Foi um Oscar chato, pra variar. Mas pelo menos foi mais curto e só houve três números musicais (um pior que o outro). Quem só viu pela TV aberta foi brindado com a arrogância da Globo, que achou melhor transmitir Big Brother do que uma festa assistida por um bilhão de pessoas que ocorre apenas uma vez por ano. Assim, perdemos as seis primeiras premiações e todas as piadas da abertura.
Foi também um Oscar bastante previsível e, principalmente, pulverizado, como há muito não se via. Quatro filmes ganharam três estatuetas cada: “Crash – No Limite”, “O Segredo de Brokeback Mountain”, “Memórias de uma Gueixa” e “King Kong”. Esses dois últimos receberam estatuetas técnicas, mas importantes. “Munique” e “Boa Noite, e Boa Sorte” não levaram nadinha. Os Oscars para Philip Seymour Hoffman, por “Capote”, e para Reese Witherspoon, por “Johnny e June”, eram esperadíssimos. Não houve surpresa, nem pra Reese, que agradeceu toda a sua árvore genealógica. O Philip ao menos ficou emocionado e nervoso. Pra atriz coadjuvante deu a lógica, a Rachel Weisz, por “O Jardineiro Fiel”, a única unanimidade do meu bolão. A escolha do George Clooney como ator coadjuvante por “Syriana” já deve ter sido bem mais difícil, já que o Paul Giamatti dividia os votos. Mas foi uma forma de premiar o bonitão mais político da noite.
Eu senti que “Paradise Now” não levaria melhor filme estrangeiro quando o José Wilker, comentarista da Globo, disse que “lógico que iria ganhar”. Não acho que foi propriamente uma surpresa a vitória do sul-africano “Tsotsi”. Pense bem: um drama com uma criança contra um drama sobre homem-bomba, feito na Palestina. O tema de “Paradise” acabou sendo polêmico demais pros velhinhos judeus da Academia.
Surpresa mesmo só na última categoria da noite, a de melhor filme. Todo mundo esperando a consagração de “Brokeback Mountain”, e o Jack Nicholson abre o envelope e dá “Crash”. Mas não diria que foi uma zebra. O que provavelmente aconteceu é que “Mountain” foi pintado como favorito há meses, e o pessoal não agüentava mais ouvir falar. Fora as piadinhas e sátiras de que foi alvo. E também, os votantes certamente adoraram “Crash”, ou senão não o teriam indicado pra seis categorias. Lembre-se que o filme foi ignorado pelo Globo de Ouro. No final, no Oscar, não houve a aguardada celebração gay. Pelo contrário, os três Oscars dados a um melodrama tão anos 40 como “Gueixa” mostram como o conservadorismo segue reinando forte na Academia.