sistema partidário que condena continua útil. Além disso, terá dificuldades para reagrupar os seguidores, que, sem a Rede, certamente serão pulverizados na sopa de letrinhas da política nacional.
Ou seja: o fico de Marina é uma questão de sobrevivência, mas, ao mesmo tempo, de outras dificuldades para ela. Um problema que a ambientalista não tem é de partido para filiar-se e entrar na disputa presidencial. Até sobram convites. Um deles veio do Partido Ecológico Nacional (PEN). Outro, do PPS, que primeiro tentou, sem sucesso, o tucano José Serra. Houve aceno também do PTB, cujo secretário-geral, Campos Machado, a descreveu como "Getúlio de saia".
Sem Marina na disputa, perde o país. Além de potencial para qualificar o debate, essa ecologista forjada no seio da floresta amazônica, no Acre, representa a terceira via, fora da polarização entre o PT da presidente Dilma Rousseff e o PSDB de Aécio Neves. A própria tentativa de renovar o sistema partidário, com a criação do Rede Sustentabilidade, partido de características inovadoras na política brasileira, já vale tema de campanha para análise do eleitorado.
Marina tem patrimônio a preservar. Alfabetizada apenas aos 16 anos, logo se formaria em história, faria especialização em teoria psicanalítica e em psicopedagogia. Na política, foi de vereadora em Rio Branco a deputada estadual do Acre e senadora da República, aos 36 anos, garantindo, na sequência, um segundo mandato. Primeiro petista, depois do Partido Verde, ela alçou voo mais alto após renunciar ao cargo de ministra do Meio Ambiente no governo Lula, função que desempenhou por mais de cinco anos, entre 2003 e 2008. Desapeou do poder insatisfeita com a sobreposição de interesses econômicos aos da preservação ambiental. Mas segue obstinada a voltar. Seja hoje, como candidata a presidente da República, seja logo adiante, na retomada da Rede.
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