OS MELHORES ROTEIROS DE TODOS OS TEMPOS, SEGUNDO OS ROTEIRISTAS
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OS MELHORES ROTEIROS DE TODOS OS TEMPOS, SEGUNDO OS ROTEIRISTAS


Então, já faz tempo que o Writer's Guild of America (espécie de sindicato dos roteiristas americanos) divulgou uma lista com os cem melhores roteiros de todos os tempos. Como um leitor pediu, vou falar um pouquinho dela. Tenha em mente que é roteiro, não o filme completo. Mesmo que várias dessas produções apareçam frequentemente da lista de melhores, vamos tentar focar no roteiro (aliás, eu adoro ler roteiro!). Num livro que li do William Goldman, roteirista oscarizado (com três menções nesta lista) de Butch Cassidy, Todos os Homens do Presidente e Louca Obsessão, ele mostra a parte do roteiro de Psicose escrita para a famosa cena do chuveiro, em que uma pobre moça é assassinada por Norman Bates. É incrível que tanta coisa que vemos nessa cena clássica esteja no roteiro de Joseph Stefano - os cortes, as mãos, o close do olho... A gente tende a achar que a inspiração vem toda de um diretor genial como o Hitchcock, e se esquece que alguém pôs as ideias num pedaço de papel antes (por sinal, Psicose ficou em 92o lugar na lista).
Vamos às primeiras dez colocações (lembrando, é claro, que praticamente inexiste qualquer roteiro que não esteja em inglês na lista):
1. Casablanca (1942) - embora eu goste muito do filme, às vezes o considero superestimado. O roteiro realmente contém alguns dos melhores diálogos da história do cinema (acho que o meu favorito é quando o personagem do Claude Rains pergunta pro Rick do Humphrey Bogart por que ele veio a Casablanca. “Eu vim por causa das águas,” ele responde. O capitão retruca: “Que águas? Estamos no meio do deserto”. E Rick: “Eu fui mal-informado”). Mas também há diálogos terríveis no mesmo filme, embaraçosos mesmo, como a mocinha falando pro seu amado, durante um bombardeio: “Isso são bombas ou é o meu coração batendo?”. E milagrosamente ninguém se lembra dessas falas. Na realidade, todos os flashbacks de Paris são fracos, na minha opinião.
2. O Poderoso Chefão (1972) - sem dúvida, um senhor roteiro, ainda mais considerando que o livro de Mario Puzo em que foi baseado não é visto como grande literatura. Era mais um bestseller que as pessoas liam na praia naquele verão de 1969 (eu nunca li). Bom, essa lista idolatra o Coppola, Woody Allen, e o Billy Wilder. Cada um tem quatro filmes citados.
3. Chinatown (1974) - adoro o filme do Polanski, mas o que o faz grande são qualidades não exatamente do roteiro, como o clima, as magníficas interpretações de Jack Nicholson, Faye Dunnaway e John Huston, a música... Claro, o roteiro de Robert Towne é impevel. Só não podemos esquecer que um ingrediente importante do seu sucesso esteja no final noir e sem esperança. Esse final foi imposto por Polanski. Towne defendia um happy end (aliás, o relacionamento entre Polanski e Towne enquanto trabalhavam no roteiro, narrado com maestria por Peter Biskind no livro Easy Riders, Raging Bulls, por si só já daria um roteiro divertido).
4. Cidadão Kane (1941) - minha ídola Pauline Kael dedicou um livro inteiro defendendo que o principal responsável por este grande filme é o roteirista Herman Mankiewicz, mais que o próprio Orson Welles. Não sei se concordo. O que mais amo do cinema de Welles (os ângulos incomuns de câmera, as sombras, a fotografia em preto e branco) não estão no roteiro. Mas lógico que a escrita é fenomenal. É uma aula de como fazer uma biografia no cinema sem ser banal. Ajuda que Welles não tenha o menor apreço por Kane, que na verdade era o então magnata da imprensa William Randolph Hearst (que não permitiu que nenhum de seus jornais mencionasse o filme).
5. A Malvada (All About Eve, 1950) - pra mim, esse filme deve ter a melhor narração em off de todos os tempos. É pura ironia do começo ao fim. Só que são principalmente as atuações estupendas que ficam na memória. E um elenco espetacular: Bette Davis, Anne Baxter, e George Sanders. Tem até a Marilyn Monroe aparecendo um pouquinho. E é para o mundo do teatro o que Rede de Intrigas é pra TV.
6. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977) - não é meu favorito do Woody Allen, mas o roteiro é inventivo, cheio de gracinhas interrompendo a narração. Por exemplo, enquanto Woody e Diane Keaton esperam numa fila de cinema, um carinha atrás deles não pára de falar. Quando Woody diz ao sujeito que ele (o sujeito) não entende nada de Marshall McLuhan (teórico que formulou os conceitos de “o meio é a mensagem” e da aldeia global), o carinha responde que dá um curso de mídia numa universidade. Woody decide então chamar o próprio McLuhan, que concorda com Woody que o professor está distorcendo tudo que ele escreveu. Woody conclui, “Se a vida fosse assim tão simples...”.
7. Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950) - um filme narrado pelo cadáver. Tá bom pra você? Também tem toda uma homenagem a uma época do cinema que não volta mais. É um grande clássico. Mas Otto Friedrich conta no ótimo A Cidade das Redes como a primeira versão do roteiro quase afundou a obra. O público-teste odiou como Billy Wilder inicialmente abria o filme: com o narrador conversando com outros cadáveres num necrotério. De fato, só ver um corpo na piscina e saber que ele é do narrador já é suficiente. A propósito, já que a lista é de roteiros, não pode faltar um diálogo deste filme. A estrela decadente conta ao roteirista que pretende fazer um filme com um diretor mitológico, sem saber que o roteiro em questão é uma bomba. Otimista, ela insiste: “Meu astrólogo leu meu horóscopo e leu o horóscopo do De Mille”. E o protagonista: “Seu astrólogo leu o roteiro?”.
8. Rede de Intrigas (Network, 1976) - pra quem quer entender como a mídia funciona, principalmente as notícias dadas pela televisão, Rede e Nos Bastidores da Notícia (em 51o lugar) formam uma dupla imbatível. O desabafo do âncora de TV em Rede, mandando seus espectadores gritarem pela janela “I'm mad as hell and I'm just...”, permanece atual até hoje. Ah, como estamos em tempos de Oscar, vale lembrar que Peter Finch (o âncora) tem a honra de ser o único a receber uma estatueta depois de morto. Será que agora Heath Ledger se iguala?
9. Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot, 1959) - acabo de descobrir que este roteiro é baseado num filme alemão! Excelentes tiradas no que é considerado um dos filmes mais engraçados de todos os tempos. Mas imagine esse roteiro sem Jack Lemmon, Tony Curtis e Marylin Monroe dando voz aos diálogos de Billy Wilder e I. A. Diamond? Difícil, né?
10. O Poderoso Chefão 2 (1974) - não entendo como o pessoal faz pra decidir qual é melhor, o Chefão 1 ou o 2. Eles tiram no par ou ímpar? Ambos são maravilhosos.
Bom, entre esses primeirões, cinco são roteiros originais (escritos diretamente pra tela), e cinco são adaptados (de outro material como livros, peças - no caso de Casablanca e A Malvada -, e até de outro filme. Não vou comentar a lista toda aqui porque o post ficaria gigantesco. Mas note que o filme mais recente a aparecer entre os primeiros é Pulp Fiction (16o lugar), que já é de 1994 (quinze anos!). O mais recente mesmo deve ser Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança (de 2004, em 24o lugar). Gostei que Harry e Sally - Feitos um para o Outro foi lembrado (em 40o). A Nora Ephron e a Callie Khourie (por Thelma & Louise, em 72o) são as únicas mulheres da lista inteira. O único negro deve ser o Spike Lee, por Faça a Coisa Certa (pra mim, numa posição que deveria vir bem antes da 93a). Numa lista minha de melhores roteiros de todos os tempos, eu não incluiria De Volta para o Futuro (56o), Tubarão (63o), Leão no Inverno (em 71o; acho esse filme com a Katherine Hepburn chato), e Rocky (78o - o sindicato acha que um dos melhores roteiros da história foi escrito pelo Stallone!). Nem Campo dos Sonhos, Forrest Gump, Patton - Rebelde ou Herói?, e Meu Ódio Será sua Herança (88o, 89o, 94o, e 99o lugar, respectivamente - simplesmente não gosto deles). E lógico que eu incluiria mais filmes do Kubrick, principalmente Laranja Mecânica, O Iluminado e Nascido para Matar. E cadê Cabaret? E vários do Almodóvar, como Tudo Sobre Minha Mãe e Fale com Ela? Mas enfim, lista é lista, é algo muito pessoal. Esta ao menos serve como um bom guia de clássicos que a gente deve ver (ou rever). Crianças, façam seu dever de casa.




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