Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Na noite desta quarta-feira (20), a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Cosette Castro e o assessor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) Diogo Moisés protagonizaram debate sobre os avanços do campo público na TV digital. O evento aconteceu em São Paulo, como parte do Ciclo de Debates Panorama da Comunicação e Telecomunicações, promovido pelo Ipea, Socicom e Barão de Itararé. A mediação foi de Fernanda Carneiro, jornalista do Ipea.
Cosette Castro apresentou um amplo panorama da TV digital no Brasil, abrangendo aspectos mercadológicos, políticos e acadêmicos. Segundo a pesquisadora, o projeto de TV digital no Brasil é isolado e desconexo em relação a outras áreas, o que fragiliza a proposta. A campanha em torno da TV digital, segundo ela, também é ineficiente. “O Fórum Brasileiro de TV Digital e o governo parecem empurrar um para o outro a missão de construir uma campanha sólida”, afirma.
De acordo com ela, a campanha brasileira é veiculada em horários ruins, geralmente depois das 22h, com pouca frequência e em poucos veículos. Como exemplo, Castro cita o caso da Argentina: “Há uma ampla e atraente campanha, chamada Televisión Digital Abierta, com histórias animadas e musicadas, compreensíveis e informativas”. Ela chama a atenção para o fato de que a ideia de TV digital no Brasil não releva seu caráter de serviço público, limitando a inovação apenas à questões técnicas, como melhorias de imagem e som.
A pesquisadora definiu conteúdos e aplicativos digitais como “programas de software para computadores, celulares, videojogos, revistas digitais, televisão e convergência tecnológica em geral”. Ela ressaltou que os conteúdos podem ser desenvolvidos tanto em código aberto – como o Ginga –, como em código fechado. Os aplicativos têm capacidade de melhorar a qualidade de vida, afirma. “Uma pessoa que depende do INSS pode marcar consulta sem sair de casa, por exemplo”.
Segundo Castro, os projetos de desenvolvimento de conteúdos, serviços e aplicativos digitais não passam de protótipos e a indústria de conteúdos digitais ainda não saiu do plano teórico, sendo que o país foi responsável pela criação do Ginga. “Desde 2003, o país investiu 150 milhões na área de tecnologia digital, mas apenas 0,1% foram, de fato, empregados. O investimento em conteúdos digitais gera PIB, favorece o mercado de trabalho, aumenta a oferta e procura de conteúdos, além de estimular a cultura nacional”, afirma.
Dentre outros fatores apontados por ela em sua pesquisa, receberam destaque o atraso da legislação em comunicação, especialmente a eletrônica; a necessidade de revitalização da TV pública e a constante descontinuidade dos projetos relacionados à TV digital e ao setor. “A falta de continuidade nos projetos impede o desenvolvimento de políticas públicas sólidas na área, o que afeta, também, os investimentos no setor”.
Os desafios da TV pública
Diogo Moisés explicou as dificuldades da comunicação pública no Brasil a partir do exemplo da EBC, criada em 2007. “O sistema público de comunicação no país ainda é uma intenção. Até o momento, tivemos apenas pílulas dele”, afirma. Em sua avaliação, a EBC ainda está na “primeira infância”, tendo enfrentado muitas dificuldades desde seu nascimento, já que assumiu passivos da Radiobrás.
Segundo Moisés, a defasagem nos campos da comunicação pública e da TV digital está intimamente relacionada. “É um processo político complexo, que passa pela arquitetura regulatória, recursos financeiros e formação”, opina. Em sua visão, o governo precisa organizar o setor e planejar investimentos, construindo políticas públicas de longo prazo. “A grande lição até agora é que os investimentos e projetos não podem ser descontinuados”.
Ainda em relação à EBC, Moisés ressaltou que a instituição está sendo construída em pleno período de transformação da comunicação. Mesmo com o disparate entre os recursos financeiros de uma TV pública e de veículos comerciais, ele acredita que os produtos têm de ser pensados de forma “transmidiática”. “Teremos um portal para agregar produção colaborativa, multimídia e multiplataforma”, afirma, acrescentando que “multiplataforma não é apenas pegar um produto de TV e colocar em umhotsite, mas pensar novas dinâmicas de interatividade e participação”, afirma.
Formação e capacitação
Tanto Moisés quanto Castro avaliam que o campo do ensino é fundamental para o desenvolvimento das áreas de TV digital e TV pública. Segundo os debatedores, há uma carência aguda em recursos humanos e formação na área. “Faltam iniciativas e recursos para capacitação e atualização profissional e acadêmica na área”, afirma Castro. Os dois defenderam o projeto da Escola Nacional de Comunicação Pública, que ofereceria uma formação distinta do ensino mercadológico predominante nas instituições de ensino do país.
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