CRÍTICA: CRASH - NO LIMITE / Forte mas nada sutil
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CRÍTICA: CRASH - NO LIMITE / Forte mas nada sutil


Tenho quase certeza que a avaliação de “Crash – No Limite” pode ser dividida em antes e depois da sua vitória surpreendente no Oscar. Agora ninguém mais quer saber se é um bom filme, mas se é o melhor filme do ano. Minha opinião? Claro que não é. Filmaço mesmo é “Ponto Final”, do Woody Allen, que só concorreu a roteiro original, e perdeu logo pra quem? Pra “Crash”. Então vou tentar esquecer as comparações e a estatueta dourada, e pensar só nesse drama do diretor estreante Paul Haggis, um canadense que escreveu o roteiro de “Menina de Ouro”.

Não olho “Crash” com extrema simpatia porque, em geral, não gosto de chorar em melodramas sabendo que estou sendo manipulada. E “Crash” é todinho manipulador. São várias histórias que se passam em Los Angeles. “Magnólia” e “Short Cuts” já fizeram isso, mas aqui o tema – racismo – é muito mais focado. Uma das primeiras tramas envolve um policial que pára o carro de um casal negro e rico e abusa sexualmente da mulher pra humilhar o marido. É uma cena horrorosa. Minha irmã, que viveu doze anos na Califórnia, diz que a cena soa totalmente falsa, porque um casal rico, independente da cor, teria dinheiro pra contratar um advogado, e o policial racista sabe disso. Bom, de qualquer jeito, essa é a história mais bárbara de “Crash”, e também a que, mais tarde, quando algoz e vítima se reencontram, me fez chorar.

Tem crítico dizendo que o filme é tão poderoso justamente por não ter algoz e vítima: todos os personagens seriam ambos, culpados e inocentes. Mas não é bem assim. O carinha tatuado que troca fechaduras, por exemplo, é a Madre Teresa de Calcutá na terra. Um santo. Adora a filhinha e não discrimina ninguém. No começo, quando ele conta a fábula da capa protetora pra menina, eu pensei cá com os meus botões: “Ish!”. Dá nos nervos uma cena longa de um sujeito falando com uma guria de cinco anos, porque é como se o filme estivesse se dirigindo a nós como espectadores de cinco anos. Mas a cena é bonita. Só que eu senti minha inteligência insultada quando a câmera dá um close num tipo de bala que havia sido usada. O diretor deve ter achado que eu tenho cinco aninhos mesmo. Se bem que, nesse enquadramento, parte do público fez “Ohhh!”. Espero que tenha sido um “oh” de indignação pelo insulto à inteligência.

Há uma tonelada de astros trabalhando de graça em “Crash”, já que o filme custou a bagatela de 7 milhões de dólares: Matt Dillon, Sandra Bullock, Don Cheadle etc. Aliás, não sei porque o pessoal diz que até a Sandra tá bem, como se ela fosse a pior atriz do mundo. Eu diria que até o Ryan Phillippe tá bem. Pois, o que sobra em talento no elenco falta em sutileza no roteiro. Só dá pra acreditar nas incríveis coincidências de “Crash” se a gente assumir que é uma parábola, não a realidade. E ainda assim seria de bom tom tirar do filme a ridícula frase “Maria, você é a minha melhor amiga!”. Daria pra aproveitar e tirar também toda a música de redenção, que cansa um monte. E por que não tirar todas as armas de circulação do mundo? Afinal, se um racista é perigoso, um racista armado é muito mais.

“Crash” não é ruim, não mesmo, mas por mim o Oscar iria pra “Ponto Final” fácil, fácil.





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